NÃO USAR DESODORANTE

parece algo impensável — como assim? Controlar a transpiração e o odor de suor seriam coisas imprescindíveis para a vida em sociedade. A higiene é prioritária: tomar banho, lavar os cabelos, estar limpo. É engraçado como nossa cultura brasileira ressalta muito bem isso. E mesmo o confronto com os hábitos europeus dá o que falar. Convivendo com alguns franceses, dentre as amizades ou no ambiente de trabalho, sempre rolavam alguns comentários e risadinhas por conta do mau cheiro dos estrangeiros que não se lavavam.

Pois é, estou tocando numa questão cultural bem vasta… que na verdade não é o tema principal aqui. Meu ponto é falar do que vivi, no meu corpo. Faz uns anos, eu comecei a transpirar com mau cheiro, mesmo usando desodorante. As roupas pegavam o cheiro. Era incômodo, estranho. Perguntei ao homeopata. Surgiu a ideia de deixar de lado o desodorante. Provavelmente minha pele já estava saturada desses produtos químicos, precisando liberar as toxinas, limpar-se. E o desodorante dificultava esse processo. Comecei a ler na internet todo o perigo dos desodorantes para o sistema linfático, inclusive a relação entre eles e o câncer de mama. Como paramos tão pouco para pensar nesse assunto?

Uma professora velhinha me disse que na sua juventude não existia desodorante, nem toda essa enorme variedade de cosméticos. Minha avó também nunca se depilou. Num curto espaço de tempo, de uma geração pra outra, nossas prateleiras se encheram desses potinhos, bisnagas e sprays… e se tornaram praticamente um dever.

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Meu marido é uma exceção na sua família, nunca quis usar desodorante ou perfume. Ele tem um trabalho braçal. Transpira. Mas, surpresa, não cheira mal como uma pessoa que usa desodorante normalmente mas esqueceu de passar um dia.

Tudo isso foi se juntando na minha mente. Ao mesmo tempo, comecei a ler várias outras experiências de gente que pretende abandonar os cosméticos industriais, optando por alternativas naturais.

É claro que passei por situações engraçadas. As pessoas próximas foram percebendo minha mudança de cheiro. Mas é um assunto delicado de abordar… então já ouvi que me “tornei europeia”, coisas do tipo. Entendo. Eu mesma tinha dificuldade de contar o que acontecia comigo. Tentava vários desodorantes mas minha pele recusava com um odor indisfarçável.

Até que encontrei uma singela solução que está sendo uma maravilha — sumo de limão. Espremo uma metade de limão e passo nas axilas, com a ponta dos dedos. Simples assim. Limão é forte, por isso não é bom usar quando se vai expor a axila ao sol, bem como os dias de depilação. Funciona que é uma beleza.

O que sobra do suquinho de limão eu bebo com água morna e sal do himalaia, em jejum, ao acordar.

Tem gente que usa outros produtos, como bicarbonato de sódio, leite de magnésia ou óleo de coco. Cada corpo tem a sua resposta, é preciso ir testando e observando os efeitos.

Fui atrás de desodorante sem alumínio, comprei um da weleda; é bonzinho, mas não tão eficaz e levinho quanto o limão. De toda forma, aqui tem umas dicas. E aqui mais outras.

Enfim, o limão entrou para minha lista de cosméticos e produtos de limpeza, assim como o óleo de coco, o vinagre branco e a cúrcuma, como eu já contei. Em seguida, quem sabe, encontrarei um substituto para o shampoo… veremos!

AS UNHAS DAS MÃOS

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normalmente são assim, cortadas bastante rente. Durante muito tempo, considerava que tinha unhas fracas. Elas não cresciam o bastante. Quando estavam já um pouco longas, quebravam. Eram muito finas, assim como as cutículas. Por isso, sempre nutri aversão por manicures. Com uns quinze anos, fiz mãos e pés num salão de beleza. Saí de lá com os dedos doendo, por conta das cutículas retiradas. Em alguns dedos saía um pouco de sangue.

