DESENHAR PARA O CHICO

num caderninho pequeno, improvisado. Essa foi a ideia que surgiu durante uma viagem de trem que fizemos. Numa loja na estação, fui atrás de lápis de cor. E não somente durante o trajeto, mas ao longo dos dias de viagem, eu ia traçando coisas que ele pedia, como carros e ônibus, personagens de desenho como  o Pocoyo e o Pato, números. Muitas vezes desenhei de ponta cabeça, o Francisco do outro lado da página — como a bateria e o tambor. Aqui estão alguns deles.

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Desde então desenhamos frequentemente, seja em papel, seja numa lousa branca que penduramos na parede, seja numa daquelas lousinhas mágicas. Ele vai entendendo que podemos criar imagens e também escrever, comunicando algo, uma mensagem, uma lista de compras. Tudo de maneira espontânea e respeitando seu interesse.

OUVIR MÚSICA COM O FRANCISCO

é uma das coisas mais divertidas — não somente ouvir como cantar e inventar juntos letras e ritmos.

Muita gente, já na gravidez, estimula a audição do bebê dentro da barriga. Meu caso não foi diferente. A gente tocava musiquinhas calmas na hora de dormir. Durante o dia, escolhia algum cd interessante, para eu cantar junto. É normal também ter à mão aquelas coletâneas de músicas especiais para bebê, cantigas de roda, coisas do tipo. Mas esse post é sobre outras músicas — não direcionadas a bebês ou crianças — que a gente curte junto com o Francisco.

Nos primeiros meses, ele escutava muito Bob Marley: “One love” era a preferida. Também deixávamos tocando Cesaria Evora. Era impressionante como Francisco parava tudo o que estava fazendo para prestar atenção ao solo de violino de “Perseguida”.

Aí chegou o dia em que ele ficou mais fascinado com “Bohemian Rhapsody”, do Queen. Assistimos inúmeras vezes ao clipe.

Outra vez, me deparei no youtube com Bruno Mars, numa parceria com Mark Ronson (ou vice-versa). Esse é outro vídeo que assistimos muito nos últimos meses. E de quebra tocava toda hora nas rádios pop. Aproveitando os hits do momento, tinha “All about that bass”, com Meghan Trainor.

Durante uma troca de fralda comecei a cantarolar: “não sei não, assim você acaba me conquistando…”

Jorge Benjor está quase sempre tocando. Seja toda a “Tábua da esmeralda”, seja “África Brasil”. Quando o Chico começa a chutar a bola, lá vem

Umbabarauma, homem gol
Joga bola, joga bola
Corocondô
joga bola, joga bola
Jogador

E, para completar, ele canta “Chico da Silva” no lugar de “Xica da Silva”…

Comprei “Bicho”, do Caetano Veloso, por conta de “Leãozinho”. Mas uma das músicas que a gente mais canta é “Olha o menino”. Jorge Benjor de novo.

Novamente no youtube, me veio a ideia de mostrar a ele “Paradise”, do Coldplay.  Ficou encantado com a história do elefantinho que vai em busca dos amigos.

Em casa, nós dois, entre uma brincadeira e outra, sempre vem alguma música. E eis que comecei a cantar “AA UU”, dos Titãs.

Aí aproveitei e assistimos “Homem primata”

O efeito é meio estranho… eu cantando para ele músicas que eram do meu tempo de criança. Tenho na memória eu cantando “homem de massa, capitalismo selvagem”, na frente do rádio, sem entender boa parte do que eles diziam.

Quando vai passear de carro com o pai, ouve Rammstein — essa é a preferida –, David Bowie, Alceu Valença…  um pouco de tudo o que nós mesmos gostamos de ouvir e temos vontade de compartilhar com ele.

Finalizo essa lista com a música que ouvimos logo pela manhã. Deixamos o cd acústico da Gal Costa no despertador. Assim, na primeira troca de fralda, a gente canta junto “Baby”

E quem sabe daqui um tempo faço outra lista, com as novas músicas que vão entrando no nosso repertório…

O LADO B

é aquela expressão que designa muito bem o avesso de alguma coisa. O lado B, originalmente, é a segunda parte do disco de vinil, aquela que fica por baixo, escondida, até que se tenha terminado de ouvir as primeiras faixas de um disco. No caso dos singles, o lado B contém um extra, uma música a mais. Lado B era o nome daquele programa de música alternativa na Mtv, apresentado pelo Fabio Massari, todo cool — aí lado B ganha uma conotação excêntrica; é destacar-se da multidão que gosta de música pop, cultivando e apreciando aquilo que é diferente, estranho.

