A TROCA DE FRALDA

ovonovo_era um momento bem estranho, no começo: tudo novo, pra nós e pro Francisco. Lembro que ele estranhava, reclamava, choramingava. Um bebê só conhece a posição de deitar depois de nascer. E não somente deitar mas estar rodeado pelo vazio, cercado de luzes e ar. Deve dar medo. Também acho que escolhia a hora errada: ele queria mamar e eu estava ali despindo, limpando.

O trocador fica no banheiro, onde é mais quente; é um modelo dobrável. Colocamos uma flanela por baixo do Francisco. Para limpar, algodão embebido em água morna. Aqueles lencinhos umedecidos podem até ser práticos, mas deixam a pele mais irritada. Se o algodão com água limpa bem, pra quê gastar mais? Maisena deixa tudo sequinho antes de colocar a fralda. Sobre as pomadas, percebemos com o tempo que é melhor evitá-las. Se aparece uma feridinha, melhor esperar que ela se cure sozinha (lavando sempre bem e recorrendo à maisena). Colocar sempre pomada tira a defesa natural da pele.

Voltando ao estranhamento do início: durou alguns dias. Fomos nos dando conta de que nós mesmos, Marco e eu, poderíamos relaxar mais, curtir o momento. Deu bem certo. Trocar a fralda virou uma brincadeira, talvez a primeira, do Francisco: beijar, massagear, conversar, cantar são algumas das coisas que começamos a fazer. Após ter mamado, é claro, a troca de fralda poderia durar meia hora, até mais! Era a oportunidade para ele mesmo conhecer o seu corpinho, testar a própria voz,  observar o mundo. E ficar um tempo livre da fralda…

Meses depois, a troca de fralda passa a ser um momento meio entediante, ahaha, visto que se repete tantas vezes ao dia! Pelo que já ouvi, isso acontece com muitos bebês. Apelamos para a criatividade: coloco brinquedos dentro do armário do banheiro, deixamos ele se virar (tomando muito cuidado!) dentro do trocador e, inclusive, passo a trocá-lo em outros lugares, em cima da cama, no chão da sala, para variar um tantinho.

Trocando a fralda em outros lugares da casa, me passou pela cabeça a (ousada) ideia de deixar o Francisco sem fralda, brincando… Nem pensamos a respeito, mas nós, adultos, condicionamos a criança a usar fraldas para, anos depois, tirá-la desse hábito. Sobre isso, é interessante ler esse texto sobre elimination communication. Mesmo sem ter feito com o Francisco (poderia ter feito, por que não?), penso bastante nessa questão, ao menos inspirando-me nos seus princípios: manter olhos abertos para a linguagem corporal do bebê, comunicar-se com ele de todas as formas possíveis, passo a passo…

COISAS QUE APRENDEMOS COM O FRANCISCO

nesses primeiros meses– e vejo que são lições para todo o tempo que temos pela frente:

[esse post é uma lista — como tantos outros; tantas listas de tantas coisas se espalham na internet todo dia… por isso, não me aprofundei em nenhum dos itens. fica para oportunidades futuras falar mais sobre cada uma das questões que levanto]

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Tudo é imprevisível: a que horas ele dorme? quantas fraldas sujas por dia vocês lavam? (sim, temos fraldas de pano! falarei mais disso em outro momento) quantas vezes mama? durante quanto tempo? — nenhuma dessas perguntas tem resposta definida. No começo pensava: “depois dessa mamada ele vai dormir, aí eu poderei tomar um banho rápido, depois preparo a comida…” ou “vamos passear agora de tarde, aproveitar esse sol bonito” (sobre a dificuldade em sair de casa, me identifiquei muito com esse texto, por mais que tenhamos um bebê e não temos cachorro). Doce ilusão. Nenhum plano desse tipo funcionava. O bebê tem seus ritmos. Difícil controlar ou prever o que quer que seja.

Rotina, adaptação? O que significam essas palavras? Como diz a canção, “tudo muda o tempo todo no mundo”. Não se passaram nem seis meses, e já é difícil dizer o quanto a vida mudou de lá pra cá… e não para de mudar. Hoje o Francisco começa a dar uma risadinha fofa. Amanhã a risada já é outra. Nos primeiros meses, as cólicas incomodavam. Passado aquele tempo, vem as coceiras na gengiva. E vai saber se as cólicas não voltarão, quando ele começar a comer! Enfim, a lista poderia se estender…

A vida tem suas fases. O recém-nascido passa por várias delas, num curto espaço de tempo. Isso eu já vinha percebendo desde o comecinho: havia semanas com mais sono, outras com menos sono; depois uma outra semana super sensível e apegado a mim; em seguida, outras semanas muito independente. Só depois fui descobrir esse valiosíssimo texto sobre os picos de crescimento e fases de desenvolvimento do bebê. Tudo ficou claro, então! É um texto pra ler várias vezes, a cada nova fase.

A paciência está relacionada ao item acima. Tudo passa, é um momento. Tomemos o exemplo das cólicas: o Francisco teve aquele tipo de cólica de gases; todo começo de dia, pelas 7h da manhã, lá vinha a dificuldade em mandar pra fora os gases e o cocô. Muita massagem, muito colo, muito peito e junto com tudo isso: paciência. A gente só consegue transmitir calma se nós mesmos estivermos calmos.

Tolerância: um bebê é uma enorme maravilha; mas todo pai e toda mãe enfrenta seus problemas, cada um ao seu modo. Aprendi muito a respeitar e julgar menos os outros, desde que o Francisco nasceu. Mas isso não quer dizer que eu aceite que os outros me julguem ou critiquem a nós gratuitamente. Para dialogar, não é preciso compartilhar das mesmas visões de mundo e valores. Falo um pouco sobre isso aqui.

A força da vulnerabilidade: quer coisa mais frágil e mais vulnerável que um bebê? E já parou para perceber que força tem os bebês? Quando estava grávida, vi esse vídeo, que me tocou muito. Dá até vontade de ler sobre a pesquisa dela. A cada dia que passa faz mais sentido para mim. A vulnerabilidade, como ela define, nos permite amar sem esperar retorno, nos tira a preocupação de controlar ou prever o que quer que seja, nos motiva a procurar uma conexão com o mundo — tudo a ver com os outros pontos que estou listando aqui.

Somos pessoas importantes: a gente pode pensar em ser mãe ou pai somente em termos de “responsabilidade”, de “exemplo”. Acredito que não se resume a isso. Ter o Francisco perto de nós nos faz querer ser pessoas melhores, cada vez mais. Como já disse acima, como posso transmitir calma ou felicidade a alguém se eu mesma não me sentir calma e feliz? Esse assunto é longo, vai reaparecer em outros posts meus! Por ora, a lista se encerra aqui :)