Mesmo sem ir a manicure, tive fases em que pintava as unhas, em casa, sozinha, poucas vezes com ajuda de mais alguém. O ex uma vez pintou umas bolinhas vermelhas. Ainda assim, elas continuavam curtinhas e mexia o mínimo nas cutículas. Dá pra ver um exemplo da minha unha esmaltada segurando um pedaço de pão — uma das últimas vezes que pintei a unha, com esmalte opaco.

Ano passado, uma das unhas ficou bem fraca. Talvez fosse sinal de falta de vitaminas, devido a gravidez e a amamentação. Fui ao médico — ele viu que estava com vitamina D, B12 e ferro baixos. Melhorou muito agora.

Então venho tentando deixar as unhas longas. Só que elas chegam num comprimento que me incomodam. Eu me arranho sem querer. Aí só me resta cortá-las, como hoje, nessa foto. E esperar, daqui algumas semanas, para ver se aceito melhor minhas garras mais longas.

MEDO DE INSETOS

seja de abelhas, pernilongos, baratas — nós, pessoas, seres humanos, grandes e desenvolvidos, sentimos a ameaça desses animais tão pequenos, mas complexos e cheios de poderes que não temos: voam, sobem paredes, carregam muito peso, trabalham organizadamente em grupo. Eles nos picam, nos machucam, sugam o sangue, incomodam o sono, destroem plantas.

Esses dias tive um sonho, como vários outros sonhos que já tive com insetos (como esse e esse por exemplo) e o tema me voltou à mente. Nos dias quentes, há muitas abelhas e vespas nos passeios que faço com o Francisco. Algumas noites aparecem baratas e pernilongos para nos chamar a atenção: ei, não estamos sozinhos aqui, não comandamos e controlamos tudo.

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Durante a primeira consulta no homeopata, já faz quase 10 anos, ele perguntou: “do que você tem medo?” Uma das respostas certeiras foi: abelha. Quando pequena, acontecia de eu ter muito pavor delas: tinha um copo de refrigerante à mão, saía correndo, jogava o copo para qualquer lado, os olhos cheios de lágrimas — tudo isso porque uma abelha me cercava, atraída pelo doce da bebida que eu segurava. Levei uma ferroada anos e anos depois, em outra situação muito diferente, já longe dos refrigerantes.

Estou tentando encarar o fato, até porque, agora mãe, a gente precisa por um lado proteger e por outro dar exemplo. Não quero esconder meus medos, mas preciso também não ceder a eles. Entendê-los, resolver o que eles significam. Ainda assim, dou um grito frente a barata. Me esquivo quando sinto abelha por perto. Ligo o ventilador no quarto para espantar os pernilongos. Mas também percebo que estou mais tolerante com os insetos. Não os mato mais como antes. Isso veio com o marido, que prefere pegar os bichinhos e soltá-los fora de casa do que dar uma chinelada. Deixo algumas teias de aranha na janela de casa. Até vou observando o desenho que muda, se não me engano, de acordo com o tempo, se chove, se faz calor (coisas do Manual do escoteiro mirim).

Num dos sonhos que tive, percebi que de nada vale matar um inseto, porque eles são inúmeros: um deles equivale a todos os outros, foi o raciocínio que me veio. E, na verdade, eles são como nós, seres frágeis e fortes, aqui nesse mundo, levando sua efêmera vida, cheia de percalços, delícias e encontros. Abro os olhos para entender o que eles nos dizem.

O POTINHO DE CÚRCUMA

já está no armário do banheiro faz um ano. Comprei depois de ler um texto da Sonia Hirsch, comentando sobre os benefícios para a limpeza dos dentes. Vez ou outra uso. Sinceramente, não consegui que se tornasse um hábito. É realmente difícil mudar um costume tão forte quanto a escovação com pasta de dente. Assim como a cúrcuma, a técnica do oil pulling me chamou a atenção, mas até hoje não entrou na minha rotina. Regularmente, tomo uma colherzinha de óleo de coco ao acordar e antes de dormir. Quando dá, faço um bochecho rápido. Ofereço também ao Francisco, que curte o “bocôco” (óleo de coco, na sua linguagem). Acima de tudo, procuro entender que o principal é a ação mecânica da escova sobre os dentes. O creme dental é apenas uma ajuda para deixar mais delicado esse movimento.

