“MINHA FILHA NÃO COME!”

— foi mais ou menos assim que me escreveram. Ela, mãe de uma menina de seis meses, me dizia que a pequena não aceitava as comidinhas oferecidas por meio do blw. Desolada, a mãe chorava frente a recusa da filha.

Conversamos alguns dias, por messenger. Gosto muito dessas oportunidades de troca de experiência — tanto ela como eu pudemos refletir sobre a introdução de alimentos e suas dificuldades iniciais.

Pensando em contribuir e inspirar outras mães que se encontram também nesse momento, reproduzo logo abaixo as mensagens que escrevi a ela.

Olá! você acha que ela rejeita a comida por ser em pedaços, pelo blw? e se fosse papinha, será que não aconteceria algum tipo de rejeição? O ponto do blw é q a criança guia e controla o que come — rejeitar, então, faz parte. É preciso entender o que ela quer sinalizar com a recusa: falta interesse? há ansiedade no ar? como se desenrolam as refeições?

O Francisco comia pouco no começo; muitas vezes ele vomitava tudo e eu ficava super triste. Aí tentei trabalhar essa minha frustração; rever teus pensamentos a respeito da comida. Eu vivo cercada das lembranças minhas de infância; fui uma criança que rejeitava quase tudo o que cozinhavam

Passado tanto tempo, estou do outro lado da história. Sou eu quem prepara e oferece os alimentos. E percebo que dá um super trabalho cozinhar, limpar, escolher etc… mas é tão gostoso nutrir assim! Tenho aprendido um montão com essa nova fase da vida de mãe e até hoje tento consertar minha relação com os alimentos.

Outro probleminha que enfrentamos: o Francisco come super rápido. A gente se perguntou: — por quê? Nos demos conta que nós dois, Marco e eu, também fazemos o mesmo… Agora estamos tentando comer com mais lentidão.

A respeito da tua tristeza: chore o que for necessário chorar, mas deixe-a ter contato com a comida, mesmo que pra brincar e sujar a casa. Limpar também é um exercício e uma meditação, digo isso por experiência própria. Eu limpo a sujeira de comida mentalizando que essa é uma etapa de descoberta para o Francisco e que vai lhe dar uma relação saudável com a alimentação.

Vai buscando a razão do teu choro, que não é a recusa dela em comer. É algo dentro de você: medo de falhar, medo da experiência nova, coisa do tipo. Até mais!

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(um dia depois…)

Retomando o que estávamos conversando ontem: não me preocupa o fato de a tua filha rejeitar a comida. Os seis meses são um marco aproximado para a introdução de alimentos — pode começar um pouco antes, 5 meses e meio, pode acontecer depois. Já ouvi vários casos de bebês que só comeram a partir de 9, 10 meses. Isso tanto faz se por blw ou com papinhas, salgados ou doces. Tua filha precisa se sentir pronta para esse novo passo na sua vida — alimentar-se sem que seja por meio do peito e do leite. É um salto enorme, junto com o atos de se sentar, engatinhar e a chegada dos dentes. Aliás, ela pode estar recusando por conta dos dentes despontando, um resfriadinho, qualquer coisa desse tipo.

Dito isso, o que deve ser analisado é seu choro e a ansiedade no ar de que você fala — ou seja, investigar dentro de você quais são os sentimentos, anseios e medos que esse choro quer dar vazão. Só você pode saber. Às vezes demanda tempo e muita reflexão para se chegar a algo.

De toda forma, tua filha é uma pessoa e tem o direito em recusar a comida, ter seus gostos. Mas cabe a vocês despertar o interesse e cultivar bons hábitos. Normalmente, o medo que se esconde na criança que recusa a comida é que ela talvez esteja recusando alguma outra coisa — que o que vocês oferecem a ela não agrada, que ela quer ou espera alguma outra coisa, um outro tipo de atitude frente a vida, quem sabe. O que você acha?

Você conversa com ela a respeito? É muito importante falar, seja das coisas boas que vocês vivem, seja dos receios, dos pontos negativos; ajuda muito.

