O PASSAPORTE NOVO

tinha saído; fui buscar o meu num guichê.

A senhora me entregou o passaporte, muito gentil; e junto com ele vários pequenos papéis – como aqueles comprovantes de votação que a gente tem que ir acumulando eleição após eleição. Cada papelzinho daquele deveria ser entregue em países diferentes: uns para a Dinamarca e o resto da Escandinávia, outros para os países asiáticos, cada grupinho de uma cor diferente:

– Tome cuidado para não perdê-los; esses tíquetes são muito importantes – dizia a senhora.

MEU CPF PERDIDO

ou talvez o cpf de todo mundo tenha sido cancelado.

Sei que eu pelo menos deveria fazer um novo cpf. Fomos todos a um tipo de poupa-tempo. Uma sala onde senhores distribuíam, com um critério desconhecido, senhas. Uma hora um senhor dizia: – Só para os homens. Depois: – Só para as mocinhas!… Aflita, fiquei atrás de um senhor que decidiu me entregar a senha, que já era uma ficha para preencher.

Todo mundo acabou conseguindo a sua ficha.

Fui num balcãozinho preencher meus dados. A caneta que eu tinha era vermelha, uma bic comum. O número do meu cpf, eu tinha esquecido, e no sonho ele foi me aparecendo diferente do que ele é na realidade. Mesmo assim, fui preenchendo com esse número estranho, que me ludibriava.

Ele mudava, se esquivava. Eu rasurava a ficha, que ficava amassada, com dobras fortes.

Na hora de assinar, eu fiz o movimento de mão habitual e a assinatura saiu muito diferente. Fiquei aterrada, preocupada. E agora, com essa assinatura diferente, como é que eu vou apresentar essa ficha?

Como terei duas assinaturas diferentes? E se descobrirem, compararem?

Um amigo chega meio bravo e apressado, dizendo que ele mesmo tinha conseguido o cpf novo, depois de pegar uma fila. Eu ainda tinha que apresentar a ficha. Estava atrasada.

As pessoas estavam impacientes, não queriam ficar me esperando, enquanto eu hesitava sobre essas novas informações que apareciam a meu respeito.