SER (MAIS) FEMININA

é o assunto desse post, escrito um ano atrás. Lembro bem que publiquei no mesmo dia em que a Dilma foi reeleita — e por conseguinte choveram comentários maldosos a respeito de sua aparência, como se isso bastasse como crítica para seu trabalho no governo do país. Mas essa seria uma outra história…

A pessoa que me disse a tal frase nem se deve mais recordar da conversa. E eu aqui ainda pensando sobre o assunto. O tempo passa e, de alguma forma, vou pouco a pouco dando mais razão a ela. Sim, me faltava algo ali, mais de cinco anos atrás, que ela queria me mostrar. Não seriam dicas de beleza, como mandamentos — até porque tenho ido atrás de cosméticos naturais. Mas me faltava perceber algo em mim, algo que até hoje está pouco nítido. Algo que fuja tanto às regras ou mandamentos como esses acima (hidrate sua pele, seja gentil, etc. etc.) como também à nossa própria vontade de se afastar do feminino.

Vou tentando rever minhas experiências e escolhas, os jeitos e reações do corpo, suas forças e fraquezas… como o caso das unhas — por que não ver como elas ficam pelo menos um pouco compridas? Que efeito causa?

Talvez esse post esteja pouco claro. Vou terminar com uma foto que tirei esses dias. É um flyer de uma casa de shows. A mensagem, de toda forma, me chamou a atenção. Para mim, tem tudo a ver com o tema deste post — é preciso tempo.

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Traduzido do inglês –grandes coisas demandam tempo.

NÃO USAR DESODORANTE

parece algo impensável — como assim? Controlar a transpiração e o odor de suor seriam coisas imprescindíveis para a vida em sociedade. A higiene é prioritária: tomar banho, lavar os cabelos, estar limpo. É engraçado como nossa cultura brasileira ressalta muito bem isso. E mesmo o confronto com os hábitos europeus dá o que falar. Convivendo com alguns franceses, dentre as amizades ou no ambiente de trabalho, sempre rolavam alguns comentários e risadinhas por conta do mau cheiro dos estrangeiros que não se lavavam.

Pois é, estou tocando numa questão cultural bem vasta… que na verdade não é o tema principal aqui. Meu ponto é falar do que vivi, no meu corpo. Faz uns anos, eu comecei a transpirar com mau cheiro, mesmo usando desodorante. As roupas pegavam o cheiro. Era incômodo, estranho. Perguntei ao homeopata. Surgiu a ideia de deixar de lado o desodorante. Provavelmente minha pele já estava saturada desses produtos químicos, precisando liberar as toxinas, limpar-se. E o desodorante dificultava esse processo. Comecei a ler na internet todo o perigo dos desodorantes para o sistema linfático, inclusive a relação entre eles e o câncer de mama. Como paramos tão pouco para pensar nesse assunto?

Uma professora velhinha me disse que na sua juventude não existia desodorante, nem toda essa enorme variedade de cosméticos. Minha avó também nunca se depilou. Num curto espaço de tempo, de uma geração pra outra, nossas prateleiras se encheram desses potinhos, bisnagas e sprays… e se tornaram praticamente um dever.

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Meu marido é uma exceção na sua família, nunca quis usar desodorante ou perfume. Ele tem um trabalho braçal. Transpira. Mas, surpresa, não cheira mal como uma pessoa que usa desodorante normalmente mas esqueceu de passar um dia.

Tudo isso foi se juntando na minha mente. Ao mesmo tempo, comecei a ler várias outras experiências de gente que pretende abandonar os cosméticos industriais, optando por alternativas naturais.

É claro que passei por situações engraçadas. As pessoas próximas foram percebendo minha mudança de cheiro. Mas é um assunto delicado de abordar… então já ouvi que me “tornei europeia”, coisas do tipo. Entendo. Eu mesma tinha dificuldade de contar o que acontecia comigo. Tentava vários desodorantes mas minha pele recusava com um odor indisfarçável.

Até que encontrei uma singela solução que está sendo uma maravilha — sumo de limão. Espremo uma metade de limão e passo nas axilas, com a ponta dos dedos. Simples assim. Limão é forte, por isso não é bom usar quando se vai expor a axila ao sol, bem como os dias de depilação. Funciona que é uma beleza.

O que sobra do suquinho de limão eu bebo com água morna e sal do himalaia, em jejum, ao acordar.

Tem gente que usa outros produtos, como bicarbonato de sódio, leite de magnésia ou óleo de coco. Cada corpo tem a sua resposta, é preciso ir testando e observando os efeitos.