Fiquei pensando nessa expressão, por conta desse blog aqui, de uma mãe que conheço. E tentando buscar, na minha experiência de mãe, os lados B pelos quais passei. Usei sling, o que parece muito lado B. Mas depois adotei o carrinho, que me ajuda demais no cotidiano. As fraldas de pano foram nossa opção para o primeiro ano de vida do Francisco. Mas hoje em dia elas foram deixadas de lado, em nome da praticidade das descartáveis.

Mesmo as escolhas que se mantém constantes, como amamentar e dormir em cama compartilhada, apresentam seus lados B. Muitas vezes estou cansada, mas o Francisco precisa do peito para se acalmar ou adormecer. Falei sobre esse lado B de mamar, semanas atrás. Além disso, cama tornou-se pequena, faz alguns meses. Dormimos mal algumas noites, até decidirmos mudar radicalmente: juntar dois colchões no chão. Nada melhor! Cada um dorme no seu cantinho.

Mas sabe que cada lado B tem seu respectivo lado B. O avesso do avesso. E, longamente, poderia falar do oposto, do contrário, do lado escuro e escondido de cada ação, comportamento, opinião. Tem a ver com aquele papo da sombra que a Laura Gutman adapta para a vida materna — mas, é claro, não somente ela. Mas não quero alongar nem complicar demais este post, isso iria além das minhas capacidades agora.

Vou apenas terminar com uma expressão que aprendi a valorizar com o tempo: cuspir pra cima. A gente vai aprendendo com os erros, com nossa própria falta de flexibilidade, com nossos julgamentos apressados, com nossa intolerância revestida de argumentos. É isso, por ora.

EU QUERO AMAMENTAR

é o título de um rascunho de post que ficou engavetado por bastante tempo; é um daqueles textos que não se preenchem. Ficam apenas palavras-chave e pedaços de frase pendentes, balançando ao vento.

Pois bem. Eu na época também escrevi outro post sob a mesma forma, em tom de pergunta — “você quer um parto normal?” Nele, eu contava o que fiz para consegui-lo: me informei, aprendi muitas coisas e procurei uma casa de parto. Cada mulher tem a sua busca pessoal. Infelizmente, compreendo que as coisas muitas vezes fogem à nossa vontade. Tem momentos em que querer não basta. Por isso até finalizo com o caso de Adelir, submetida a uma cesárea indesejada — assim como acontece, lamentavelmente, com muitas mulheres. Há iniciativas para mudar esse panorama (aqui e aqui).

Algo semelhante acontece com a amamentação. Falta apoio e informação à mulher que deseja amamentar. As mamadeiras e chupetas mostram-se mais práticas, garantem mais independência, mais controle sob o peso, etc. etc. Expor o peito em público é um tabu. Enfim, a lista dos contras é longa.

Ocorreu a semana do aleitamento materno, no começo de agosto. No momento circularam muitos textos. Esse aqui é um dos melhores, porque expõe claramente que não é nada fácil superar os obstáculos ao redor — e dentro de nós mesmas.

Já são dois anos que dou de mamar. Vivo momentos lindos, junto com o Francisco. Nada se compara a essa conexão que mantemos, ele e eu. Vai além do alimentar. É uma nutrição integral. Imagino, obviamente, que mães que não amamentaram criam elos emocionais com os filhos de outras maneiras.

Ainda sobre o texto da Letícia Penteado, reconheci ali um pouco dessa tensão, temporária, ao dar de mamar. Para mim, acontece mais no período pré-menstrual, já conhecidamente cheio de instabilidades emocionais. Aproveito para rever minhas posições. E também para ir criando outros laços com o Francisco. Penso num desmame bem lento, gradual. Por isso, tento restringir o que antes era livre demanda. Fora de casa, por exemplo, não dou mais o peito. Se ele precisa de consolo e amparo meu, encontramos outra forma. Ele tem entendido bem, por mais que não seja fácil. São os nossos desafios dessa fase.

Parece que vislumbramos algo de novo à frente. Francisco sabe que está virando um menino. Vê outros bebês menores, crianças maiores. A gente vai tentando se encontrar, descobrir-se em meio ao mundo. E assim vai…

A SOLIDÃO

é tema recorrente das conversas de mãe. Muita coisa muda depois da gravidez e do nascimento da cria. Uma delas é a relação com o mundo e as pessoas ao redor.