Como se desenrolam as refeições, como você prepara a comida? vocês comem sozinhas ou tem a companhia do pai? de outras pessoas? ela está sempre à mesa na hora das refeições? o que faz? olha com interesse para as comidas e bebidas? tenta pegar?

Sobre seu desenvolvimento: ela já senta sozinha? já pega objetos? leva-os à boca? já chegaram dentes?

Eu sempre leio muito, pesquiso blogs: me ajuda ler a experiência de outras pessoas. Participo também de grupos no facebook; eles valem a pena para ver o que outras mães fazem, trocar ideias e dividir medos.

Não sei o quanto você conhece da Laura Gutman ou do Carlos González; eles tem textos muito bons sobre a alimentação como esse e esse. Uma das principais orientações que eles dão é: confiar em nossxs bebês. Por um acaso enquanto escrevo me deparei com esse trecho aqui:

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Aqui o Francisco começou aos seis meses a comer, mas era tudo bem pouquinho. E eu fui bem desencanada: se não comia, ok. Tanto que depois que ele completou um ano eu percebi que deveria acelerar, dar mais comida, organizar horários para o lanche da tarde, etc. Também a partir de um ano liberei ocasionalmente pão — coisa que eu não tinha previsto antes, hehe, queria deixá-lo livre de gluten. Agora estoue posicionando de maneira mais ponderada.

Porque a grande questão é: se eu quero dar uma boa alimentação a ele, também devo ter segurança das minhas escolhas. Em uma festa, vai rolar de ele se interessar pelo bolo ou outro doce (ainda não aconteceu). Tudo bem. Durante toda a semana, a gente come coisas boas em casa. Não devo encarar o doce como uma ameaça à sua saúde.

Aproveite esse momento então pra encarar de frente a insegurança — e mandá-la embora ;) o bom das crianças é que elas nos dão essa oportunidade. A gente precisa de coragem, para depois transmiti-la às crias!

Espero que te ajude o que escrevi.

Trocadas essas mensagens, passaram-se alguns dias até que a situação mudasse e a filha despertasse a curiosidade em levar frutas à boca. Em paralelo, a mãe entrou num grupo de blw no facebook e participou de um workshop sobre introdução alimentar. Os espíritos se renovaram e a partir daí as refeições se desenrolaram mais tranquilamente, sem recusas ou choros. E com ela eu descobri esse ótimo blog sobre blw. Que gostoso!

AINDA SOBRE A VIAGEM, UMA LISTA

aleatória, de impressões e experiências, sobre a primeira vez em que viajamos a três: mãe, pai e Francisco. Digitalizar0012_detalhe_1

— o primeiro ponto está aí, no fato de que viajei como mãe ; já é uma baita diferença: viajar cuidando e zelando por outra pessoa; observando seu cansaço; se está com fome; se precisa trocar fraldas, por aí vai.

— antes, eu era aquela pessoa que se preocupava pouco com as condições de hospedagem, que caminhava horas e horas a fio, muitas vezes sem um rumo definido, comendo qualquer besteira que encontrasse pelo caminho. tudo muda como mãe.

— tinha uma lista de coisas a fazer e pessoas a visitar; devo ter conseguido fazer a metade do planejado. o tempo voou!

— entre outras coisas, gostaria de ter ido ao cinematerna; seria a primeira vez do Francisco no cinema. fica pra outra.

— senti bastante falta do cotidiano, o ritmo de todos os dias, da comida feita em casa, do sono, dos banhos que nunca são iguais em outro lugar que não a nossa casa.

— nessa mudança de rotina, o blw não resistiu; em vários momentos, a gente precisou comer em bufês por quilo; eu escolhia os legumes e verduras que o Francisco poderia pegar; a sujeira era enorme. comecei a sentir que aquilo não valia tanto a pena. realmente é uma tarefa difícil ir a restaurante com pequenxs. acabou que encontramos uma lanchonete super tranquila, com um menu bem bacana. serviam sopinhas bem gostosas, de alho poró, mandioquinha. só me restava dar-lhe as colheradinhas na boca. todo mundo feliz!

— nesse sentido, é ótimo mudar de hábitos, sair do roteiro. eu também, em muitas ocasiões, me via sem opção de comida sem glúten, laticínios ou açúcar. aos poucos, fui rompendo a rigidez da minha alimentação. depois de ter voltado da viagem, mantenho quase sempre a linha, mas vez ou outra abro exceções.

