de mais de seis horas: era uma boa oportunidade para sair do aeroporto e fazer uma visitinha rápida pela cidade.
Era bem de manhãzinha, sábado, verão. Peguei o metrô, linha azul.
Quando achava alguma estação interessante, descia do metrô e tirava umas fotos da paisagem que se poderia ver da plataforma. Quase toda a linha era aérea. Lembro de poucos trechos subterrâneos. Hoje pensando, por que simplesmente eu não fui conhecer o centro da cidade? Seria a escolha mais óbvia.
Até de uma das estações podia avistar o centro.
Ao mesmo tempo, era legal avistar um pouco da vida da cidade, lá do alto da plataforma. O dia estava começando, o calor prometia.
Na verdade, eu estava curiosa pelo nome da estação e de uma avenida, Cicero — é como se chama um grande amigo. Nem me dei ao trabalho de espiar pelo Street view. Fui às cegas passear pela Cicero Avenue.
Lá chegando: tudo meio deserto. Esperava uma via movimentada, com comércio. Até pensava em comprar um notebook — estava precisando, tinha que terminar um trabalho para a faculdade durante a viagem. Mas que nada. A avenida era calma, terrenos baldios, lojas fechadas. Os EUA tinham acabado de viver aquela super crise.
Resolvi continuar por aquela larga via, sob o sol que ia esquentando. De repente, do outro lado da rua, um moço grita olhando pra mim: — HEY, WHITE GIRL!
Ops, dei-me conta, então, de que todas as pessoas que caminhavam pela rua eram negras. Estaria em meio a um bairro negro ou coisa do tipo. Em seguida, percebi que eu era branca. Sei lá, pensei, mas eu não seria latina, pelo menos? O que devo fazer, ir embora daqui?
Já cansada de tanto andar em linha reta naquela longuíssima avenida, dei meia volta, em direção ao metrô. Sentada perto da janela, admirava um pouco mais a vista. Resolvi ir para o aeroporto, sem parar no centro nem em outro lugar. Lá, compraria um sanduíche, um suco, e esperaria pelo vôo em direção a Québec, onde me esperavam outras histórias.