Pela internet afora, encontra-se mil e um textos sobre os perigos do flúor. Perguntei a dentistas, médicos, todos eles refutam esses problemas e defendem o flúor na prevenção da cárie. Mesmo assim, queria encontrar uma alternativa não somente a ele — mas também vou atrás de produtos naturais que possam substituir o desodorante, o shampoo, o amaciante… Em suma, aqui em casa estamos aos poucos procurando eliminar o excesso de produtos químicos.

O vinagre de vinho branco já está do lado do sabão para lavar roupa, desempenhando o papel de amaciante. Não uso mais óleo para cabelo. Depois do shampoo (procuro o mais neutro possível, mas gostaria também de abandoná-lo), uso um tiquinho de nada de óleo de coco e penteio — o resultado é ótimo. Os desodorantes, uso-os o mínimo possível e procuro ter em casa versões sem alumínio (rende outro post à parte). No lugar do enxaguante bucal, óleo de coco ou girassol.

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Voltando à cúrcuma: é um dos condimentos mais divulgados no momento, graças às suas propriedades benéficas para a saúde. Na cozinha, tenho usado cada vez mais, por conta do gosto e do amarelo vivo. Faço, por exemplo, um crepe rápido com farinha de milho (ou grão de bico), um pouco de polvilho, chia, vinagre de maçã, água. Para temperar, vai cúrcuma, curry, coentro em pó, sal.

Semana passada, um post da Bela Gil levantou uma enorme polêmica: ela recomendava a cúrcuma para substituir os “porcaritos” das pastas convencionais. Os comentários não eram somente argumentos científicos, mas muitas zoeiras e ofensas. Não é a primeira vez que isso acontece: a melancia grelhada e os posts sobre a lancheira da filha e sua degustação de queijos franceses suscitaram muitas reações raivosas. Todo esse caso renderia outro enorme post — em vez disso recomendo esses dois textos aqui e aqui. O meu ponto, para finalizar: essa irritação que as dicas da Bela causaram talvez venham do fato de que elas mexem com algumas convicções. Crescemos confiando no poder eficaz e cientificamente comprovado das pastas de dente, sabões em pó, desodorantes e dos mil e um produtos que encontramos nas prateleiras do supermercado. Abrir mão deles parece arriscado: a sujeira, o suor e a oleosidade ameaçam nossa limpeza externa. Da minha parte, escrevo para que outras pessoas, a quem interessar, possam se lançar, experimentar, descobrir. Como disse no início, foram poucas as vezes que usei a cúrcuma para lavar os dentes. Quem sabe agora, com essa cutucada da Bela, eu me lembre mais desse tímido potinho no armário do banheiro.

POR QUE PALPITES ALHEIOS INCOMODAM TANTO?

foi mais ou menos essa a pergunta que surgiu durante a leitura desse post aqui. Na verdade, já faz um tempo que venho me questionando a esse respeito. Desde a gravidez e principalmente depois do nascimento do Francisco, já ouvi muitos comentários, de todo tipo, desaprovando minhas escolhas. Lendo e acompanhando outras mães com interesses semelhantes, percebo o mesmo tipo de situação. Muitos dos relatos são desabafos, reclamações, pedidos de ajuda.

E foi justamente num deles que acabei redigindo essa resposta. Eu já pensava em escrever um post sobre isso. Assim, o que comentei serviu de base para o relato abaixo.

Eu tentava, no começo, argumentar seriamente com as pessoas que me desestimulavam a parir de maneira natural, amamentar em livre demanda e a longo prazo, carregar no sling, fazer cama compartilhada, seguir o BLW, dar uma alimentação vegetal e equilibrada. Mas depois percebi que poucas delas queriam realmente me ouvir. Mais ou menos nessa época, o Francisco estava com uns seis meses, descobri a “comunicação não-violenta”. Estou longe de ser uma especialista no assunto, mas me interessou muito dois pontos que o livro de Marshall Rosenberg levanta: — diminuir as expectativas em relação aos outros; — não devemos agradar a ninguém mais que nós mesmos. Um ponto está relacionado ao outro.