— por falar em exceção, deixamos as fraldas de pano e usamos descartáveis durante a viagem; seria complicado demais mantê-las nesse caso. felizmente não tivemos nada de assaduras.

— como o Francisco e eu ficamos muito juntos durante todo o dia, a viagem foi um momento para exercitarmos a ficar mais distantes; Marco o levava para passear enquanto eu conversava com amigxs.

— os primeiros passos, apoiados nas nossas mãos, o Francisco deu em São Paulo — mas só começou a caminhar livremente aos 13 meses, já de volta. image

— um presente que encorajou os passinhos foi um tipo de meia com solado de borracha; são bem mais simples que os sapatos, que o Francisco ainda não aceita bem; recomendo a qualquer bebê! olha como já está velhinha!

— tivemos, então, um marco para o primeiro aniversário; pudemos pontuar o primeiro ano de vida com um antes e um depois da viagem. fora da zona de conforto, pude repensar de maneira distanciada alguns detalhes da nossa maneira de viver. relativizar, improvisar e mudar. perceber também como aproveitar e curtir o tempo, que passa veloz — principalmente durante as férias!

ONDE VAMOS NOS HOSPEDAR?

essa era uma das perguntas centrais do planejamento da primeira viagem com o Francisco. Acompanhando os posts do blog de uma colega, me inteirei sobre as vantagens de se alugar um apartamento. Ainda assim, no final das contas, depois de pesquisar um tantinho pela internet, pesando os prós e os contras, nós decidimos por ficar num hotel. Isso porque pensamos que um ambiente mais impessoal seria favorável ao Francisco. Pensávamos: e se ele não gostar do clima do apartamento? remexer em tudo e quebrar algo de valor? Num hotel é mais fácil providenciar a troca de quarto, reclamar das condições, esse tipo de coisa — mesmo que isso seja também possível no caso de alugar um apê por intermédio de uma agência… Um outro conforto era ter o café da manhã, sem a necessidade de prepará-lo. Com essas coisas em mente, fizemos a reserva num hotel.

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Já nos primeiros dias de hotel, a gente se deu conta de que essa escolha nos deixou com uma grande desvantagem: a impossibilidade de cozinharmos e prepararmos nossas refeições. É só pensar na situação: fim de tarde, Francisco cansado, nós três com muita fome. E a gente precisava sair do hotel, procurar um local para comer que fosse baby-friendly — tanto no cardápio como no espaço. Passamos por várias dessas dificuldades aqui. Terminamos a viagem pensando na praticidade e economia de comprar os ingredientes no supermercado e fazer numa cozinha, como se faz quando se está em casa, no dia a dia.

Acrescente-se o fato de que o Francisco começou a comer pelo blw — isso significa que a cada refeição sobravam ao redor das mesas um monte de pedaços e farelos de comida, que a gente tentava sempre que possível limpar, para não irritar o pessoal dos restaurantes. Além disso, eu precisei, em alguns momentos, abrir mão das minhas restrições alimentares e comer coisas que eu tinha riscado da minha dieta. Nada grave.

Por ora, estamos repensando como faremos para uma próxima viagem. Se tentaremos um apartamento. Se arriscamos novamente o hotel, mesmo com seus pontos negativos. Num próximo post, continuo com o tema.

UM EMAIL, DE UM ANO ATRÁS

me chamou a atenção, faz alguns dias. Estava relendo as mensagens que recebia e escrevia logo depois do nascimento do Francisco, para reavivar a memória — eu estava escrevendo sobre o pós-parto. Uma querida amiga, que me mandou vários emails durante aqueles meses, muito delicadamente colocava à prova algumas das decisões que tomamos: usar fraldas de pano, não dar chupeta, encarar as cólicas com muito peito. Ela se preocupava com meu estado e me perguntava que aquelas coisas valiam a pena.

