OUVIR MÚSICA COM O FRANCISCO

é uma das coisas mais divertidas — não somente ouvir como cantar e inventar juntos letras e ritmos.

Muita gente, já na gravidez, estimula a audição do bebê dentro da barriga. Meu caso não foi diferente. A gente tocava musiquinhas calmas na hora de dormir. Durante o dia, escolhia algum cd interessante, para eu cantar junto. É normal também ter à mão aquelas coletâneas de músicas especiais para bebê, cantigas de roda, coisas do tipo. Mas esse post é sobre outras músicas — não direcionadas a bebês ou crianças — que a gente curte junto com o Francisco.

Nos primeiros meses, ele escutava muito Bob Marley: “One love” era a preferida. Também deixávamos tocando Cesaria Evora. Era impressionante como Francisco parava tudo o que estava fazendo para prestar atenção ao solo de violino de “Perseguida”.

Aí chegou o dia em que ele ficou mais fascinado com “Bohemian Rhapsody”, do Queen. Assistimos inúmeras vezes ao clipe.

Outra vez, me deparei no youtube com Bruno Mars, numa parceria com Mark Ronson (ou vice-versa). Esse é outro vídeo que assistimos muito nos últimos meses. E de quebra tocava toda hora nas rádios pop. Aproveitando os hits do momento, tinha “All about that bass”, com Meghan Trainor.

Durante uma troca de fralda comecei a cantarolar: “não sei não, assim você acaba me conquistando…”

Jorge Benjor está quase sempre tocando. Seja toda a “Tábua da esmeralda”, seja “África Brasil”. Quando o Chico começa a chutar a bola, lá vem

Umbabarauma, homem gol
Joga bola, joga bola
Corocondô
joga bola, joga bola
Jogador

E, para completar, ele canta “Chico da Silva” no lugar de “Xica da Silva”…

Comprei “Bicho”, do Caetano Veloso, por conta de “Leãozinho”. Mas uma das músicas que a gente mais canta é “Olha o menino”. Jorge Benjor de novo.

Novamente no youtube, me veio a ideia de mostrar a ele “Paradise”, do Coldplay.  Ficou encantado com a história do elefantinho que vai em busca dos amigos.

Em casa, nós dois, entre uma brincadeira e outra, sempre vem alguma música. E eis que comecei a cantar “AA UU”, dos Titãs.

Aí aproveitei e assistimos “Homem primata”

O efeito é meio estranho… eu cantando para ele músicas que eram do meu tempo de criança. Tenho na memória eu cantando “homem de massa, capitalismo selvagem”, na frente do rádio, sem entender boa parte do que eles diziam.

Quando vai passear de carro com o pai, ouve Rammstein — essa é a preferida –, David Bowie, Alceu Valença…  um pouco de tudo o que nós mesmos gostamos de ouvir e temos vontade de compartilhar com ele.

Finalizo essa lista com a música que ouvimos logo pela manhã. Deixamos o cd acústico da Gal Costa no despertador. Assim, na primeira troca de fralda, a gente canta junto “Baby”

E quem sabe daqui um tempo faço outra lista, com as novas músicas que vão entrando no nosso repertório…

“SEMPRE PRECISEI DE UM POUCO DE ATENÇÃO”

é a primeira frase de “Teatro dos vampiros”, música do Legião urbana. Criança entre os anos 80 e 90, escutava muito no rádio os sucessos da banda. Sem me considerar uma fã deles, conheço a letra de muitas das canções — dentre tantas,  essa é uma das mais marcantes.

