EU FIZ LISTAS

de coisas a fazer, assuntos para conversar, datas importantes para lembrar, leituras, filmes, lugares para conhecer, alguns pedaços de música; mas de nada adianta: o que sai na hora é imprevisível.

Há também uma lista de regras que eu mesma me coloco, uma pequena disciplina para coisas simples do cotidiano: coisas que eu devo fazer todo dia, outras coisas pra não fazer sozinha. Elas valem durante um tempo. Por que deixo essas regras de lado?

Das duas uma: ou não sei fazer listas, ou não sei como segui-las – ou vai ver é assim mesmo que as listas são.

VIAJANDO PELA EUROPA

as minhas notas de euro já eram muito antigas, enormes e de cores apagadas. Novas notas, mais coloridinhas, estavam em circulação. Os bancos não trocavam mais notas antigas por novas. Precisava encontrar colecionadores para ao menos trocar 100 euros.

Fui numa região da cidade (em que país eu estava? Romênia?) que parecia mercado negro. Começavam a falar comigo em árabe. Depois, passavam para um português de Portugal, francês. Ofereciam 30 euros pela minha nota de 100. Eu queria mais – deveria então procurar mais.

Mais adiante, fazia-se queijo, as próprias cabras trabalhavam na produção. Achei curioso. Em outro lugar, faziam queijo de cabra falsificado. Nesse ponto lembrei de outro sonho, que tive antes, de uma velha loja que vendia produtos agrícolas falsificados, cujos donos eram a família de Shoshanna Dreyfus, dos Bastardos inglórios.

Voltei a essa loja, mas agora um chinês das histórias do Tintim era o dono, ela estava reformada. No fim das contas, continuava com minha nota de 100 euros. O máximo que me ofereceram foi 60; eu recusei.

DE REPENTE ME VEJO

numa livraria, com amigos. Cada um fui para um canto, o lugar grande de cor de madeira escura. Por acaso me deparo com o livro que tanto preciso para minha pesquisa: nele vou encontrar um rumo. É uma edição especial, formato grande, capa dura, mais de 500 páginas, com ilustrações em alta definição. Um detalhe: a encadernação está quebrada. Uma anotação a lápis na primeira página: desconto de 71,38%. Difícil entender se o preço final seria $ 31,87. Levo o livro ao caixa, mostro aos amigos. O moço do caixa não consegue me dizer o preço final. Não percebo que ele e meus amigos estão tirando as ilustrações do livro.

Finalmente: levei ou não o livro comigo? Não sei.

AVIÕES CAINDO

um atrás do outro. Estávamos na rua e todos os aviões no ar perdiam controle e iam caindo. Horrível vê-los se espatifando em cima de casas, no meio da rua, o barulho de desespero geral. Na televisão, que víamos num bar, o noticiário falando sobre isso. Perguntamos às pessoas o que tinha acontecido. Disseram que os aviões tinham “perdido os nós”. Decidi acordar.

Depois eu tinha que brigar com um cara grande, um armário. Estávamos discutindo, em casa (mas era na Praia Grande), sobre um serviço que ele tinha feito e como pagaríamos. Dei 200 reais em dinheiro. Exigimos o recibo. Ele nos enrolou e não deu. Fiquei com vontade de dar-lhe uns golpes de kung fu, mas ainda sabia pouquinho. E além disso, o kung fu não serviria pra isso. Mesmo assim fiquei treinando uns movimentos.

UMA NOVA MOEDA

de 25 centavos apareceu. Entrou em circulação. Ela era redondinha, gordinha, amarela, da cor da estrelinha (do Super Mario ou a “estrelinha mágica” da Turma da Mônica). Bom, justamente no jogo do Mario há moedinhas pelo caminho, assim como no Donkey Kong deveríamos ir pegando todas as bananas que apareceriam.

Com ela, era possível tirar dinheiro dos telefones públicos. Bastava colocar (meio escondidos nos orelhões dava para descobrir um buraco para essa moeda) e saía dinheiro. Moedas de todos os valores. Estávamos na usp e a gente ia atrás de todos os orelhões tirar dinheiro que estava ali escondido, como um tesouro que piratas poderiam ter deixado para o futuro.

Lembrei agora que esse sistema se assemelha muito a um brinquedo que eu tinha, o Boca Rica. As moedas, a gente colocava e não sabia quando a portinha se abriria liberando tudo o que ele guardava.

UM CABELEIREIRO CHINÊS

ficava numa casa amarelecida pelo tempo. Velhinho, contava com um assistente, que mais parecia seu chefe. Era um moço loiro, que pouco entendia de corte mas sabia administrar o negócio do chinês, sentado num balcão.
Fui cortar o cabelo com esse chinês. Não queria cortar o cabelo, quero deixar crescer, quero que ele fique bem longo. Eu estava lá mais para ouvir algum conselho desse velho sábio, que com poucas passadas de tesoura conseguia mudar a vida das pessoas.
Ele cortou meu cabelo seco, e ele parecia crespo, assim como ele era quando eu tinha uns 12 anos. Esse sonho me lembrou um corte de cabelo, num salão na rua Martim Francisco, que nem deve mais existir. A velha senhora cortou meu cabelo seco também. Sabe-se lá porque eu não estava sentada, mas de pé. Tive uma tontura, uma queda de pressão, quase ia desmaiar mas aguentei até o final. Meu cabelo ficou horrível, todo despontado. Minha mãe reclamou e nunca mais voltamos lá.
No sonho, o mestre chinês falou sobre a minha boca e a minha respiração.
Queria 38 reais pelo corte, eu tentei negociar, mas o moço loiro não deixava que se pagasse menos que isso.
Eu acabei abandonando o salão do velho chinês antes que o corte terminasse.