Algo muito rico nesse tipo de amizade é poder confrontar ideias sem que ninguém se sinta ofendidx. Responder para ela a mensagem que copio abaixo me ajudou a consolidar minha posição. Relendo hoje, percebo que mantive muito daquilo que defendo. Ainda assim, é bom evitar qualquer rigidez absurda. Busco me manter aberta e vigilante, questionando-me a respeito das nossas escolhas. Sobre as fraldas, por exemplo, recorremos às descartáveis quando fazemos passeios mais longos ou durante uma viagem. Nós nos perguntamos também a respeito do sling: até quando será confortável carregá-lo sem o auxílio de um carrinho? De maneira semelhante, reflito a respeito de sua alimentação. Por mais que tenha iniciado a comer por blw, vejo que o método tem seus limites e algumas vezes dar uma papinha é mais compensador do que apenas pedaços de comida (falarei mais sobre isso em outro post).

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Quando alguém me pergunta: “você ainda amamenta? por que você usa sling? as fraldas de pano não dão muito trabalho? por que você não compra papinha pronta?” eu procuro, primeiramente, não encarar como uma provocação. Em alguns momentos, fico em silêncio ou faço cara da alface. Mas, da mesma forma, me sinto bem se perceber uma oportunidade para trocar experiências e pontos de vista.

Para finalizar, o email:

Marco e eu optamos por uma série de coisas que fogem ao padrão, a gente se confronta com essas escolhas e tentamos ver criticamente. A fralda de pano foi uma delas, quando compramos estávamos mais olhando as vantagens, meio idealistas e ingênuos, sem olhar as desvantagens. Talvez elas convenham mais a quem tem mais tempo livre (o Marco trabalha período integral), quem tem máquina de lavar em casa, quem tem empregada, quem tem dias de sol pra colocar no varal… ainda não sabemos até quando vamos mantê-las, até porque mesmo as pampers tem as suas desvantagens. Na verdade, qualquer coisa que escolhemos terá seus pontos fracos e fortes.

Se posso dizer que algo atrapalha, são os comentários que vão contra o que pensamos (colo deixa o menino mal-acostumado, dar o peito sempre não adianta, dá chupeta pra ele, etc.). Respeitamos a opinião de todo mundo
mas também de certo modo é preciso respeitar a nossa maneira de criar o Francisco. Às vezes me pergunto se é melhor deixar quieto ou discutir.

Gosto muito do contato de dar o peito, seja pra comer ou pra que ele se sinta bem (e ele se sente realmente bem, é lindo ver isso) — até porque comer e prazer estão muito relacionados! Eu mesma e o Marco acreditamos que nossos problemas com o maxilar e aparelho ortodôntico tiveram origem no uso da chupeta. E como você disse, é sempre uma luta querer tirar anos depois a chupeta da criança. Parteiras e enfermeiras me recomendaram que ele tentasse chupar o dedo (o meu ou o dele), mas ele percebe a diferença. Raramente chupa meu dedo e fica bem.

Tento julgar cada vez menos a maneira de criar os filhos que observo em outros casais. Até porque a criação é um processo sem fim, um aprendizado a todo momento, não sei ainda tanta coisa! Não sei se daqui uns meses o quanto teremos mudado em relação às nossas escolhas. Estamos sempre tentando, buscando, ficando de olhos abertos.

UMA MUDANÇA NA ALIMENTAÇÃO

começou aqui em casa, em fevereiro. Ao mesmo tempo em que o Francisco completou seis meses e foi experimentando as primeiras frutas e legumes, eu dei início a um tratamento que exclui açúcar, trigo e laticínios do cardápio.

Assim, somos nós dois a aprender a comer. Pelas minhas leituras, parece comum esse tipo de situação: mães e pais tomam a introdução alimentar dxs filhxs como uma oportunidade para comer com mais consciência, cozinhar melhor e de maneira mais saudável.

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Por que essa minha restrição? Observando meu histórico de saúde e fazendo alguns controles, cheguei ao seguinte resultado: metabolismo muito baixo e, principalmente, sistema imunológico bem fraquinho. Tanto uma coisa como outra são consequência de uma série de fatores. De toda forma pode-se dizer que a alimentação desempenha um papel muito importante nesse jogo. Açúcar, glúten e proteína de leite de vaca seriam agentes que me levaram à situação em que me encontro.