“Dezesseis” apareceu num sonho e o já falei de “Teatro dos vampiros” em outro post: não lembro mais do pesadelo, mesmo assim a letra música volta à mente de tempos em tempos. Só que, agora, em vez do trecho “voltamos a viver há dez anos atrás”, fico pensando mesmo no comecinho: “sempre precisei de um pouco de atenção, acho que nem sei quem sou, só sei do que não gosto”. Fui até atrás de uma análise da letra — na verdade, mais interessante é a prévia à interpretação, a historinha por trás da música, a referência a Entrevista com o Vampiro de Anne Rice, etc. etc. Dar uma única leitura a uma canção como essa reduz seus significados. De toda forma, é um esforço muito válido.

legiao_teatro_dos_vampiros

A foto é retirada da versão acústica da música, aqui.

Pensando em mim, sempre busquei contato com outras pessoas, por mais que também tenha meus momentos de solidão. Preciso falar, e assim é necessário alguém do outro lado que me escute, entenda, me dê um retorno. Tive a sorte de ter boas amizades que me davam essa oportunidade; discutia também muito a relação ao longo dos namoros. Nos últimos tempos, tenho tentado recorrer menos a essas conversas. Mantenho em mim as ansiedades, receios e reflexões. Talvez seja coisa dessa fase adulta da vida, mãe e distante das pessoas com quem vivi muito tempo. A escrita é uma das formas de lançar palavras ao outro, de pedir atenção, nem que seja de mim mesma, no futuro: — Ei, Ana Amelia ali na frente, leia-me!

ANTES, EU ACHAVA QUE

ovonovo_-10— o Francisco dormiria no berço; mas Marco e eu, em pouco tempo, sentimos que era muito mais bonito que ele ficasse do nosso ladinho, na cama mesmo; foi a melhor mudança que fizemos (textos legais sobre cama compartilhada aqui e aqui; recomendações e cuidados, aqui)

— eu enrolaria o Francisco num cueiro, para ele dormir todo aconchegante e apertadinho, como no útero; mas, da primeira vez que eu tentei, ele reagiu com tanta força que deixei a ideia de lado (recomendo que se leia sobre exterogestação; faz todo o sentido e ajuda os bebês na transição dos primeiros meses: aqui, aqui e aqui).

ruído branco ajudaria a acalmar os momentos de mais desconforto; afinal, o barulho do sangue pulsando dentro de mim, que ele ouvia continuamemte antes de nascer, é um ruído branco; tentei algumas vezes e não vi um efeito que me fizesse adotar a prática; dormimos ouvindo música: Ayo, Mayra Andrade, Cesária Évora, Lambchop, Nick Drake, Balaké Sissoko, João Gilberto, Beck, qualquer coisa calma.

— o sling de argolas seria meu preferido; mas não me acostumei com a argola, a todo momento preciso ajustar e nunca fica bom; estou usando muito o pouch, tanto em casa como na rua (meus posts sobre slings aqui).

— usaríamos o balde para dar banho; no começo foi uma maravilha, mas o Francisco cresceu e não queria mais ficar lá dentro; faz uns meses o banho é de chuveiro mesmo: Marco o segura e eu vou lavando; ele ama.

— eu não daria de mamar na posição deitada, por receio de dormir e me movimentar; pois essa é a nossa posição preferida! e mesmo que eu durma, não me movo; dizem que é um instinto da mãe, coisa que eu acredito; é lindo, selvagem, ajuda a descansar, ideal para amamentar de madrugada; só é preciso controlar sempre que possível a pega — como sempre, aliás.

— eu faria shantala todo dia, seguindo todos os movimentos; mas, como Francisco não reagiu bem das primeiras vezes, eu faço uma massagem própria nossa, quase toda concentrada nos pés, o que ele prefere e curte. Ainda vou escrever um post sobre o livro “Shantala”, emocionante relato do Frédérick Leboyer, que recomendo muito. Um bom guia sobre shantala: aqui.

A lista poderia continuar. Há sempre algum plano, sonho ou ideia que muda totalmente no momento em que colocamos em prática. E não estaria no imprevisível a graça de ir vivendo e aprendendo sempre?

É ESSE O DISCO

que vi na biblioteca quando comecei o curso de alemão; a imagem da capa me atraiu, levei para casa. São poemas do Heine com acompanhamento de jazz. Isso já faz um tempo.

