CHEGOU UM DIA

de arrumar tudo: então abrimos os armários, separamos livros, trocamos de lugar algumas coisas na casa. Na bagunça, os vinis iam sozinhos para o toca-discos, a música começava – um susto! Tudo bem, os discos de vinil são assim mesmo, sabem tocar sozinhos. Fui lavar as mãos e a torneira era ao mesmo tempo uma cafeteira e uma máquina de costura. Só era preciso ter cuidado para não levar uma agulhada.

Bem que essa poderia ser a casa de Zazie, pensei eu.
Ou o apartamento de “Vinil verde“.

DOS DISCOS DAS MANHÃS

de sábado e domingo, alto na vitrola, esse ocupa um lugar central. Era daqueles que agradava tanto meu pai, como minha avó. E a mim, essa capa preta, o traço branco, o olhar tranquilo e ao mesmo tempo inquieto, sentada na cadeira de vime que poderia estar no nosso quintal. Devia saber que era uma cantora já morta, meio mito. As cordas (e ela não tinha anos antes manifestado contra a guitarra elétrica? – me pergunto agora) pareciam levar a cantora para o espaço, num céu sem estrelas, como a capa preta do disco, em meio às manhãs de sol dos finais de semana  – cantando “sou caipira pirapora” com o sino do trem saindo do túnel.