Fui atrás de desodorante sem alumínio, comprei um da weleda; é bonzinho, mas não tão eficaz e levinho quanto o limão. De toda forma, aqui tem umas dicas. E aqui mais outras.

Enfim, o limão entrou para minha lista de cosméticos e produtos de limpeza, assim como o óleo de coco, o vinagre branco e a cúrcuma, como eu já contei. Em seguida, quem sabe, encontrarei um substituto para o shampoo… veremos!

AS UNHAS DAS MÃOS

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normalmente são assim, cortadas bastante rente. Durante muito tempo, considerava que tinha unhas fracas. Elas não cresciam o bastante. Quando estavam já um pouco longas, quebravam. Eram muito finas, assim como as cutículas. Por isso, sempre nutri aversão por manicures. Com uns quinze anos, fiz mãos e pés num salão de beleza. Saí de lá com os dedos doendo, por conta das cutículas retiradas. Em alguns dedos saía um pouco de sangue.

Mesmo sem ir a manicure, tive fases em que pintava as unhas, em casa, sozinha, poucas vezes com ajuda de mais alguém. O ex uma vez pintou umas bolinhas vermelhas. Ainda assim, elas continuavam curtinhas e mexia o mínimo nas cutículas. Dá pra ver um exemplo da minha unha esmaltada segurando um pedaço de pão — uma das últimas vezes que pintei a unha, com esmalte opaco.

Ano passado, uma das unhas ficou bem fraca. Talvez fosse sinal de falta de vitaminas, devido a gravidez e a amamentação. Fui ao médico — ele viu que estava com vitamina D, B12 e ferro baixos. Melhorou muito agora.

Então venho tentando deixar as unhas longas. Só que elas chegam num comprimento que me incomodam. Eu me arranho sem querer. Aí só me resta cortá-las, como hoje, nessa foto. E esperar, daqui algumas semanas, para ver se aceito melhor minhas garras mais longas.

UM RELATO SOBRE ALIMENTAÇÃO

ficou na pasta dos rascunhos durante uns seis meses; eu pensava em enviar para um outro blog, sobre alimentação para crianças, mas acabei decidindo por publicar aqui mesmo, já que venho falando sobre o assunto em vários outros posts (como esse aqui) — por isso, aí vai.

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não tenho na memória muitos momentos sobre ter sido ostensivamente forçada a comer. ainda assim, lembro que na pré-escola, na hora do almoço, me enfiaram goela abaixo uma mistura de arroz, feijão e ovo frito. eu chorava muito. sempre chorei bastante no prezinho, porque queria ficar em casa brincando com minha irmã e meu irmão, mais novos do que eu. filha mais velha, eu precisava ir logo para a escolinha, não podia ter colo e era grande demais para entrar no carrossel.
 
quando meu irmão nasceu, eu já tinha três anos e largado a fralda. mas quis fralda de novo, para ser igual a ele.
 
fazendo essa relação, também me recusava a comer como gente grande. meus primos comiam de tudo, eram até gordinhos. um exemplo para mim! mas eu era magrinha e ficava sempre doente.
 
uma coisa eu gostava de comer: doces! uma vez um tio me deu um saco cheio de balas, pirulitos, chicletes de todo tipo. comi tudo numa tarde só. tive diarréia, vomitei, passei muito mal.
 
já grandinha, minha diversão era sair da escola e passar na loja de doces, que vendia balas por quilo. escolhia com carinho as balas, pensava num roteiro: começo com a bala de banana, depois a bala de hortelã, em seguida a bala de morango, etc. etc. caminhava até em casa durante uma meia hora, com o saquinho de papel na mão. quantos gramas de bala eu teria chupado? 100, 200? por quantos dias eu segui esse ritual, dentre tantos outros rituais com a comida que criava na minha rotina?
 
outra coisa que eu comia sem dificuldade era gema de ovo frito. somente a gema! a clara me dava nojo. aí me mostraram a gemada. gema crua, muito açúcar. eita! depois que eu criei gosto pela coisa, me disseram que poderia colocar nescau junto. leite também fica gostoso. enfim, pouco tempo depois lá estava eu comendo massa de bolo cru.
 
doentinha e magra, minha mãe se preocupava comigo. descobriram uma receita milagrosa para dar apetite: biotônico fontoura com ovo de pata e leite condensado. uma colherada cheia logo pela manhã.
 