Ontem sonhei que íamos atrás de Gert Westphal, a voz dos poemas de Heine.

Sei que fomos numa loja de discos, procuramos por mais trabalhos que Gert tivesse feito. O que no sonho achamos, não sei, mas foi divertido. Agora descubro que ele se tornou famoso por suas leituras (era o rei dos leitores) de Flaubert, Dostoievski, Mann; e é ao lado da sepultura deste último que está enterrado, num cemitério em Zurique.

CHEGOU UM DIA

de arrumar tudo: então abrimos os armários, separamos livros, trocamos de lugar algumas coisas na casa. Na bagunça, os vinis iam sozinhos para o toca-discos, a música começava – um susto! Tudo bem, os discos de vinil são assim mesmo, sabem tocar sozinhos. Fui lavar as mãos e a torneira era ao mesmo tempo uma cafeteira e uma máquina de costura. Só era preciso ter cuidado para não levar uma agulhada.

Bem que essa poderia ser a casa de Zazie, pensei eu.
Ou o apartamento de “Vinil verde“.

EU FIZ LISTAS

de coisas a fazer, assuntos para conversar, datas importantes para lembrar, leituras, filmes, lugares para conhecer, alguns pedaços de música; mas de nada adianta: o que sai na hora é imprevisível.

Há também uma lista de regras que eu mesma me coloco, uma pequena disciplina para coisas simples do cotidiano: coisas que eu devo fazer todo dia, outras coisas pra não fazer sozinha. Elas valem durante um tempo. Por que deixo essas regras de lado?

Das duas uma: ou não sei fazer listas, ou não sei como segui-las – ou vai ver é assim mesmo que as listas são.

UM SHOW TERMINA

e ficamos alguns minutos esperando o bis. Os amigos que estavam comigo resolvem ir embora. Fazem planos de viagem, eu começo a lembrar de um restaurante no Rio de Janeiro, o nome me foge, onde a sopa é muito boa.

Fico sabendo que tem alguém me esperando fora da sala. Subo as escadas, elas são muitas. Quando chego lá fora, a pessoa que me esperava já tinha ido embora – ou na verdade não estava me procurando.

NO CURSO DE INGLÊS

o primeiro professor se chamava Marcos: nunca falava em português, entendíamos tudo o que dizia. Depois, uma senhora ex-secretária bilíngue. O sotaque dela era criticado discretamente pelo professor do básico 3: um japonês que trabalhava na Varig e viajava pelo mundo, dando preferência aos lugares obscuros da Ásia, como Bandar Seri Begawan, capital do Brunei.

No intermediário o professor era apaixonante. Ele não conseguia nos convencer que tinha 14 anos – assim como eu também parecia mais velha. Ia no Balafon, balada na rua Sergipe, entrava porque enganava a idade. Era de Recife, quando falava português ficava evidente. Amava Pink Floyd, passou Wish you were here e umas outras deles. Sobre ele, me confundo particularmente: ele usava camisa xadrez azul de flanela, como eu também?

DUAS FESTAS

uma dia 17 de agosto; essa bem-sucedida, Karen e eu organizamos outra, em novembro, dia 23.

A primeira queríamos que fosse inovadora: talvez a primeira festa dos anos 90 depois dos anos 90. Esforço do grupo de amigos em lembrar das músicas da década anterior, com bem menos recursos na internet do que hoje. A segunda era à fantasia, com tema dos personagens de desenhos, principalmente. Todo o trabalho, o tempo e as andanças para achar um lugar, salão, casa ou algo parecido, alugar por uma noite, ir comprar bebidas onde fosse mais barato, equipamento de som e luz, fazer um convite legal, retocar as imagens com os meios amadores que tinha, colar cartazes por aí, fazer lista de emails. Depois: limpar tudo, e ver o que ainda hoje sobrou.