EU QUERIA SABER

— esse é um rascunho de post, de quatro anos atrás, que encontrei há pouco tempo. A foto é de um caderno, daqueles que eu usava como diário, naquele época. Eu desenhava, copiava trechos de livro, traçava planos, contava pequenos causos.

O que escrevi tem tudo a ver com coisas que eu penso desde pequena. Com uns nove anos de idade, comecei a ter agendas e diários. Num deles, de brincadeira, escrevia pequenas mensagens para o futuro. Por exemplo: era fevereiro; eu abria uma página em setembro e escrevia algo curto. Pensava em fazer um teste comigo mesma — será que daqui alguns meses vou me lembrar desse momento aqui presente?

Anos e anos depois, fazendo o mestrado, fui atrás do diário de Helena Morley. Já tinha assistido ao filme, e gostado muito. Num trecho ela fala em “histórias do tempo antigo para o futuro“. Essa expressão me marcou demais. Porque é isso mais ou menos que me dá prazer em criar: pequenas histórias, como garrafas que se lança no mar, para se ler num tempo posterior.

O eu do passado diz muitas coisas ao eu de hoje. Só não sei que carta é essa que não chegou. Pensando bem, talvez ela já tenha chegado, essa carta que eu estava esperando.

O SEGUNDO TRIMESTRE DE GESTAÇÃO

é conhecido como a “lua-de-mel”. No meu caso, foi assim. Depois de passado o período inicial de muito cansaço e enjoo, tudo se renovou! Tinha energia para pesquisar, ler muito, caminhar. A barriga demorou pra crescer, foi aparecendo aos poucos. Precisei novamente comprar sutiãs e umas poucas peças de roupa.

A seção de gestantes das lojas tem quase sempre umas roupas que eu não via muita graça. Adaptei: comprei umas saias e camisetas de tamanho maior, do vestuário normal. De gestante mesmo só duas leggings e uma calça. Nada mais. Foi o suficiente. Boa parte das minhas camisetas e vestidos me serviam, mesmo que mais curtas por conta da barriga.

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Algumas das atividades desse trimestre:

– comecei a colcha de crochê; fazia ouvindo música, acompanhando o noticiário, conversando

– o diário de gravidez

– as aulas de ioga para gestantes, super importantes pra relaxar e descobrir posturas para o parto

– leituras como aquelas que eu indico nesse post

– escrevi uma resenha e enviei dois artigos pra revistas acadêmicas

– viagens, sozinha, com os amigos e com a família; a última eu fiz no limiar dos sete meses, de avião; correu tudo bem, valeu a pena!

Cada gestante vive essa experiência a seu modo. No meu caso, sentia-me feliz em derrubar o clichê de mulher grávida como frágil, doente. Gostei muito de viver esse momento de transição fazendo tantas coisas variadas. Mas passado esse trimestre, voltei à tranquilidade, nos meses finais da gestação. Sobre isso, falo em breve!

DIA 20 DE MARÇO

é um daqueles dias que eu gosto, porque é equinócio, mudança de estação (chega o outono no hemisfério sul, primavera no norte).

Ano passado, foi o dia que escolhi para começar meu diário de gravidez. Já tinha mais de três meses de gestação, estava enrolando um pouquinho para dar partida no diário. Aí veio a calhar o 20 de março.

Comprei um caderno de capa dura, médio, umas 150 páginas, brancas, sem pauta. Não há desenho na capa, que eu planejava decorar com recortes.

Há pessoas que fazem diários com folhas soltas, fichários, calendários ou agendas. Eu sempre fui fã de cadernos, mas já usei agenda como diário também. Tem um calendário pendurado na cozinha que serve de micro-diário, onde anotamos coisas rápidas do dia-a-dia. Aliás, sou uma “diarista” desde pequena; comecei meu primeiro diário aos 9 anos. No mestrado, acabei estudando um pouco sobre diários, mesmo que esse não tenha sido o tema central da pesquisa. Um dos artigos mais lindos que escrevi trata do diário de Helena Morley.

Voltando ao diário de gravidez, decidi pelo seguinte formato: escrevi nas páginas da direita. Na esquerda, colei fotos com a evolução da barriga, entradas de cinema ou concertos que fomos assistir, bilhetes de viagens, capas dos CDs que ouvíamos… até fotos das manifestações de junho entraram. Assim, o diário é metade escrito, metade ilustrado. A cada dia escrevia com uma cor diferente: azul, verde, laranja, marrom… como amo escrever à mão!

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Pode-se escrever um diário para si ou, como nesse caso, para uma outra pessoa. O diário que fiz é para o Francisco ler no futuro. Penso em presentear-lho quando fizer 14 anos. Até lá, fica guardado.

Parei de escrever um dia antes que ele nascesse! Desde então, está em repouso. Ainda penso em continuar, sobraram páginas em branco em quantidade para ir narrando seus primeiros anos conosco. Uma ideia é incorporar meus posts do blog: imprimir e colar; as fotos do instagram também. Quem sabe…

ERA PRA SER

um diário de viagem; anotações do que ia, um dia depois do outro, acontecendo. Para isso ele teria que ser feito a qualquer momento, tirado da bolsa tão logo se passasse algo digno de nota: um chiste, uma nova palavra, uma placa de um lugar já conhecido que se reconhece, depois de anos. Um caderninho de capa bonita, floral. Que chamasse a atenção de quem está ao lado: – nossa, que bonito! deixa ver? – não.

Um diário que fala de todos mas que ninguém sabe o que diz.

Mas foi um caderninho – como outros que tenho, de folhas que se soltam – que me acompanhou mais enquanto estava sozinha. Para eu não dormir sem cuidados.