Nos primeiros meses, a tranquilidade é fundamental, para viver uma boa lua de leite, descobrir os pequenos detalhes do bebê, reconhecer seus sinais, falar com ele — e sobretudo descansar.  O pós-parto é um momento de transformação imensa; por isso, melhor fugir de quem dá palpites demais e acaba interferindo na relação entre mãe e bebê.

Aqui, me concentrei a fundo na vida de mãe — coisa que contei no nesse post . O resultado, ao longo dos meses, é um dia a dia bem isolado. Saímos para brincar no parquinho, andar por aí, ir ao correio, fazer compras. Tudo isso com uma certa flexibilidade de horários, muitas vezes sem pressa.

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Mas o tempo passa — rápido, num piscar de olhos — e me vejo num momento de transição. O Francisco quer sair de casa. Sua vontade faz bem não somente a ele, que quer ver o mundo, conhecer outras crianças, descobrir os parquinhos, com seus escorregadores, gira-giras e balanças; quer pegar ônibus, bonde, trem; escolhe os caminhos pela rua, se vamos à esquerda, direita, em frente. Faz bem a mim também. Me faz reatar os laços com o mundo, me dá a possibilidade de assistir a novos começos.

A rotina em casa mudou? Muito! Antes, eu tinha tempo para fazer um café da manhã em casa, todo balanceado, preparar o almoço. Fazia massagem no Francisco, a gente tomava banho… enfim, era tudo diverso dos últimos dias. São fases, elas vem e se vão. Que eu possa sempre estar atenta às mudanças, reinventar o cotidiano e me alegrar com as experiências que se acumulam na lembrança.

QUE DIFÍCIL SAIR DE CASA!

— esse é um comentário que faço a mim mesma com frequência. Mais de um ano atrás, quando o Francisco ainda era um bebê dentro do sling, eu já comentava sobre isso. A dificuldade é menor hoje, mas ainda permanece.

A ilustração é de Lucy Scott, que retratou com bom humor as dificuldades de seu primeiro ano como mãe. Essa foi a com que mais me identifiquei: “passeio improvisado: aproximadamente 45 minutos até conseguir sair de casa”. 45 minutos parece até pouco tempo para cruzar a porta de casa!

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O dia passa como num piscar de olhos. Já de manhã, digo ao Francisco: — vamos passear? Mas antes precisamos comer alguma coisinha, tomar banho… Só que vai sempre aparecendo algo mais para fazer — louça acumulada, comida para preparar. Faço inúmeras pausas nos afazeres para brincar com o Francisco, abrimos um livro, inventamos músicas e joguinhos, damos risada. Tem momentos em que ele quer peito. Acaba tirando um cochilo. Chega a hora do almoço. Depois do almoço, a gente sai. Mas ainda falta tomarmos banho! Depois do banho, o Francisco faz cocô. Limpa. Troca roupa. Aproveita que a máquina de lavar terminou e vou pendurar roupa no varal. Prepara a bolsa para sair, sem esquecer gorro, blusinha, fraldas de reserva, garrafa de água, etc. etc. etc. Quando vejo estamos já no final da tarde. Ou já é de noite…

Desde que o Francisco nasceu, tenho pouquíssimos compromissos. Cada pequena tarefa cotidiana — como ir aos correios ou a uma consulta médica — é para mim um grande desafio. Lembro de algo que li sobre a maternidade: a mãe acaba entrando no universo de sensações e assume um pouco da perspectiva do bebê. É como se eu tivesse me tornado um pouco bebê e perdido a noção de tempo, compromisso, hora marcada… Tentei me matricular no curso de ioga para mães, desisti sem nem ter ido. Meses depois, pensei em pilates — desisti do mesmo jeito. Eu me sentia incapaz de me programar para sair de casa a tempo. Pensava: — e se no horário do curso o Francisco está dormindo? Prefiro ficar em casa e descansar junto com ele!

Na verdade, acabei escolhendo por ter o mínimo de eventos e me concentrar no ritmo do Francisco — suas sonecas, seus horários de brincar, de mamar. Hoje, é claro, temos o horário para comer, almoço, lanches, janta. Mas fora isso, diferente de outras famílias, não existe um momento definido para dormir ou acordar, nem mesmo para a soneca diurna.

Tudo tem seus dois lados. Fico pensando como seria se eu tivesse me integrado em alguma atividade externa, se não teria isso positivo para nós dois. Mas percebo também que o melhor é o que efetivamente conseguimos fazer. Respeito e aprendo com meus próprios limites, os erros e acertos. E principalmente, tenho acolhido a solidão que marca esse período inicial da maternidade — tema de um post futuro.