meu apetite virou uma coisa monstruosa. eu brigava e gritava com meus pais se eles não me dessem quatro esfihas de queijo. quatro esfihas, nem mais nem menos! no café da manhã eu comia dois pães franceses. recheava o pão com biscoito maria e geleia de morango.
 
de magrinha, tornei-me uma pré-adolescente obesa. tive que começar a usar roupas de adulto, porque os tamanhos infantis eram pequenos demais para mim.
 
eu sabia que era gordinha, mas compensava minhas energias no estudo. era uma aluna exemplar, 10 em todas as matérias. fui a melhor aluna da quinta série, premiada e tudo. adorava ir a concerto de música clássica, frequentava várias bibliotecas, assistia os documentários da tevê cultura.
 
mas também era uma menina muito agressiva em casa, com a família. gritava muito, quebrava coisas, chorava. ficava doente com muita facilidade: sinusite, conjuntivite, hepatite, escarlatina, rinite alérgica… também tive diversas distensões e luxações nos dedos das mãos.
 
para encurtar a história, estou até hoje revendo e reaprendendo a comer. minha família agiu da maneira que pôde, preocupada com a minha saúde, dando conta de todos os conflitos ao redor. mas ainda sou uma pessoa com imunidade fraca e digestão difícil. a idade vai pesando e os efeitos vão ficando mais aparentes. fui aprendendo meio na marra que preciso, com meu esforço, abandonar os doces que tanto fizeram parte da minha vida.
 
evito ao máximo açúcar e farinha de trigo. dificilmente consigo me controlar se há um pedaço de chocolate por perto. por isso, guloseimas pouco entram em casa.
 
tenho um filho pequeno. busco dar a melhor alimentação a ele. todo dia vou atrás de informações novas, receitas saudáveis, alternativas naturais. e espero permitir a ele uma relação mais leve com a comida.

MEDO DE INSETOS

seja de abelhas, pernilongos, baratas — nós, pessoas, seres humanos, grandes e desenvolvidos, sentimos a ameaça desses animais tão pequenos, mas complexos e cheios de poderes que não temos: voam, sobem paredes, carregam muito peso, trabalham organizadamente em grupo. Eles nos picam, nos machucam, sugam o sangue, incomodam o sono, destroem plantas.

Esses dias tive um sonho, como vários outros sonhos que já tive com insetos (como esse e esse por exemplo) e o tema me voltou à mente. Nos dias quentes, há muitas abelhas e vespas nos passeios que faço com o Francisco. Algumas noites aparecem baratas e pernilongos para nos chamar a atenção: ei, não estamos sozinhos aqui, não comandamos e controlamos tudo.

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Durante a primeira consulta no homeopata, já faz quase 10 anos, ele perguntou: “do que você tem medo?” Uma das respostas certeiras foi: abelha. Quando pequena, acontecia de eu ter muito pavor delas: tinha um copo de refrigerante à mão, saía correndo, jogava o copo para qualquer lado, os olhos cheios de lágrimas — tudo isso porque uma abelha me cercava, atraída pelo doce da bebida que eu segurava. Levei uma ferroada anos e anos depois, em outra situação muito diferente, já longe dos refrigerantes.

Estou tentando encarar o fato, até porque, agora mãe, a gente precisa por um lado proteger e por outro dar exemplo. Não quero esconder meus medos, mas preciso também não ceder a eles. Entendê-los, resolver o que eles significam. Ainda assim, dou um grito frente a barata. Me esquivo quando sinto abelha por perto. Ligo o ventilador no quarto para espantar os pernilongos. Mas também percebo que estou mais tolerante com os insetos. Não os mato mais como antes. Isso veio com o marido, que prefere pegar os bichinhos e soltá-los fora de casa do que dar uma chinelada. Deixo algumas teias de aranha na janela de casa. Até vou observando o desenho que muda, se não me engano, de acordo com o tempo, se chove, se faz calor (coisas do Manual do escoteiro mirim).

Num dos sonhos que tive, percebi que de nada vale matar um inseto, porque eles são inúmeros: um deles equivale a todos os outros, foi o raciocínio que me veio. E, na verdade, eles são como nós, seres frágeis e fortes, aqui nesse mundo, levando sua efêmera vida, cheia de percalços, delícias e encontros. Abro os olhos para entender o que eles nos dizem.

