SER (MAIS) FEMININA

é o assunto desse post, escrito um ano atrás. Lembro bem que publiquei no mesmo dia em que a Dilma foi reeleita — e por conseguinte choveram comentários maldosos a respeito de sua aparência, como se isso bastasse como crítica para seu trabalho no governo do país. Mas essa seria uma outra história…

A pessoa que me disse a tal frase nem se deve mais recordar da conversa. E eu aqui ainda pensando sobre o assunto. O tempo passa e, de alguma forma, vou pouco a pouco dando mais razão a ela. Sim, me faltava algo ali, mais de cinco anos atrás, que ela queria me mostrar. Não seriam dicas de beleza, como mandamentos — até porque tenho ido atrás de cosméticos naturais. Mas me faltava perceber algo em mim, algo que até hoje está pouco nítido. Algo que fuja tanto às regras ou mandamentos como esses acima (hidrate sua pele, seja gentil, etc. etc.) como também à nossa própria vontade de se afastar do feminino.

Vou tentando rever minhas experiências e escolhas, os jeitos e reações do corpo, suas forças e fraquezas… como o caso das unhas — por que não ver como elas ficam pelo menos um pouco compridas? Que efeito causa?

Talvez esse post esteja pouco claro. Vou terminar com uma foto que tirei esses dias. É um flyer de uma casa de shows. A mensagem, de toda forma, me chamou a atenção. Para mim, tem tudo a ver com o tema deste post — é preciso tempo.

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Traduzido do inglês –grandes coisas demandam tempo.

EU TINHA CABELOS GRISALHOS

num sonho desses últimos dias. Muito acinzentados, com alguns fios brancos. Bonitos, com um corte assimétrico, do jeito que eu gosto. Estavam volumosos também. Eu me sentia bem e feliz.

Basicamente era um sonho comigo velha.

Normalmente a velhice, sobretudo a feminina, é encarada como negativa. É algo a se evitar, lamentar. Esconde-se as marcas do tempo. É deselegante revelar a idade de uma senhora. Os cabelos brancos assustam e são coloridos com tintura.

Faz uns anos que me apareceram uns fios brancos. Nada fiz. Eles estão aí, ainda difíceis de ver entre o cabelo mais escuro. Aos poucos vão chegando outros. Minha intenção é mantê-los, sem tingir. Mas vai saber se mudo de ideia…

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Gosto da ideia de envelhecer — acumular tempo e experiências, sentir as mudanças, reconhecer as repetições. Deixar de lado o passado quando estiver obstruindo a estrada. Caminhar de braços dados pela calçada, devagarinho, com paciência. Agradecer ao corpo, as linhas das mãos, a sola dos pés, as pálpebras… o dentro e o fora em seu contínuo movimento.

COISAS QUE APRENDEMOS COM O FRANCISCO

nesses primeiros meses– e vejo que são lições para todo o tempo que temos pela frente:

[esse post é uma lista — como tantos outros; tantas listas de tantas coisas se espalham na internet todo dia… por isso, não me aprofundei em nenhum dos itens. fica para oportunidades futuras falar mais sobre cada uma das questões que levanto]

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Tudo é imprevisível: a que horas ele dorme? quantas fraldas sujas por dia vocês lavam? (sim, temos fraldas de pano! falarei mais disso em outro momento) quantas vezes mama? durante quanto tempo? — nenhuma dessas perguntas tem resposta definida. No começo pensava: “depois dessa mamada ele vai dormir, aí eu poderei tomar um banho rápido, depois preparo a comida…” ou “vamos passear agora de tarde, aproveitar esse sol bonito” (sobre a dificuldade em sair de casa, me identifiquei muito com esse texto, por mais que tenhamos um bebê e não temos cachorro). Doce ilusão. Nenhum plano desse tipo funcionava. O bebê tem seus ritmos. Difícil controlar ou prever o que quer que seja.

Rotina, adaptação? O que significam essas palavras? Como diz a canção, “tudo muda o tempo todo no mundo”. Não se passaram nem seis meses, e já é difícil dizer o quanto a vida mudou de lá pra cá… e não para de mudar. Hoje o Francisco começa a dar uma risadinha fofa. Amanhã a risada já é outra. Nos primeiros meses, as cólicas incomodavam. Passado aquele tempo, vem as coceiras na gengiva. E vai saber se as cólicas não voltarão, quando ele começar a comer! Enfim, a lista poderia se estender…

A vida tem suas fases. O recém-nascido passa por várias delas, num curto espaço de tempo. Isso eu já vinha percebendo desde o comecinho: havia semanas com mais sono, outras com menos sono; depois uma outra semana super sensível e apegado a mim; em seguida, outras semanas muito independente. Só depois fui descobrir esse valiosíssimo texto sobre os picos de crescimento e fases de desenvolvimento do bebê. Tudo ficou claro, então! É um texto pra ler várias vezes, a cada nova fase.

A paciência está relacionada ao item acima. Tudo passa, é um momento. Tomemos o exemplo das cólicas: o Francisco teve aquele tipo de cólica de gases; todo começo de dia, pelas 7h da manhã, lá vinha a dificuldade em mandar pra fora os gases e o cocô. Muita massagem, muito colo, muito peito e junto com tudo isso: paciência. A gente só consegue transmitir calma se nós mesmos estivermos calmos.

Tolerância: um bebê é uma enorme maravilha; mas todo pai e toda mãe enfrenta seus problemas, cada um ao seu modo. Aprendi muito a respeitar e julgar menos os outros, desde que o Francisco nasceu. Mas isso não quer dizer que eu aceite que os outros me julguem ou critiquem a nós gratuitamente. Para dialogar, não é preciso compartilhar das mesmas visões de mundo e valores. Falo um pouco sobre isso aqui.

A força da vulnerabilidade: quer coisa mais frágil e mais vulnerável que um bebê? E já parou para perceber que força tem os bebês? Quando estava grávida, vi esse vídeo, que me tocou muito. Dá até vontade de ler sobre a pesquisa dela. A cada dia que passa faz mais sentido para mim. A vulnerabilidade, como ela define, nos permite amar sem esperar retorno, nos tira a preocupação de controlar ou prever o que quer que seja, nos motiva a procurar uma conexão com o mundo — tudo a ver com os outros pontos que estou listando aqui.

Somos pessoas importantes: a gente pode pensar em ser mãe ou pai somente em termos de “responsabilidade”, de “exemplo”. Acredito que não se resume a isso. Ter o Francisco perto de nós nos faz querer ser pessoas melhores, cada vez mais. Como já disse acima, como posso transmitir calma ou felicidade a alguém se eu mesma não me sentir calma e feliz? Esse assunto é longo, vai reaparecer em outros posts meus! Por ora, a lista se encerra aqui :)

ACORDEI DE UM PESADELO

com uma música na cabeça: “quando me vi tendo de viver comigo apenas e com o mundo…”. Continuei a cantar na cabeça, seguindo a letra, aí cheguei numa parte assim: “voltamos a viver como há dez anos atrás e a cada hora que passa envelhecemos dez semanas”.

Essa imagem era a que eu mais gostava de toda a música. Tinha dez anos quando ela tocava no rádio. Tentava levar o que a música fala ao pé da letra: voltar a viver uma época do passado, mas com andamento rápido. Calculava depois de quantas horas (dividindo os minutos em dias da semana) eu estaria vivendo meu tempo presente.