DO SLING AO CARRINHO,

a transição foi acontecendo aos poucos. Durante mais de um ano, carregamos o Francisco no colo, no cangote ou em sling. Mas era inevitável que chegasse o momento em que o carrinho se mostrasse necessário.

O Francisco sempre foi pequeno e magrinho: o peso não era um incômodo para mim. Pelo contrário: gostava do corpinho dele junto ao meu, nossos olhos perto. A gente caminhava pelas ruas, pegava ônibus, ia ao supermercado, ao correio. Por sorte nunca tive dores nas costas nem nada parecido. Vez ou outra uma dor no ombro nos braços, se tivesse que carregar peso de sacola, por exemplo.

Uma amiga veio nos visitar quando o Francisco estava com 1 ano e meio. Ali sentimos a falta de um carrinho para passearmos mais tempo — para que ele inclusive pudesse descansar enquanto estávamos fora de casa!

Uma alternativa foi sair com triciclo, em alguns passeios curtos. Mas não é uma boa alternativa para longas caminhadas ou para que ele pudesse dormir.

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De toda forma, no sling ele não fica mais. Cresceu e precisa se sentir mais livre. Senti uma tristezinha pelo tempo que passa, pelo fim de um período. E fomos à loja comprar um carrinho.

É raro ver adultos carregando crianças em slings e porta-bebês. De toda forma, há cada vez mais. Antes, eu me vangloriava por dentro e olhava para as mães com carrinho com certa superioridade — porque parece bem mais “prático” um carrinho do que o “esforço” em levar a cria junto ao corpo. Agora, eu me dava conta da necessidade e das razões do carrinho — um cuspe para cima!

Confesso que nos primeiros passeios me sentia estranha, com o Francisco distante, vendo as coisas por outro ponto de vista. Para conversar também fica mais difícil, porque temos os barulhos da rua ao redor. Em que direção ele está olhando? O sol incomoda? Está com frio, com calor?

Por outro lado devo assumir que nos ajuda muito. O carrinho tem espaço para uma bolsa, agasalhos, garrafinha de água. Tinha receio que o Francisco não quisesse ficar no carrinho — que nada! Ele gosta de sentar-se ali e observar tudo pela rua.

Cada coisa tem seu momento. Curti e aproveitamos muito o tempo do sling. Agora estamos em outro momento. E assim vai.

XIXI E COCÔ

são os temas deste post — bom dizer assim, logo de cara; assim, quem sente nojo de ler sobre essas coisas pode já interromper a leitura.

Este post aqui me inspirou. Afinal, viver junto com um bebê leva a observar tudo sob novos pontos de vista.

No começo de tudo, não havia cocô, mas mecônio. Lembro bem da primeira troca de fralda: o corpo pequeno e magrinho daquele bebê que tinha cheiro de sangue. No bumbum, vi uma pasta escura, que a parteira ajudou a limpar.

Ao sair da casa de parto, estávamos felizes porque o cocô era amarelinho, como devia ser. O leite desceu, ele mamava bem e nossos corpos, agora dois, funcionavam direitinho.

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Os primeiros dias eram tão corridos que eu não tinha tempo nem de fazer xixi — era o que eu dizia e também já ouvi de outras mães o mesmo comentário. Banhos? Somente a três: Francisco, Marco e eu embaixo do chuveiro.

Algumas vezes o cocô do Francisco esverdeava. Dizem que acontece quando a mãe come frutas demais. Ou que o leite é pouco gorduroso. Não soube apurar isso com precisão.

Eram frequentes os vazamentos; às vezes o piupiu não estava posicionado para baixo. Também já recebemos jatos de xixi durante as trocas de fralda.

Usando fraldas de pano, é normal que a gente tenha muito contato com as excreções — cheiro, consistência, pedacinhos… são todos detalhes interessantes de observar quando bebê começa a se alimentar. Tudo muda! Consigo identificar a comida que está ali digerida. E dá até mesmo para reconhecer quando o Francisco comeu alguma guloseima com açúcar: o cheiro é bem mais desagradável do que normalmente…

Por volta dos 10 meses, o Francisco começou a ter dificuldade para fazer cocô. Acredito que foi o momento em que ele se deu conta do fato. Ficou meio receoso e segurava as fezes. Alguns dias não evacuava. Com muita calma, segurava-o no colo, sentada na privada junto com ele. Chorava, deixando sair.

