deitei-me na cama com uma compressa quente na barriga, recomendação da parteira. O Marco trocava a compressa tão logo ela esfriava. Eu deveria dormir, mas quem disse que conseguia? As contrações continuavam constantes, a cada 3 minutos. Iam ficando mais fortes. Para suportar, deitada, eu mexia as pernas, vocalizava a dor. Não sei depois de quanto tempo resolvi levantar e me movimentar.
As contrações pareciam ondas do mar; dava pra avistar quando estavam pra chegar, vinham fortes, depois novamente recuavam. A cada uma delas eu pensava em um pouco de tudo: em mim, no bebê ali dentro, na minha família, nas informações com que tive contato. Muita gente diz que o parto é um momento do irracional, do inconsciente. Até tinha receio de estar “consciente” demais, mas era como eu me sentia no momento! De toda forma sentia uma imensa alegria também do bebê estar a caminho de seu nascimento!
Aqui cabe listar coisas que me ajudaram muito durante o trabalho de parto:
- vocalizar a dor; quando sentia a contração, soltava um aaaaaa; algumas vezes um eeeee; ou então dizia logo: veeeeeem bebê!
- relaxar o maxilar e o pescoço, pra não concentrar a tensão nessa parte do corpo; para quem já sofreu com bruxismo isso é essencial
- andar, balançar o quadril, mudar de posição sempre: pernas abertas de pé, de cócoras, de quatro, de acordo com a vontade na hora; algumas delas eram posições que praticava nas aulas de ioga para gestantes, maravilhosas!
- deixar as janelas todas fechadas (estava amanhecendo), as luzes apagadas quase ao máximo
- abraçar e beijar muito o marido!
- e talvez o mais importante: ter passado boa parte do trabalho de parto em casa. O parto domiciliar tem inúmeras vantagens: a pessoa se encontra no lugar que mais conhece, no qual se sente mais confortável e segura. Tive minhas razões para escolher a casa de parto, sobre isso falarei em outro texto. De toda forma, foi ótimo a parteira ter dito para eu voltar pra casa; no fim das contas, passamos grande parte do trabalho de parto em casa.
Dias antes do parto eu li uma lista valiosíssima com algumas dicas — e não é que seguimos grande parte delas?
Dá pra perceber como tudo se conecta: as musculaturas do corpo relaxadas, a vocalização, beijar… e sentir-se bem, sem olhares de desconhecidos, sem exames de toque desnecessários, sem aquela luz branca de hospital, sem o cardiotoco amarrado na barriga dando o sinal dos batimentos do bebê e que te limita os movimentos, sem a possibilidade de ficarem oferecendo remédios, anestesias e indutores…
Podem argumentar que o hospital dá segurança. Pois para mim me deu segurança justamente não estar num hospital: será que eu conseguiria gritar à vontade numa sala de hospital? será que me deixariam livre pra me mexer como quisesse? e os abraços no marido seriam tão fortes?
E sobre as tais dores do parto, acredito que tudo depende da forma como a encaramos: não estava sofrendo, mas passando pelos momentos finais da gestação; sentia que x bebê estava prontinhx para nascer — quer sensação mais animadora do que essa?!
No começo da gestação, uma moça, que teve seus dois filhos por cesárea, arregalou os olhos quando eu disse que não queria anestesia nem qualquer intervenção no parto: “impossível! as dores são fortes demais; você é muito corajosa”… pois corajosa acho quem enfrenta hospital, correndo o risco de passar por algum tipo de violência obstétrica, que pode acontecer de tantas formas.
Voltando ao relato: deu fome, comi uma banana mas logo depois vomitei tudo (a primeira vez que vomitei durante toda a gravidez). Evacuei também; é o corpo se limpando, liberando-se de tudo, pensei. Tomei outro banho — e que gostoso o contato com a água! Saindo da ducha, as contrações vinham fortíssimas. Aí veio aquela famosa sensação que parece vontade de fazer cocô, mas não é porque já tinha feito… Eis que bate a dúvida: será a cabeça do bebê já querendo sair?! E nós aqui em casa!
Com toda a calma, entre os minutos que separavam uma contração da outra eu me preparava pra sair de novo. Durante as contrações eu realmente me entregava, gritava, me jogava no chão, fazia o que o corpo pedia. Eram mais ou menos 9h da manhã. Nem deu pra perceber o tempo que passou, ainda mais porque realmente com todas as janelas fechadas não se sentia a luz do sol dentro do apartamento.
Agora imagine se eu tivesse tomado o remédio que a parteira tanto insistiu em me dar. Estaria talvez dormindo, sedada, durante toda a manhã. Como teria transcorrido todo o trabalho de parto? Pois não foi melhor ter deixado tudo rolar naturalmente, sem (des)acelerar o ritmo do meu corpo e do bebê?
Não conseguia nem me sentar no carro, porque sentia a cabeça do bebê prestes a sair! As contrações vinham, eu me segurava, agora dizendo: — pera um pouquinho bebê! espera chegarmos na casa de parto!