ERA UMA LOJA DE DOCES

na rua principal da cidade. no fim da tarde, depois do trabalho ou da escola, encontrava-se ali muita gente, indo saborear um quitute — pudim de leite, arroz doce, cocada, brigadeiro, paçoca, quindim, doce de abóbora, figo em calda, goiabada, pé-de-moleque… eram inúmeras as opções de escolha, assim como era também variado o gosto da freguesia.

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Cada um escolhia seu doce preferido. Até o dia em que os fãs de cocada pensaram: “por que os outros não comem cocada? Pois é o melhor doce que existe!”

Eles tiveram a ideia de oferecê-la a quem estivesse comendo outros doces. Alguns aceitaram, inclusive concordaram que cocada é realmente um doce muito bom. Mas teve gente que achou essa iniciativa um absurdo, afinal, havia espaço para todo tipo de doce na loja. Um fã de cocada conseguiu uma vaga na gerência da loja. Tentou convencer o dono a aumentar a oferta de cocada, restringindo a variedade de outros doces. Pensava em suspender a venda de quindim, pois achava um absurdo existir um doce tão amarelo, com gosto de ovo…

Os dias passaram e a insatisfação da clientela só aumentava. A qualidade dos doces caía, com exceção da cocada, único doce que merecia espaço ali, segundo o gerente.

O que aconteceu depois eu não sei… será que o gerente conseguiu transformar a loja em uma cocadaria? Ou tudo voltou como antes, quando cada um tinha sua preferência, seu prazer em comer seu doce preferido, qualquer que fosse?

OS AGENTES DO DESTINO

não são os personagens principais do filme, mas um grupo que os observa, que os controla: é graças a eles que tudo vai acontecer como previsto, como escrito no livro.

No entanto, esses personagens querem outra coisa, mesmo que leve tempo, mesmo que leve o filme todo, que o filme acabe justamente depois de conseguirem convencer que a história deles vale a pena.

O QUE É PRÊT?

há o substantivo e o adjetivo: o primeiro, derivado do verbo prêter, emprestar, deixar algo à disposição de alguém por um tempo determinado; o segundo, o estado de algo preparado, feito, pronto. Um pouco diferentes no sentido, os dois surgem do latim praesto: à disposição, à mão, aqui presente.

Em português, o equivalente mais próximo é prestes: próximo, iminente, que está a ponto de acontecer, ligeiro, rápido – mas os usos de prestes já são arcaicos para prêt em francês; o que também vale para o verbo prestar.

Com o mesmo som de prêt em francês existe près: a pequena distância – mas nesse caso a origem é outra, também latina: a mesma de pressa, pressão.

O QUE É ROUTE?

palavra aparentemente muito simples: caminho, trajeto, estrada. Pode opor-se a caminho, no sentido em que a route é algo planejado, demarcado oficialmente, sinônimo de estrada. O adjetivo derivado, routier, é equivalente ao nosso rodoviário. Logo, temos transport routier para transporte rodoviário; gare routière para a nossa rodoviária, o terminal rodoviário (rodoviaire em francês não existe).

Outro derivado de route, routard: aquele que viaja com poucos recursos, o mochileiro, hitchhiker. A palavra é patenteada em francês, por um dos criadores do famoso Guide du routard.

De route também vem routine, um caminho frequente.

A etimologia pode desconcertar: route, assim como rota, vem do latim rupta, caminho aberto, particípio passado no feminino do verbo rumpere, romper. Assim, rota (estrada) divide sua origem com roto (rompido, danificado).

O QUE É ATTENDRE?

à primeira vista, é um falso cognato para o português: significa “esperar, aguardar; permanecer num lugar até que algo aconteça: que o trem chegue, que venha uma resposta, que o médico chame”.

Mas attendre não está tão distante do português atender; ao menos ambos vem do latim attendere: “obedecer, dar auxílio, observar com prudência, ser vigilante, prestar atenção”; e atenção/attention também: “concentrar-se, colocar a mente em escuta e reflexão”.