Olhando para a minha história pessoal, muitas vezes tentei agradar o mundo: sendo uma aluna boa na escola, por exemplo (isso ecoou muito durante a leitura de “Você é minha mãe?”, da Alison Bechdel). Como mãe, também faço o melhor de mim. Mas, ao contrário da aluna com notas altas, as coisas que eu faço causam desaprovação. Isso me frustra e eu fico com raiva desse pessoal que não concorda com as minhas escolhas.

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Um dos passos, então, foi exigir menos do mundo. Ser menos exigente com a pediatra, por exemplo. Abandoná-la e procurar outro foi a melhor saída. Exigir menos de quem não quer se informar. Eu quero me informar, mas não posso pedir isso da cunhada. Se ela quer dar açúcar pra sobrinha, que eu posso fazer? Sofro por dentro pela menina, mas devo respeitar e tolerar a escolha alheia — assim como quero que me respeitem como mãe.

Uma amiga começou a circular o meme “cara de alface”. Let it be. Um comportamento meio budista. Não posso fazer nada pra mudar o mundo. Posso sim cuidar do meu filho. O que os outros pensam a respeito não é responsabilidade minha. Reclamar e criticar estava me distraindo do meu objetivo principal, eu estava perdendo energia e, pior, afetando minha saúde. Imagine se essa minha implicância começasse a prejudicar a saúde do Francisco? Não seriam as cólicas dos três meses uma demonstração de que temos dificuldade para digerir as impressões que recebemos de fora?

Ainda estou longe do que eu gostaria, ainda me irrito vez ou outra quando alguém vem me provocar. Mas aí eu lembro um pouquinho daquela frase do padre nosso “perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tem ofendido”. Olho pro francisco, vejo como ele está bem e feliz, dou umas risadas e vou levando a vida.

Temos nossas fases e o combate tem sua razão de ser. Bom também é enfrentarmos os defeitos das nossas próprias escolhas. E ver que as pessoas falam nem sempre por maldade mas por falta de conhecimento…

Epílogo: dias depois de ter escrito isso, saiu esse post no cientista que virou mãe. E achei interessante como contraponto. Porque há a irritação com os palpites alheios — mas vivemos também o desgaste comum da vida de mãe, que busca quem a escute, compreenda e acolha.

UMA LISTA DE DESEJOS PARA 2015

era a ideia para o primeiro post do ano. Depois de ter relembrado o fim do ano retrasado e passado em revista 2014, parecia interessante lançar o olhar para frente e traçar planos e projetinhos para o futuro.

Eu já tinha começado a fazer um rascunho, criado o post no blog… mas eis que a leitura de “Deixa sair”, de Sonia Hirsch, me indicou algo muito pertinente.

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Essa questão do apego reapareceu em outra leitura que fiz em seguida, “A doença como caminho”.

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Os dois livros possuem temas bem parecidos — cuidar do corpo é também cuidar da alma; nossa realidade é construída num ritmo binário: fora e dentro, inspirar e expirar, entrar e sair. A cabeça ainda está cheia de ideias, insights e analogias… e os desejos ficaram de lado.

Assim, esse post é um não-post. Era para ser uma lista de desejos. Mas acabou virando um desejo só: de poder abraçar e aceitar este ano que começa com tudo o que ele terá a oferecer.

UM ANO ATRÁS, EM DEZEMBRO

estava rascunhando o relato de parto; o texto ia crescendo e ficou tão longo que o dividi em partes; elaborei uma série de posts; escolhi dia 21 de dezembro para começar a publicá-los no blog; reiniciaria, assim, a escrever nele, depois de um bom tempo parado.

O Francisco estava começando a se virar deitado; fazia uns sons gostosos, risadas e gritinho agudos; salivava muito; levava os dedos à boca, tanto os dele como os nossos; estranhava as pessoas; teve seu primeiro resfriadinho, que sarou com difusor de óleo essencial de eucalipto, peito, carinho e mais nada; dormia no meu colo enquanto eu fazia uma colcha de crochê ou lia algum livro; as cólicas dos três meses já tinham cessado; passamos pela consulta dos quatro meses, a partir da qual decidimos mudar de pediatra; pequeno, eu passeava com ele amarradinho no sling wrap, sentindo o corpo dele junto ao meu.