Já faz uns anos que conheço, mesmo que superficialmente, o trabalho de Sonia Hirsch e seus livros. Sabia que deveria mudar minha alimentação para melhorar a saúde e o espírito. Ter me tornado mãe está me dando essa chance.

Para a minha saúde, tenho sentido os efeitos dessa mudança — não só no corpo mas também na disposição e no humor. De alguma forma os doces agiam sobre minha ansiedade. Comer também se relaciona muito com nossos afetos e lembranças. Da mesma forma, age como elemento de socialização. Todos ao redor estão tomando um delicioso café com bolos, croissants e geléias, cheio de cores e cheiros… enquanto eu estou comendo pêra, ameixa e banana. O que isso interfere na nossa comunicação?

Isso tudo me faz repensar as relações com as pessoas, com a natureza e até mesmo com o dinheiro. Qual o custo dos orgânicos, em confronto aos industrializados, por exemplo?

Esses meses tem sido bons e cansativos. A rotina mudou bastante. Antes, era rápido matar a fome com um sanduíche de queijo, um biscoito integral. Agora, precisamos ir atrás de frutas frescas, cozinhar os legumes, preparar arroz… No fim das contas, é tudo uma questão de hábito. Mas está aí o ponto: mudar um hábito às vezes é o principal desafio.

O BLW, NOS TRÊS PRIMEIROS MESES

foi uma experiência muito rica para nós. Francisco já tinha curiosidade em pegar nos alimentos, nos talheres e copos sobre a mesa.

Começamos com banana. As primeiras engolidas são estranhas, mas não tivemos nenhum engasgo forte! Os pedaços grandes ou que ele não consegue engolir a língua se encarrega de colocar pra fora.

Como já disse no primeiro post sobre blw, esse método prevê muita sujeira: mesa, roupa, cadeira, chão… em todo lugar vai parar um pedaço de comida. Muitas vezes é melhor ir direto pro chuveiro depois da refeição. Paciência também é muito importante! A carinha feliz dele provando os alimentos compensa o esforço.

Talvez não lembre de tudo, mesmo assim vale listar algumas coisas que o Francisco experimentou: banana, pêra, maçã, mamão, pêssego, ameixa fresca e seca, damasco fresco e seco, abacate, kiwi, melão, abacaxi, morango, framboesa, cereja, manga, laranja, mexerica… entre as frutas. De resto: abobrinha, tomate, cenoura, berinjela, pimentão, batata, aspargo, mandioca, ervilha, cebola, alho, alface, rúcola, espinafre, arroz, lentilha, quinoa.

Frutas são mais fáceis de servir. Ainda sinto muita necessidade de aprender a cozinhar bem, condimentar de um jeito gostoso sem apelar pro sal. Cozinho a vapor os legumes, asso quando possível, com óleo de coco ou azeite. Compramos orgânicos maior parte das vezes.

De laticínio só iogurte natural, puro, mesmo assim super pouco, menos de uma colher de chá no café da manhã, quando ele demonstra interesse. Com o tempo, quero aprender a fazer iogurte em casa.

Até agora, nada com farinha de trigo, açúcar ou industrializados. Se oferecem, recusamos.

Tudo legal nesses primeiros três meses de introdução alimentar. Depois dos 9 meses, nos deparamos com alguns limites: coisas como espinafre, arroz, quinoa, lentilha, grão de bico são difíceis de pegar. Dizem que se deve esperar que o bebê desenvolva o movimento de pinça com os dedos. Mas eu fico aqui me perguntando se eu não poderia oferecer com uma colher…

O Francisco desenvolveu seu gosto; reconhece de imediato uma banana, uma fatia de melão, uma cenoura. Mas também quer variedade. Seu apetite e interesse pela comida ainda não é constante. Tem vezes que come muito, em outros momentos não aceita nada. Ele também se interessa muito pelas coisas que nós comemos e não podemos lhe dar.

A partir dos nove meses do Francisco meus desafios são: pesquisar receitas de comidinhas alternativas, que fujam dos laticínios, glúten e açúcar; integrar mais o Francisco nas refeições; variar o cardápio (muitas vezes sirvo tomate ou cenoura pela rapidez, por exemplo). Em suma, aprender muito sobre cozinha e comida.