O POTINHO DE CÚRCUMA

já está no armário do banheiro faz um ano. Comprei depois de ler um texto da Sonia Hirsch, comentando sobre os benefícios para a limpeza dos dentes. Vez ou outra uso. Sinceramente, não consegui que se tornasse um hábito. É realmente difícil mudar um costume tão forte quanto a escovação com pasta de dente. Assim como a cúrcuma, a técnica do oil pulling me chamou a atenção, mas até hoje não entrou na minha rotina. Regularmente, tomo uma colherzinha de óleo de coco ao acordar e antes de dormir. Quando dá, faço um bochecho rápido. Ofereço também ao Francisco, que curte o “bocôco” (óleo de coco, na sua linguagem). Acima de tudo, procuro entender que o principal é a ação mecânica da escova sobre os dentes. O creme dental é apenas uma ajuda para deixar mais delicado esse movimento.

Pela internet afora, encontra-se mil e um textos sobre os perigos do flúor. Perguntei a dentistas, médicos, todos eles refutam esses problemas e defendem o flúor na prevenção da cárie. Mesmo assim, queria encontrar uma alternativa não somente a ele — mas também vou atrás de produtos naturais que possam substituir o desodorante, o shampoo, o amaciante… Em suma, aqui em casa estamos aos poucos procurando eliminar o excesso de produtos químicos.

O vinagre de vinho branco já está do lado do sabão para lavar roupa, desempenhando o papel de amaciante. Não uso mais óleo para cabelo. Depois do shampoo (procuro o mais neutro possível, mas gostaria também de abandoná-lo), uso um tiquinho de nada de óleo de coco e penteio — o resultado é ótimo. Os desodorantes, uso-os o mínimo possível e procuro ter em casa versões sem alumínio (rende outro post à parte). No lugar do enxaguante bucal, óleo de coco ou girassol.

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Voltando à cúrcuma: é um dos condimentos mais divulgados no momento, graças às suas propriedades benéficas para a saúde. Na cozinha, tenho usado cada vez mais, por conta do gosto e do amarelo vivo. Faço, por exemplo, um crepe rápido com farinha de milho (ou grão de bico), um pouco de polvilho, chia, vinagre de maçã, água. Para temperar, vai cúrcuma, curry, coentro em pó, sal.

Semana passada, um post da Bela Gil levantou uma enorme polêmica: ela recomendava a cúrcuma para substituir os “porcaritos” das pastas convencionais. Os comentários não eram somente argumentos científicos, mas muitas zoeiras e ofensas. Não é a primeira vez que isso acontece: a melancia grelhada e os posts sobre a lancheira da filha e sua degustação de queijos franceses suscitaram muitas reações raivosas. Todo esse caso renderia outro enorme post — em vez disso recomendo esses dois textos aqui e aqui. O meu ponto, para finalizar: essa irritação que as dicas da Bela causaram talvez venham do fato de que elas mexem com algumas convicções. Crescemos confiando no poder eficaz e cientificamente comprovado das pastas de dente, sabões em pó, desodorantes e dos mil e um produtos que encontramos nas prateleiras do supermercado. Abrir mão deles parece arriscado: a sujeira, o suor e a oleosidade ameaçam nossa limpeza externa. Da minha parte, escrevo para que outras pessoas, a quem interessar, possam se lançar, experimentar, descobrir. Como disse no início, foram poucas as vezes que usei a cúrcuma para lavar os dentes. Quem sabe agora, com essa cutucada da Bela, eu me lembre mais desse tímido potinho no armário do banheiro.

A LUA

é nosso satélite natural — isso a gente aprende na escola. No dia a dia, a gente vai acompanhando pelo céu suas mudanças de fase: cheia, minguante, nova, crescente. As marés, todo mundo sabe, sofrem influência do magnetismo lunar.

Não sei bem quando ou como ouvi falar que havia fases da lua mais propícias para cortar o cabelo. A partir daí, preferi ir ao salão durante a lua crescente ou cheia, já que meus cabelos tem pouco volume.

Com o passar do tempo, fiquei sabendo que a lua rege o ciclo menstrual — uma baita descoberta, visto que sempre tinha irregularidades no ciclo; a menstruação ou vinha muito antes ou atrasava demais. Faz pouco tempo, fui atrás de um calendário lunar menstrual, para ir anotando, como um diário, as mudanças no corpo. Depois de uns meses, posso dizer que o resultado é muito bom! Ir seguindo no céu o ritmo das fases, seus significados, está sendo uma maneira de sintonizar meu ciclo. As cólicas e mal-estar vão diminuindo.