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Lá pelos dias de natal e ano novo, disse ao Marco: – preciso de ajuda; uma terapia, tratamento, alguma coisa. 2014 começou meio duro. Era como se eu tivesse perdido as chaves mas estava procurando no lugar errado; o mundo me parecia áspero demais… Meus pés doíam e a cabeça pesava. Precisava de alguma mudança.

Fui atrás. Encontrei livros e pessoas. Essas pessoas e livros me levaram a encontrar outras pessoas e outros livros. Sem elas, não sei o que teria sido deste ano. Sou muito grata pelos encontros e trocas, dentre as quais conto com a atividade do blog. Definitivamente, faz parte da minha terapia — um “cuidar de mim”, um meio de pensar o que vivo, de transmitir e receber coisas boas. Que bom.

QUANDO EU OUVIA FALAR EM VEGANISMO

pensava que era escolha bela mas bem difícil: deixar de consumir qualquer produto de origem animal requer disciplina e controle. A maneira como criamos animais — as galinhas, vacas, porcos e peixes — em escala industrial é realmente cruel. Nesse sentido, o veganismo é uma decisão louvável, de não participar dessa cadeia de produção tão negativa e danosa ao meio ambiente.

Mas será que conseguimos prescindir do proveito que tiramos dos animais? Você não pode comer qualquer coisinha sem verificar os ingredientes? O que eu observava em pessoas ao redor que se tornavam veganas: muitas delas acabavam por se isolar — frequentando lanchonetes e restaurantes veganos, em companhia de amigxs também veganxs…  Comer é um ato social, e o veganismo me parecia um tanto extremo. E a decisão seria antes por questões éticas do que de saúde. Isso porque observava que a dieta vegana não seria necessariamente saudável.

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Lembro muito bem quando tomei a decisão de não comer mais carne, no começo de 2007. Comi uma esfiha de frango e passei mal. Minha digestão lenta e delicada foi o ponto central. Carne é pesada demais pra mim. Sem ela, sinto-me melhor. Minha exceção era peixe e frutos do mar. Por isso nem vegetariana eu poderia me considerar. Mesmo assim, muitas vezes, em refeições fora de casa, viajando, me via sem opções de comida.

O interesse por um boa alimentação cresceu desde aquela época. Mesmo assim, somente este ano tive uma mudança significativa na dieta. Até então, consumia muitos alimentos com farinha — mesmo sendo integrais, bolachinhas e barras de cereal atrapalharam minha saúde (mas isso rende tema para outro post).

Faz uns seis meses passei por uma consulta rápida com um terapeuta. Não segui tratamento com ele, mas aproveitei a dica que ele me deu. Tinha perguntado o que eu poderia fazer para manter uma vida mais saudável. Ele me responde: “siga uma dieta vegana. teu corpo não precisa tanto de proteína animal”.

A melhor maneira de comprovar se algo funciona é tentar. Como fazer para deixar de comer alimentos que fazem parte do cotidiano? Um conselho muito valioso encontrei aqui: primeiro introduzir outras opções no cardápio, antes de excluir. Fui aos poucos abandonando os alimentos de origem animal que eu ainda consumia: o mel, a manteiga, o queijo, leite de vaca já havia deixado há um tempo, iogurte deixei de lado. Os peixes, salmão que eu comia vez ou outra.

Pesquisei muito na internet. Encontrei blogs legais como esse, que dão o passo a passo das receitas. Criei um painel no pinterest para organizar ideias e pratos que eu fui aos poucos preparando.

Posso dizer que virei vegana? Não. Vez ou outra eu passo um pouco de manteiga no biscoito de arroz, ou uso molho pesto com parmesão. Se estou na casa de alguém, convidada a comer, não pergunto se a pessoa colocou creme de leite no prato que estou comendo. Abro essas exceções.

Além disso, o Marco come de tudo, carne inclusive. É normal que no almoço eu prepare uma omelete, caso ele queira. Não tenho como restringir a dieta de outra pessoa. Nem mesmo do Francisco. Se ele se interessa por um por um pedaço de queijo, come.