Muitos bebês passam por essa fase de cocô duro e seco nos primeiros meses de introdução alimentar. É preciso oferecer água com frequência e atentar para alimentos que ajudem o trânsito intestinal. Algumas vezes deixo umas ameixas de molho, à noite, para de manhã beber a água e fazer um mix com as ameixas molinhas. De toda forma, não é recomendável recorrer sempre a essa receita, para que o intestino se regule com a alimentação normal.

Pouco tempo depois o Francisco aprendeu a sinalizar que tinha feito cocô, dando uns tapinhas na fralda. Fala “cocô” e “xixi”. É um passo para o desfralde, penso eu. Cada coisa ao seu tempo… futuramente volto ao assunto!

POR QUE PALPITES ALHEIOS INCOMODAM TANTO?

foi mais ou menos essa a pergunta que surgiu durante a leitura desse post aqui. Na verdade, já faz um tempo que venho me questionando a esse respeito. Desde a gravidez e principalmente depois do nascimento do Francisco, já ouvi muitos comentários, de todo tipo, desaprovando minhas escolhas. Lendo e acompanhando outras mães com interesses semelhantes, percebo o mesmo tipo de situação. Muitos dos relatos são desabafos, reclamações, pedidos de ajuda.

E foi justamente num deles que acabei redigindo essa resposta. Eu já pensava em escrever um post sobre isso. Assim, o que comentei serviu de base para o relato abaixo.

Eu tentava, no começo, argumentar seriamente com as pessoas que me desestimulavam a parir de maneira natural, amamentar em livre demanda e a longo prazo, carregar no sling, fazer cama compartilhada, seguir o BLW, dar uma alimentação vegetal e equilibrada. Mas depois percebi que poucas delas queriam realmente me ouvir. Mais ou menos nessa época, o Francisco estava com uns seis meses, descobri a “comunicação não-violenta”. Estou longe de ser uma especialista no assunto, mas me interessou muito dois pontos que o livro de Marshall Rosenberg levanta: — diminuir as expectativas em relação aos outros; — não devemos agradar a ninguém mais que nós mesmos. Um ponto está relacionado ao outro.

Olhando para a minha história pessoal, muitas vezes tentei agradar o mundo: sendo uma aluna boa na escola, por exemplo (isso ecoou muito durante a leitura de “Você é minha mãe?”, da Alison Bechdel). Como mãe, também faço o melhor de mim. Mas, ao contrário da aluna com notas altas, as coisas que eu faço causam desaprovação. Isso me frustra e eu fico com raiva desse pessoal que não concorda com as minhas escolhas.

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Um dos passos, então, foi exigir menos do mundo. Ser menos exigente com a pediatra, por exemplo. Abandoná-la e procurar outro foi a melhor saída. Exigir menos de quem não quer se informar. Eu quero me informar, mas não posso pedir isso da cunhada. Se ela quer dar açúcar pra sobrinha, que eu posso fazer? Sofro por dentro pela menina, mas devo respeitar e tolerar a escolha alheia — assim como quero que me respeitem como mãe.

Uma amiga começou a circular o meme “cara de alface”. Let it be. Um comportamento meio budista. Não posso fazer nada pra mudar o mundo. Posso sim cuidar do meu filho. O que os outros pensam a respeito não é responsabilidade minha. Reclamar e criticar estava me distraindo do meu objetivo principal, eu estava perdendo energia e, pior, afetando minha saúde. Imagine se essa minha implicância começasse a prejudicar a saúde do Francisco? Não seriam as cólicas dos três meses uma demonstração de que temos dificuldade para digerir as impressões que recebemos de fora?

Ainda estou longe do que eu gostaria, ainda me irrito vez ou outra quando alguém vem me provocar. Mas aí eu lembro um pouquinho daquela frase do padre nosso “perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tem ofendido”. Olho pro francisco, vejo como ele está bem e feliz, dou umas risadas e vou levando a vida.

Temos nossas fases e o combate tem sua razão de ser. Bom também é enfrentarmos os defeitos das nossas próprias escolhas. E ver que as pessoas falam nem sempre por maldade mas por falta de conhecimento…

Epílogo: dias depois de ter escrito isso, saiu esse post no cientista que virou mãe. E achei interessante como contraponto. Porque há a irritação com os palpites alheios — mas vivemos também o desgaste comum da vida de mãe, que busca quem a escute, compreenda e acolha.