BLW: BABY-LED WEANING

é uma expressão em inglês que muitas vezes traduzem como “desmame guiado pelo bebê”. Eu prefiro dizer que se trata de um método de introdução alimentar guiado pelo bebê — visto que o termo “desamame” pode dar a impressão que o leite materno está sendo suprimido da alimentação do bebê. Há pessoas também que interpretam o desmame como um longo processo, a partir do qual o leite materno deixa de ser a única fonte de alimento do bebê, até o momento em que ocorre o desmame total. Questão de ponto de vista…

Independente de como se pode traduzir, o BLW tem se tornado mais popular, nos últimos tempos. O termo foi cunhado por Gill Rapley, agente de saúde britânica. Ela percebeu, durante seu trabalho já uns 30 anos atrás, que muitos bebês tinham dificuldade para começar a comer com colher. Rejeitavam as papinhas que lhes eram oferecidas.

Pelo BLW, o próprio bebê conduz sua refeição. Ele pega os alimentos com suas mãozinhas e os leva à boca. Mais simples e elementar do que isso, impossível. De maneira intuitiva, descobre os primeiros alimentos, saboreia, rejeita, se lambuza… tudo de acordo com sua própria vontade e interesse.

Muitos bebês vão ficando curiosos com a alimentação dos pais e da família, quando se sentam à mesa, já por volta dos 4 meses. De toda forma, o que se recomenda é manter os seis meses de amamentação exclusiva. Mesmo depois disso, o leite materno se mantém como a principal fonte de alimento até um ano.

Quando o Francisco completou os seis meses, compramos uma cadeirinha, mas montamos sem aquela bandeja que vem na maior parte dos modelos. Assim, o Francisco come à mesa, como nós, sem distância. Até agora, ele provou frutas e legumes. Tudo cozido em casa, nada de papinha industrializada nem comida pronta de supermercado. Tempero pouco, orégano, manjeiricão, alecrim, azeite. Colocamos em pratinhos de plástico. Come-se junto conosco, no café da manhã, nos lanches, no almoço, na janta. Não me preocupo se ele está dormindo e perde alguma dessas refeições.

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É natural que haja, sobretudo, bagunça. Muitos pedaços de comida pela cozinha toda. Preciso sempre dar uma limpada no chão quando terminamos de comer. Roupas manchadas de comida, idem. O Francisco já tem várias camisetas e bodies com marcas de banana, manga, beterraba, coisas do tipo. Às vezes usa babador, mas tem momentos que ele mesmo o tira! Quando não quer comer mais, brinca com pratos e colheres.

Nesses primeiros meses, tenho visto que o Francisco tem tido cada vez mais interesse pelo que comemos. Gostou praticamente de tudo o que lhe foi oferecido. Frutas ácidas ainda evitamos, por conta das assaduras. De resto, ainda preciso aprender muito a me planejar e cozinhar, poder variar o cardápio, incrementar de maneira saudável sem apelar para industrializados, molhos com muito sal ou açúcar, etc. etc.

Tenho me informado muito pela internet, em sites, blogs e grupos de discussão. Gosto muito desse texto aqui: ressalta que comer é uma atividade sensorial e um momento em família. O blog todo, aliás, é muito inspirador.

Visito também a página oficial do BLW, que traz inclusive algumas receitas. Comprei também o livro de receitas delas, mas sinceramente não me agrada que tantas delas contenham farinha de trigo… Estou pesquisando alternativas, como farinha de arroz, por exemplo.

Além disso, acho legal recomendar esse blog de uma mãe falando sobre BLW e seus dois textos “teóricos”: 1 e 2. Essa outra blogueira também traduziu algumas diretrizes para o BLW, muito boas.

Para finalizar, um texto que não fala diretamente sobre BLW, mas tem muito a ver com o assunto: existe alimento infantil? A resposta é bem simples: salvo o leite materno, não existe “alimento para criança”! Infelizmente somos levados a acreditar que o melhor para os bebês são as comidinhas pré-fabricadas, com seus rótulos gentis e que escondem tanta porcaria. Continuo num próximo post…