Ao longo de minhas variadas leituras, fiquei sabendo que a lua rege, na verdade, toda uma série de atividades da natureza: a semeadura e as colheitas; a poda e a rega das plantas; o corte de unha e cabelos; a limpeza da casa; mesmo afazeres domésticos, como lavar roupa ou fazer faxina tem dias mais favoráveis, segundo a fase da lua. O Carnaval e a Páscoa, duas das principais festas religiosas e culturais, tem suas datas definidas pela lua.

Olhando o calendário e observando os acontecimentos, também consigo fazer uma relação entre a fase da lua e o humor do Francisco. A lua rege também a vida materna e do bebê. Ela também é a regente do meu signo, Câncer. É toda uma série de razões que tem me feito prestar mais atenção a ela.

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Aqui no blog há uma série de posts sobre a lua e como ela marcou um período da minha vida, em que eu pude olhar para um céu aberto e cheio de cores, diferente do céu cercado de prédios em São Paulo. Há mesmo um post preciso em que eu busco alguma relação entre a lua e a mudança das estações do ano. Um evento muito marcante para mim foi o nascimento do Francisco, que ocorreu exatamente num dia de mudança de fase da lua, de nova para crescente — uma vizinha havia contado para mim, quando eu ainda estava grávida, que dia de mudança da lua é propício a nascimentos. Dito e feito.

Ainda tudo é muito superficial e misturado — leio aqui e ali, vou tentando experimentar e sobretudo ver como as coisas se desenrolam.  De maneira mais bela já disse o Gilberto Gil:

O luar 
Do luar não há mais nada a dizer 
A não ser 
Que a gente precisa ver o luar 

Que a gente precisa ver para crer 
Diz o dito popular 
Uma vez que é feito só para ser visto 
Se a gente não vê, não há 

Se a noite inventa a escuridão 
A luz inventa o luar 
O olho da vida inventa a visão 
Doce clarão sobre o mar 

Já que existe lua 
Vai-se para rua ver 
Crer e testemunhar 

O luar 
Do luar só interessa saber 
Onde está 
Que a gente precisa ver o luar

EU FALAVA DE FOME

num post de 20 de agosto de 2008, no colher:

ESTOU COM FOME

mas como muitas vezes ultimamente, tenho achado comer uma tarefa, uma obrigação.
É o que diz na Bíblia: comerás o pão com o suor do teu rosto. Ai.
Não… Realmente há coisas muito legais de se comer, falafel, salmão, sorvete, leite de soja com polpa de fruta, sopa de mandioquinha no frio… a lista seria imensa. E como eu não consigo fazer listas, priorizar coisas, já viu. Será por que eu escrevi falafel antes de qualquer outra coisa quer dizer que falafel é minha comida favorita? Sei lá, talvez não. E por que não?
Enfim, algumas vezes acho triste comer. Ter que comer sem ter opção, brownie, cookies, croissant de dois queijos. E por aí vai.
Fico em alguns momentos como esse pensando se houvesse a possibilidade de não precisar comer para viver (a gente poderia pagar uma mensalidade no lugar, algo do tipo) eu a escolheria.

Eram 23h41 da noite, uma quarta-feira. Possivelmente eu estava preparando aulas, lendo, estudando na frente do computador. Aí deve ter surgido a ideia de escrever sobre isso — era uma situação comum naquela época. Trabalho, estudo, fome.

Muitas vezes era uma “fome de doce”: eu deixava ao meu lado barrinhas de cereal, chocolate, goiabinha. O açúcar dava uma energia para ler, corrigir provas, pesquisar atividades para aplicar em sala de aula. Num outro post, eu chamava isso de “comida utilitária” — porque tirava a dor de cabeça e trazia coragem para as tardes na faculdade. Houve uma época em que todo santo dia eu precisava de um tablete de chocolate — pequeno ou grande, ele fazia parte do cotidiano.

A fase final de escrita da dissertação, em que se passa madrugada adentro na frente do computador, enfrentei com chiclete sem açúcar e, em momentos de necessidade, bebida energética. O gosto dos red-bulls da vida não me agrada, mas era preciso encontrar alguma fonte de energia, novamente.

O que parece, lendo e relembrando essas coisas agora, é que havia uma mistura de prazer nas guloseimas, mas também uma relação de dependência. Sem elas, batia o sono, vinha a dor nas têmporas.

Eu falo da fome ali em 2008 como uma obrigação: comemos para nos mantermos vivos. Era difícil encontrar boas opções de comida — achava realmente triste, na correria da rotina, ter que comer o que a lanchonete da faculdade oferecia, os brownies e croissants… Sobrava pouco tempo para preparar comida em casa, levar marmita para o trabalho, comprar frutas?

