MAIS UM

e mais outros desenhos no bloco. folha branca, riscos a lápis meio sem precisão, sem foco mesmo. desenhos incompletos, sem decisão, sem saber para que lado olhar.

tive sonhos com um sarau de poemas: eu escolhi ao acaso um de Ana Cristina César, que eu conheço pouco, de quem li umas coisas meio recentemente. escolho um que tem algo como “eu me lembro que não me lembro mais do que eu me lembro”… nem sei se isso dela existe. mas no fim das contas o sarau acaba e eu não li o poema. fico meio triste.
depois fico conversando com alguém que não sei quem é sobre “antes do amanhecer” e “antes do pôr-do-sol”, os filmes.

FILME ATRASADO

era a grande questão de um sonho de segunda pra terça. Fazia já uns dois anos e oito meses que eu tinha alugado um filme na locadora.

A 25a hora, de Spike Lee.
Fui na locadora, que ficava numa daquelas lojas no térreo de prédios como os da avenida Angélica, aqueles prédios antigos, como os do Artacho Jurado. As atendentes não demonstraram nenhuma surpresa em me dizer que a locadora não liga cobrando filmes atrasados, deixam o sócio tranquilo com o filme em casa! Deu uma nota pagar o aluguel do filme.
Mas a grande questão é que de repente o filme se transforma em Matrix Reloaded. Aí eu desencanei, vi que era um sonho e ele virou outra coisa.

Mas há outra grande questão: o 25e hora, nem sei se é esse o filme com o Edward Norton, eu vi no cinema. Filme longo, e os filmes do Spike Lee são longos, é pra se ver no cinema e não em casa. Não me lembro de nada do filme. Ele só voltou à memória porque revirei o fim de semana hds e cds de backup antigos. Esse pôster estava no meio das mensagens porque quando vi o filme falei sobre ele, mas o mistério é que eu não sei o que disse sobre ele.

MOQUECA COM MOLHO SHOYU

pode ser uma maneira de sintetizar rapidamente o gosto do filme “Besouro”. Fui ver hoje de tarde e fiquei surpresa. Pouco sabia, talvez somente que se lutava capoeira como em “O tigre e o dragão”. Ok, ok: eles voam. Mas não só.

Da história não é possível que se pedir maior “fidelidade” ou “autenticidade” na construção que faz do imaginário da cultura negra – o fato de um filme desse existir já é um mérito em si. Achei as imagens bonitas, tudo visualmente muito bem dosado, o roteiro não é bobinho, a trilha comandada por Gil e Nação Zumbi… No mais, os personagens se assemelham ao exu – tentam fugir (mas não conseguem sempre) ao dualismo bom-mal, e voam quando é preciso voar. Adorei.

Além de tudo, o filme me lembrou o sonho que eu tive de um filme que contava uma rebelião de escravos – bem a ver.

CÍRCULOS CONCÊNTRICOS

foi com essa imagem na cabeça que eu fui pra cama ontem dormir.

Ela surgiu encostando no travessseiro, e mais mil outras que eu não vou saber dizer. Surgiu como imagem para eu conseguir falar ao mesmo tempo do gênero autobiográfico, do livro Bardadrac, do Genette (tema da aula), da minha pesquisa e do trabalho dos alunos. Mas pensando agora, não é exatamente de um mesmo centro que esses círculos podem partir. Ainda pode ser que vale a pena, mas fico me perguntando agora se a imagem de uma corda não seria a que mais caberia ao que eu tento mostrar na aula, na minha pesquisa. Se não é a minha maneira de ver as coisas, unidas por semelhanças que se interrelacionam mas não necessariamente percorrem todo o caminho.

Voltando aos meus pensamentos na hora de dormir, eu só lembro que eu disse a mim mesma, “é muita coisa que você está pensando, não seria melhor você se dedicar agora para dormir bem e acordar bem disposta amanhã?”

Devo ter tido sonhos com temas outros que a minha aula, que eu vou dar hoje para a disciplina de que sou monitora. Mas tudo se foi embora. Antes disso, tive a atitude de levantar da cama, pegar o celular que despertou no horário correto (bem cedinho, porque dou uma aula particular antes da aula da graduação, às 7h30), desligar o modo despertar e deixá-lo do meu lado na cama.

Como se eu quisesse também colocá-lo para dormir, que ele parasse de tocar e assim de me fazer esquecer de algumas coisas.

PARECE MESMO

que a minha memória é muito fraca.

Conversando com o Luís no telefone, ele começa a falar do começo do namoro. De alguns emails que a gente se escrevia, de coisas que eu tinha escrito. Não lembraria nada disso sozinha, se não fosse ele insistir e sair procurando esses emails, que não devem mais estar comigo, mas perdidos em algum hd que eu não uso mais, assim como alguns trabalhos da faculdade, da mesma época do começo do namoro, em 2003.

desenho_rapido

Ele me mandou esse desenho que eu fiz. Era uns dos que eu fazia naquele tempo. Parece um clima meio Retalhos, que o Luís também terminou de ler dias atrás.

