QUANDO NOS MUDAMOS

para um apartamento, depois de uns anos em casa com quintal em rua calma, fazíamos muito barulho. Mas talvez um momento ficávamos mais quietinhos: quando o dia ia acabando, o sol indo embora, era bonito ver a paisagem que se abria na janela.

O apartamento ficava no oitavo andar: em volta, poucos prédios próximos. Por isso, a visão era bem ampla. Dava para ver a torre do Banespa, o Altino Arantes, lá longe, bem no centro da nossa sala. Um belo privilégio. O sol nascia bem nessa direção, a leste. A luz invadia toda a sala, até a porta de entrada.

Olhando bem para baixo, havia muitas casinhas. Um grande terreno, daqueles antigos, com fundos vastos. Tinha uma mangueira (ou era um abacateiro?). E galinhas ciscavam. O galo cantava, principalmente de manhãzinha.

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Raramente, podíamos ver arco-íris abrindo-se no céu. A gente corria atrás da máquina fotográfica para fazer um registro desse acontecimento tão único.

Uma vez pude presenciar uma gata dando à luz, no telhado de uma dessas casas. Os gatinhos saindo, um a um, de dentro da mãe. Eu duvidava da cena, mas era aquilo mesmo.

Morávamos no mesmo quarteirão da escola. Adiante, dava para ver a quadra de esportes. Uma parte do pátio coberto também. Assim, quando eu estava doente e faltava no dia de alguma festa — junina ou da primavera — eu ficava na janela observando o movimento das crianças. Por sinal, eu quase sempre ficava doente em dia de feira de ciências ou festas. Ausentava-me dos momentos especiais e festivos da escola, ainda sem saber direito o porquê.

UMA PARTE DA CASA

 

que estava em demolição resiste na rua Paim, ao lado do estande de vendas de um prédio novo; enquanto não é derrubada, nesse resto de casa se organizam mudanças para o norte e o nordeste.

alguns outros capítulos das mudanças da Paim: 23 de maio de 2010, 9 de dezembro de 2010, 28 de janeiro de 2010, 17 de março de 2011, 20 de março de 2011, …

EM CASA PENSAVAM

que eu ia me tornar arquiteta, engenheira; isso porque adorava as plantas de imóveis que saiam no jornal. Pegava os anúncios ilustrados e brincava com eles horas a fio. Ficava olhando a organização do espaço, áreas comuns, fosso para o elevador. Desenhava plantas também, dos lugares onde eu queria morar. Ainda me lembram isso, a família.

Hoje olho para as plantas dos imóveis em lançamento: quartos e banheiros cada vez menores, sacadas onde só se pode colocar o ar-condicionado… – elas me sufocam. Mesmo assim ainda guardo a imagem de uma casa onde eu possa brincar.

VOCÊ PASSA

pelas mesmas ruas de todos os dias, de onde você mora já faz anos; poderia descer pelo caminho de olhos fechados, tudo é familiar e todos te conhecem, sabem quem você é e que horas vai e vem. Mas agora fica pensando: como será ver tudo isso com outros olhos – ver com os olhos de alguém que nunca passou por aqui, alguém chegando pela primeira vez onde você sempre viveu?

MAIS DEMOLIÇÕES

na rua Paim: duas casas e um galpão, vazio faz muitos anos.

As duas casas reuniam muitos moradores. Essa com pastilhas coloridas tinha uma lojinha de aparelhos eletrônicos, locadora de DVD e venda de pamonha (até uma época foi aberta ali uma loja de produtos de milho). Da casinha branca ao lado só está de pé a fachada. Já o galpão tem um estilo que destoa de qualquer outra construção da rua.