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Minha fome mudou muito com a gravidez. Naqueles meses, eu tinha fome de “comida de verdade”. Quem me conhece percebeu a diferença. Eu queria prato feito, arroz, batata, legumes, peixe — coisas que sempre gostei, mas não priorizava.

Confesso que também tinha aquela fome que se assemelha mais à ansiedade: fome de madrugada que me fazia levantar da cama, caminhar até a cozinha e procurar algo na geladeira. Ela também aparecia em alguns momentos nos primeiros meses do Francisco. Bom que foi se esvanecendo, que atualmente estou tentando identificar o tipo de fome que tenho.

Ano passado fiquei uns meses sem consumir nada que contivesse glúten, açúcar ou derivados de leite de vaca. Foi uma boa experiência. Difícil, porque precisei pesquisar e fuçar muito as opções de comida. Maravilhoso, porque me forçou a descobrir mais sobre alimentação e sobre mim mesma. Pude observar as reações do meu corpo como também minha relação com as outras pessoas — pois comer é uma atividade social.

Aos poucos, fui reintroduzindo alguns alimentos. Depois passei outros meses somente com alimentos de origem vegetal. Neste momento, estou me alimentando de um pouco de tudo. Mas evito ao máximo açúcar e farinha, visto que são ingredientes que comprovadamente não fazem bem à minha digestão e à minha saúde — meu estômago, minha cabeça e até meus dentes dão sinais quando como coisas como uma pizza, um pedaço de chocolate ou um bolo.

Futuramente, quando não estiver mais amamentando, pretendo tentar o jejum. Por ora, vou praticando a temperança. E buscando escutar melhor minha fome.

EU USAVA ÓCULOS

há um bom tempo. Por volta dos 10 anos de idade fui ao oftalmo e ele receitou óculos pra usar na escola, ler, ver filme. Escolhi uma armação tipo tartaruga. Depois larguei, fiquei um tempo sem usar até sentir falta deles, lá pelos 17 anos.

Meu caso era astigmatismo e miopia — fraquinhas as lentes. Mesmo assim veio uma época em que eu estava sempre de óculos. Tinha vezes em que dormia de noite e entrava no banho com eles. Tomei gosto pelas armações, tinha mais de uma, para ir variando o modelo.

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Chegou uma hora em que eles não estavam mais me ajudando. Marquei uma consulta para checar se eu precisava trocar as lentes. Estranhíssimo foi fazer o exame e nenhum grau de lente dar conta de me fazer enxergar as letras miúdas. Fui em mais de um oftalmologista. Ninguém sabia me responder o porquê disso. Até que o quinto especialista com quem conversei me aconselhou:

— Por que você não para de usar óculos durante uns meses? Acho que seus olhos se habituaram às lentes. E pode ser que elas não sejam mais necessárias. Ou então a miopia pode ter regredido.

Passei a usar os óculos só em alguns momentos, como ir ao cinema ou trabalhar longas horas na frente do computador. E depois nem isso. Ia ao cinema e os esquecia em casa.

Dois anos atrás, quando voltei a fazer aulas de direção, fiz outro exame. O resultado: vista sem problemas; não preciso de óculos.

Lembrei disso tudo ao ler uma passagem de “A doença como caminho”:

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Certamente, sem os óculos eu comecei a enxergar muitas outras coisas ao meu redor.

UMA LISTA DE DESEJOS PARA 2015

era a ideia para o primeiro post do ano. Depois de ter relembrado o fim do ano retrasado e passado em revista 2014, parecia interessante lançar o olhar para frente e traçar planos e projetinhos para o futuro.

Eu já tinha começado a fazer um rascunho, criado o post no blog… mas eis que a leitura de “Deixa sair”, de Sonia Hirsch, me indicou algo muito pertinente.

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Essa questão do apego reapareceu em outra leitura que fiz em seguida, “A doença como caminho”.

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Os dois livros possuem temas bem parecidos — cuidar do corpo é também cuidar da alma; nossa realidade é construída num ritmo binário: fora e dentro, inspirar e expirar, entrar e sair. A cabeça ainda está cheia de ideias, insights e analogias… e os desejos ficaram de lado.

Assim, esse post é um não-post. Era para ser uma lista de desejos. Mas acabou virando um desejo só: de poder abraçar e aceitar este ano que começa com tudo o que ele terá a oferecer.