Alguns dos sonhos de hoje:

* O Gustavo não se chamava Gustavo. O nome verdadeiro, dos documentos, era Gott. O pai dele queria dar um nome bem alemão. No sonho não vimos isso, mas ao acordar fui atrás da palavra Gott e vi que signitica Deus em alemão.

* O ortodontista tinha mudado de método e de consultório. Ele tirava as borrachas do meu aparelho muito rapidamente, como se fosse um acrobata ou como um vampiro — haha será coisa que veio de eu ter assistido Crepúsculo ontem na tevê?

* Uns alunos largaram na sala de aula uns livros, me senti responsável em devolvê-los à biblioteca de onde eles tinham tirado. Ficava num centro cultural criacionista, o nome terminava em ista e tinha algo de religioso. Fica criacionista. Como várias ordens religiosas de diversas origens, essa ficava na Liberdade. Era um imenso ex-hospital, com alas numeradas, tipo 2SB-11H, a gente tinha que andar por alas enormes, onde ficavam aparelhos de tevê, lanchonetes, espaços para aulas, a biblioteca era grande e tinha livros que estavam fora de ordem. Tinha algumas histórias em quadrinhos do Astérix. Por Tutatis !

FOMOS VIAJAR

para São Petersburgo, minha vó, minha mãe, minha irmã e eu.

Destino insólito para elas. Pegamos um trem para chegar na cidade. Antes, como fomos parar lá, ou por que, não sei. A paisagem quebrava minhas expectativas, achava que tudo seria muito plano, mas as montanhas eram muitas. Eu via coisas que elas não viam, muitas casinhas que se acumulavam, coloridíssimas, nas montanhas.

Algo como os morros cariocas, mas com um toque de Michel Gondry (ontem vi A natureza quase humana, com certeza é por isso).

nada novo ou difícil de perceber: as semelhanças visuais de Human behaviour e Human nature

Descemos do trem e podíamos ver melhor essas montanhas que se estendiam à nossa frente, em toda parte. As casinhas eram como caixas de fósforo.

Passeamos, deu fome justo quando a gente avistou do outro lado do rio o museu Hermitage. Mas não era o Hermitage, era uma mistura da ópera de Sidney com o museu d’Orsay de Paris – ou o Grand Palais…

Mas antes de entrar no museu a gente precisava comer. E aí veio a questão de não saber falar russo. Eu pensei: vou ter que servir de intérprete para todas elas! Minha mãe disse que ia tentar falar português. Chegamos num mini-mercado e não é que lá as pessoas falavam português? Uma moça que colocava os preços só não queria dar na cara que era brasileira que tinha emigrado para a Rússia.

OS SCANNERS

têm a personalidade mais delicada que a das impressoras.
Pouco tempo tenho um. Quis até que ele fosse independente da impressora, que não fizesse parte de uma multifuncional. Que ficasse com sua finura de catálogo logo acima. Mas ele me magoa.
Não liga, não vejo luzinha sob o vidro.

filaelefs_2

O scanner não liga.
Ele está ligado à tomada?
Vejo que não. Vou e conecto a tomada. Desligo e ligo tudo, plugues que ligam ao aparelho, ao adaptador, que vai conectado no estabilizador, que se liga numa extensão e a um benjamin para chegar à tomada. Tenho medo, quando pequena eu tomava muito choque.

Mudo de tomada, preciso ainda de um benjamin rosa, meio fraquinho.
Nessa mesma tomada eu ligo o circulador de ar – durmo com edredom e circulador de ar – e o circulador de ar demora para começar a funcionar. Tenho que pôr e tirar várias vezes a tomada sempre está escuro, tenho que iluminar a tomada com a luz do celular.

Mil variáveis, um mesmo resultado me chateia: o scanner não está ligando.

COM SONO, SEM PALAVRAS

e decidida de que ler na cama, antes de dormir, é algo difícil para mim. Difícil porque eu não consigo parar de ler até chegar ao fim do livro!

Foi o caso de Retalhos, de Craig Thompson, que eu peguei ontem para ler. Pensei, umas 20 páginas e eu durmo. Que nada! Não consegui parar de ler até o final. E imagine, são 582 páginas. Só depois das três da manhã eu consegui desligar a luminária e começar a dormir. Dos meus sonhos desta noite não lembro nada, talvez ainda na cabeça resquícios da história de Craig, que tão melodiosamente reúne traumas, tristezas, religião, desenhos queimados e um amor perdido. Lindo!

Impossível não pensar em outros quadrinhos autobiográficos excelentes como L’ascension du Haut Mal, Fun home ou Persépolis, que também abrem mão de uma profusão cores em nome do preto e branco – exceção leve a Fun home, que tem uma atmosfera azul claro.
O traço é trabalhado de maneiras muito simples, deixando ver às vezes o movimento da pena, o encadeamento das memórias de diversos momentos da infância e da adolescência faz mergulhar num universo muito próprio, repleto de medos e angústias, mas também muito típico – ao menos para mim… Um universo no qual muitas vezes não se sabe que fronteira há entre os sonhos e as memórias.