OUTRO ASSIM

igual, do mesmo jeito, de novo: é o que a gente procura nas coisas; algo parecido com outra coisa, que leva a outras coisas parecidas: ver o mesmo tipo de filme, ler um mesmo livro várias vezes, assistir a mesma novela que reprisa. Uma vez li uma crítica de cinema que dizia isso, de maneira negativa: os mesmos tipos de filme hollywoodiano são refeitos por anos e anos. As pessoas continuam a assistir, se divertir e esperar por mais.

FIQUEI SURPRESA

com a história do Tetris, que eu desconhecia: a URSS caindo, um pesquisador cria o jogo, que se espalha sem controle, direitos ou patentes. Mesmo quando o jogo passa o outro lado da cortina de ferro, acordos são furados, contratos não são cumpridos, até que um golpe certeiro da Nintendo derruba todos os outros concorrentes.

A história pode ser menos simples do que o jogo – por conta tanto de uma coisa como de outra sonhei esta noite com pecinhas caindo, esperando um encaixe com outras.

TUDO É FEITO

de átomos, fomos informados numa aula de ciências. Já tinha visto na tevê: eram bolinhas que giravam umas em torno das outras.

Esses pedacinhos de tudo se mexiam, mesmo nas coisas mais sólidas que existem, eles estão lá, não param. E como poderíamos ser formados por algo que tem tantos espaços vazios?

Eu ficava pensando se poderíamos esfarelar como uma paçoca, se os átomos todos resolvessem se mexer de um jeito diferente, de repente.

HOJE EU QUERO SAIR SÓ

o clipe dessa música saiu bem na época em que eu vim passar férias no Rio com a família. O colorido do centro da cidade me encantava, era um outro ar, mesmo que parecido, diferente do centro de São Paulo que eu gosto tanto.

Era julho, tinha Copa do mundo como teve este ano. Uma noite eu liguei pro Teleguiado, aquele programa com o Cazé, ele me atendeu. Sempre tinha pensado em pedir o ‘Devil’s haircut’, do Beck; mas como era copa a gente precisava pedir clipes de músicas brasileiras. Então não teve outro.

Tanto o Beck como o o Leninne estão em seus clipes andando pela cidade.

A letra também me convinha um tantinho, lá em 1998. Hoje talvez um pouco mais do que antes.

INDO E VINDO

do hospital semana passada, na primeira ida pensei: esse lugar que nos afasta da doença, da morte. Que coloca tudo num mesmo fundo branco, um mesmo cheiro que não é cheiro de nada: assepsia, silêncio, frieza.

E como era tudo num certo antes que não temos mais: dos partos às mortes, tudo acontecia aqui no quarto, ao lado, no contato. Agora, diagnósticos por imagem, e não vemos mais quem sofre.

Ainda voltei ali mais vezes; e voltando, recorri a  imagens de hospitais, de filmes – me veio logo Fale com ela, depois a maca de A vida secreta das palavras (e Srta. Cora do Cortázar), os sanatórios como em O sopro do coração, ou mesmo Um estranho no ninho -, os seriados – Plantão médico que eu via tanto na tevê, e o número considerável de séries médicas, já um gênero à parte.

A repetição: dos turnos de enfermeiros, a visita diária rápida da médica que tem tudo a dizer na ponta da língua, as refeições com sua montagem e disposição, trouxe um pouco do sociável, dosado de acolhida e distância.

Talvez por ter uma cama ali para mim, por eu ter levado livros, por ganhar um tantinho de comida. Por ter uma abertura, mesmo que mínima, de janela.

Talvez por eu poder reencontrar ali, em outro cenário, os mesmos personagens com quem convivo, num roteiro desconhecido. E viver outras cenas, falar outras palavras.

LISTA DE PROFISSÕES

que eu já pensei em seguir, e ainda penso em alguns momentos:

1. funcionária do metrô
2. cabeleireira
3. arquiteta
4. percussionista
5. funcionária de sala de cinema (como meu avô, que fazia um pouco de tudo: que ia pegar rolos de filme na distribuidora, rasgava o papelzinho na entrada, ficava na bilheteria, etc.)
6. cartunista da Folha (nada mais, nada menos)
7. ghost-writer
8. apresentadora de programa de viagem da tevê paga
9. jardineira

SABE AQUELA COISA

só sei que nada sei?
É isso, não tem mais discussão.
Desde pequena, vendo “Vinte mil léguas submarinas”, “A volta ao mundo em oitenta dias” na sessão da tarde na tevê, eu jurava que Jules Verne era inglês. Começando a facu, descobri a nacionalidade dele. Mesmo assim, pra mim ele continua inglês. E até hoje não li nada dele, esse francês tão inglês.

E Musil? Pra mim, outro britânico. Hoje descubro: austríaco, como vários outros que davam a Viena o peso de Viena. Tanto austríaco, gente. Wittgenstein criança na escola junto com Hitler. Schönberg fugido da Europa, nos Estados Unidos, vizinho de Gershiwn, os dois se disputando em partidas de tênis… ai ai.

Nada como a leitura de umas páginas de Wikipédia.

NÃO CONSIGO SER FIEL

a séries, mesmo sendo ótimas, mesmo tendo todos os episódios ao alcance da mão.

Flight of the Conchords foi uma referência perdida que eu recuperei faz um mês. A coisa mais engraçada e modestamente bem feita dos últimos tempos – não só a série, mas as músicas, feitas antes da série, e o documentário dos neozelandeses num festival de música. Esqueci de assistir os episódios a partir do último da primeira temporada. Só a Karen é que me lembra de assistir.
Ainda preciso pensar (ou achar) a explicação para o nome da banda. Tenho uma hipótese, mas preciso conhecer mais sobre aviação.

Tudo o que é sólido pode derreter é um sopro renovador na dramaturgia da tevê cultura. Depois de “O Mundo da Lua” e “Confissões de adolescente”, o que tinha sido feito no gênero, para adolescentes? Não lembro de nada.
Os caras de “tapa na pantera” provaram que sabem fazer mais do que um “sucesso do youtube”, e estão trazendo leituras apaixonantes dos nossos “clássicos da literatura”, e acho que sem cair na reconstituição ou na explicação facilitada para vestibulandos. Mesmo. E engraçado ver um ex-colega das aulas de sintaxe na Letras fazendo o pai da protagonista…

Nada como a postagem de séries da televisão na internet.