Uma amiga, certo dia durante uma conversa, falou da dieta do tipo sanguíneo. E não é que fez muito sentido pra mim? Sou tipo A, que justamente não consegue assimilar bem os produtos de origem animal. Seguindo esse ponto de vista, há ainda pessoas que precisam muito da proteína animal, enquanto que a outras convém um consumo moderado.

Há argumentos mil, pró e contra vegetarianismo e veganismo. Eu gostaria de conhecer mais a macrobiótica. Li um livro sobre crudivorismo, muito interessante, sobre o qual escreverei em breve um post. Fala-se muito da dieta paleolítica, que defende o consumo de carnes. Enfim, a discussão não termina. Penso que cada pessoa pode ir observando as reações do corpo ao alimentar-se. E a partir daí ir construindo sua própria maneira de comer — que é também uma forma de relacionar com o mundo e com a gente ao redor.

MEUS PÉS

sempre foram meio estranhos a sapatos; a maior parte deles me machucava, pelo menos quando eram novos. Pequena já tinha umas calosidades na sola, lembro bem. Tornei-me adolescente e os pés cresceram tanto que hoje calço 39 — é bastante para quem tem 1,68 de altura.

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Quando li “Iracema”, de José de Alencar, na escola, impressionei-me muito com os pés sedosos da índia. Eu, uma menina urbana, que anda descalça somente em casa, tinha os pés muito mais ásperos e duros do que os dela. Esse trecho do livro foi o que mais me marcou:

Mais rápida do que a ema selvagem, a morena corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.

Naquela época mais ou menos tinha uma música dos Raimundos que também falava de um pé cuja sola era feito pneu. A nêga andava na pedra e a carcaça grossa deixava uma marca no chão — diferente da suave dança dos pés de Iracema.

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Anos e anos depois, já na faculdade, usei a citação acima como epígrafe para uma curta resenha sobre “A pata da gazela”, outro romance de Alencar. Estava estudando as obras urbanas e os perfis femininos do autor, na disciplina de literatura brasileira sobre o romantismo.

O ponto em comum entre Iracema e a heroína de “pata da gazela”, Amélia, é a caracterização dos pés. Mas se os pés da índia são macios, os da mocinha do Rio de Janeiro são feios. Ela os esconde sempre que pode. Seus sapatos, feitos sob medida, são estranhíssimos. Identificava-me mais com os pés da Amélia, eu, Ana Amelia.

Eu poderia ainda falar dos pés femininos nos filmes do Tarantino… talvez fique pra outro post. Neste aqui, continuo relatando meus pés e sua relação com a saúde.

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Eles sempre foram meio estranhos. Decidi evitar ao máximo sandálias abertas, para não mostrá-los tanto. Salto fino e alto também não combinavam comigo. Nem bico fino. E assim fui caminhando pela vida adulta, com sapatos lindos, um tanto caros, como esses aqui

Faz uns três anos apareceu micose. Ela me levou a descobrir a reflexologia, que tem me feito muito bem, por tratar da saúde de maneira integral. Todos os órgãos do corpo estão representados na sola do pé. A massagem ativa e identifica pontos que merecem atenção: o intestino, o pulmão, e por aí vai. Em seu tratamento, pude descobrir que meu sistema imunológico estava fraco, o metabolismo baixo e que eu precisava mudar a alimentação — algo significativo para mim que não sabe comer

Com ela descobri algumas obras de Rüdiger Dahlke, que trabalha com o significado das nossas doenças, sua simbologia e o aprendizado que elas podem nos trazer. O verbete sobre micose de um de seus livros reflete justamente o momento em que estou passando na vida.

Também encontrei uma ótima podóloga. Com ela, meus pés já não estão tão ásperos como antes. Ela prestou atenção à minha postura corporal. Graças a ela, procurei ajuda ortopédica, estou usando palmilhas nos calçados para mudar a posição dos dedos.

DSCN5014Em suma, se eu tivesse tratado a micose de maneira específica, sem olhar para o corpo e a mente como um todo, teria perdido a oportunidade de conhecer mais a fundo outros problemas de minha vida, outros pontos que merecem atenção. Mesmo tendo visitado anteriormente clínicos gerais e dermatologistas, nenhum deles havia sinalizado o que a reflexoterapia e a podologia me mostraram.

