era o título de um post que publiquei em 5 de novembro de 2003, no colher. Cheio de pontos de interrogação, me questiono sobre o tempo e uma provável preguiça. O interessante é que, relendo hoje, não me parece preguiça o que eu sentia. Quem sabe fosse tédio.
Lembro bem que eu me recusava a sentir tédio. Tanta gente ao meu redor falava dele, mas eu achava que aquilo não me atingia. Eu tinha muito o que fazer, sempre uma atividade, um compromisso, uma tarefa. Sentia-me feliz ocupada e distraída.
Repensando agora, evitar o tédio era também evitar pensar sobre coisas importantes na vida. Sempre em movimento, não me permitia enfrentar as dúvidas que nos perseguem.
Durante muito tempo quis ser uma menina exemplar: boas notas na escola, simpatia. Era uma tentativa de agradar, satisfazer alguma possível expectativa dos outros. Essa menina que quis ser exemplar tornou-se mãe e se confronta com a mesma questão. Só que se deu conta de que não é necessário agradar a ninguém mais que eu mesma. Se estou feliz e segura das minhas escolhas, então o mundo estará feliz.
De uma forma ou de outra nós enfrentamos o tédio, o Francisco e eu, em dias chuvosos, em que o melhor é ficar dentro de casa. Aí me defronto com minhas escolhas: suas vantagens e seus pontos fracos. Como tanta coisa na vida, nada é perfeito, tudo tem seu defeito. Luz e sombra existem uma pela outra.
Algo estava acontecendo lá em novembro de 2003. Eu não sabia explicar o quê. Fazia muitas alusões a mudanças, transformações, dar espaço a coisas novas, futuro.
Como faço agora, exponho pela escrita minhas incertezas, lanço-as ao futuro, para que eu mesma possa ler anos e anos depois.
Talvez sim. Está difícil de explicar, de tentar esclarecer. De saber qual seria a razão. Não que haja só uma razão. Como também não dá pra se dizer que nada está acontecendo. O tempo está passando – como sempre. Tenho coisas pra fazer – tem sido assim desde há muito. E o que há de diferente então nesse exato momento? Cansaço? Ansiedade? Angústia? Incerteza? Alegria com pequenas coisas que a gente tenta prolongar? Fins-de-semana que passam rápido como um piscar de olhos? Desilusão? Isolamento? Vontade de desistir com uma coisa pra dar espaço pra outra? Tentar passar a limpo um monte de coisas pra uma folha nova, pra que tudo fique claro? Querer continuar a fazer o que se gosta? Iniciativa de tomar novas atitudes, ao mesmo tempo descontroladas e sensatas? Necessidade de férias que não virão? Dependência de outras coisas pra que hajam mudanças? Não conseguir saber como serão as coisas mesmo a curto prazo? Tudo isso junto. E nem tudo isso também.
Como anda tão difícil pra mim mesma tentar definir, parece que todo mundo consegue entender. E uma das maneiras de chegar mais perto disso está sendo a de demonstrar em maior ou menor ângulo justamente o que eu não sei o que é.