SER (MAIS) FEMININA

é o assunto desse post, escrito um ano atrás. Lembro bem que publiquei no mesmo dia em que a Dilma foi reeleita — e por conseguinte choveram comentários maldosos a respeito de sua aparência, como se isso bastasse como crítica para seu trabalho no governo do país. Mas essa seria uma outra história…

A pessoa que me disse a tal frase nem se deve mais recordar da conversa. E eu aqui ainda pensando sobre o assunto. O tempo passa e, de alguma forma, vou pouco a pouco dando mais razão a ela. Sim, me faltava algo ali, mais de cinco anos atrás, que ela queria me mostrar. Não seriam dicas de beleza, como mandamentos — até porque tenho ido atrás de cosméticos naturais. Mas me faltava perceber algo em mim, algo que até hoje está pouco nítido. Algo que fuja tanto às regras ou mandamentos como esses acima (hidrate sua pele, seja gentil, etc. etc.) como também à nossa própria vontade de se afastar do feminino.

Vou tentando rever minhas experiências e escolhas, os jeitos e reações do corpo, suas forças e fraquezas… como o caso das unhas — por que não ver como elas ficam pelo menos um pouco compridas? Que efeito causa?

Talvez esse post esteja pouco claro. Vou terminar com uma foto que tirei esses dias. É um flyer de uma casa de shows. A mensagem, de toda forma, me chamou a atenção. Para mim, tem tudo a ver com o tema deste post — é preciso tempo.

Captura de Tela 2015-10-16 às 01.20.05

Traduzido do inglês –grandes coisas demandam tempo.

EU TINHA CABELOS GRISALHOS

num sonho desses últimos dias. Muito acinzentados, com alguns fios brancos. Bonitos, com um corte assimétrico, do jeito que eu gosto. Estavam volumosos também. Eu me sentia bem e feliz.

Basicamente era um sonho comigo velha.

Normalmente a velhice, sobretudo a feminina, é encarada como negativa. É algo a se evitar, lamentar. Esconde-se as marcas do tempo. É deselegante revelar a idade de uma senhora. Os cabelos brancos assustam e são coloridos com tintura.

Faz uns anos que me apareceram uns fios brancos. Nada fiz. Eles estão aí, ainda difíceis de ver entre o cabelo mais escuro. Aos poucos vão chegando outros. Minha intenção é mantê-los, sem tingir. Mas vai saber se mudo de ideia…

image

Gosto da ideia de envelhecer — acumular tempo e experiências, sentir as mudanças, reconhecer as repetições. Deixar de lado o passado quando estiver obstruindo a estrada. Caminhar de braços dados pela calçada, devagarinho, com paciência. Agradecer ao corpo, as linhas das mãos, a sola dos pés, as pálpebras… o dentro e o fora em seu contínuo movimento.

“VOCÊ DEVERIA SER MAIS FEMININA!”

ou algo do tipo; não lembro direito como a frase foi formulada. Eu escutei isso de uma conhecida, uns cinco anos atrás. Fiquei muito surpresa com o comentário. Como assim, ser mais feminina?

Ela queria dizer feminina talvez no sentido mais recorrente do termo: usar maquiagem diariamente, tratar do cabelo, vestir roupas da moda, perfume importado. Para ela, eu deveria valorizar meus atributos físicos. Ser atraente, chique. Era, coincidentemente, a sua maneira de ser feminina. Feminina como a maioria das capas de revista, as atrizes famosas, as modelos — como nos dizem que deve ser.

Fiquei meio desconcertada com essa conversa. Não dei muita trela, pouco disse a respeito. Agora pensando, já tanto tempo depois, poderia ter respondido que há muitas maneiras de ser feminina — tantas como são diferentes cada mulher deste mundo.

20140828_230522-1

Absolutamente nada contra a pessoa que se sinta bem de salto alto, escova feita e maquiagem retocada — mesmo. Só quero ter a possibilidade de encontrar minha própria maneira de ser feminina. E não precisar me sentir menos mulher que qualquer outra.

Dias atrás, comentava com uma amiga que eu gostaria de deixar meus cabelos grisalhos, ou seja, não usar tintura para retocar os fios brancos. Ao que ela diz: “claro, desde que você não fique com cara de velha”. Mas qual é o problema em parecer velha? Que mundo é esse que desvaloriza a velhice de uma mulher?

Talvez na mesma semana, ouvi outra que vale relatar: “seu filho já tem um ano de idade e você ainda não conseguiu perder essa barriga”. Essa foi f*da. Quer dizer que eu preciso ter uma barriga chapada? Pra essa, fiz cara de alface. Também fiquei me perguntando que liberdade dou axs outrxs para que me digam coisas desse tipo.

Ao nosso redor veiculam regras, muitas vezes sutis e tácitas, para definir quem somos. Desde a infância… as meninas: delicadas princesas, belas, de cabelos longos e lisos; os meninos, corajosos cavaleiros, lutadores — aquela tal polarização entre o rosa e o azul.

E bem sabemos como é duro encaixar-se no que esperam de nós. Podemos passar anos e anos da vida buscando ter o corpo que não temos. Dando pouco valor a quem somos, à nossa beleza particular, aos nossos pontos fracos e defeitos irrepetíveis.

Pode ser que eu mesma, ali cinco anos atrás, não sentisse em que dimensão construo minha feminilidade; que me sentisse um pouco à parte das mulheres que se assemelham àquele modelo que nos oferecem desde cedo, quando começamos a ouvir “você está ficando mocinha…” O tempo e a experiência da maternidade estão me ajudando nesse sentido. De toda forma, a estrada é longa e o assunto não cabe somente neste post.