Isso me lembra o terceiro capítulo do filme “Caro diário”, de Nanni Moretti. Ele relata sua incansável busca de uma resposta para suas coceiras. Médicos mil. Vários remédios. Nenhuma solução. Quando, por acaso, ele visita um terapeuta chinês… bom, não vou contar aqui como termina a história. Vale ver o filme todo, ou pelo menos o trecho, aqui, com legendas em inglês.

pes_amarelo_bEste post é ilustrado por fotos de ex votos em Aparecida. Fui lá com uma amiga que precisava pagar uma promessa. Das várias fotos que fiz ao longo do passeio, essas dos pés me marcaram. Coincidência ou não — aquelas coisas curiosas da vida — na mesma época eu tinha mania de desenhar pés, nos cantos das folhas de anotação de aulas e reuniões. Até comecei a criar uma história em quadrinhos cuja personagem principal era um pé.

Quem sabe os ex-votos e meus amontoados de pés queiram me mostrar que o caminho para a cura dos meus pés talvez envolva algo de religioso, espiritual, sagrado. Quem sabe…

MICOSE NAS UNHAS

dos pés: eis um dos problemas que tenho enfrentado nos últimos anos. Normalmente temos vergonha do assunto; aparenta falta de higiene, descuido. É algo relativamente fácil de esconder.

Da mesma forma, a solução pode ser bem simples: marcar consulta no dermatologista, tomar um remédio via oral e passar uma pomada ou esmalte nas unhas. Pronto, os fungos assim estariam mortos. Quem sabe até indo direto à farmácia, mais rápido ainda, consegue-se um medicamento sem receita que resolve a questão.

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Mas eu não quis passar por um tratamento alopático como o que descrevo acima. Os remédios me impediriam tentar engravidar. Depois, grávida, e agora, amamentando, não posso tomá-los. Em seguida ao parto, a situação das unhas piorou, fui novamente ao dermatologista. Ele me recomendou que eu parasse de amamentar. Recusei. E foi esse impedimento a tratar especificamente a micose que me levou a descobrir muitas coisas relacionadas a ela e a mim mesma.

Por que eu tenho essas manchas nas unhas e meu marido, com quem vivo, não tem? Eu imaginava que micose seria contagiosa. Há, porém, um fator decisivo: ela se desenvolve num corpo que não consegue se defender. Em outras palavras, se o sistema imunológico não é forte o suficiente, o fungo encontra terreno para crescer e proliferar.

Essa informação encontrei nessa página, junto com alternativas de tratamento natural. Então a micose seria a manifestação de algo mais profundo. Todos aqueles meus probleminhas de saúde estavam relacionados ao fato de que meu corpo se defende mal contra invasores.

E como minha imunidade chegou a esse estado? Há fatores que enfraquecem o sistema imunológico. O uso elevado de antibióticos é um deles. O antibiótico nos ajuda, ao mesmo tempo em que nos tira a chance de nos defendermos sozinhos contra uma infecção. Açúcar é outro elemento, junto com a farinha refinada, glúten. Leite de vaca também pode entrar nessa lista. Stress, más companhias e ambientes hostis também nos afetam.

Quase nenhum médico tradicional conhece ou nos informa sobre isso. Perguntei ao dermatologista — era o médico-chefe do hospital — e ele não soube me dizer nada de concreto. Infelizmente a formação deles não enxerga o corpo como um todo. E que carregamos um espírito ali dentro.

Estou num processo de cura integral. A micose, nesse panorama, é só um detalhe.

Descobri que preciso recuperar minha flora intestinal, um dos pontos fundamentais para um sistema imunológico eficiente. Mudei minha alimentação. Visito terapeutas diversos. Podologia, bioressonância, reflexologia são alguns dos tratamentos que tenho contato. Por sorte, encontro pessoas gentis, sérias, atentas. Muitos textos na internet me informam e inspiram: este sobre o glúten, e aqui também, entre outros.

Encontrando orientação com terapeutas e apoio em textos, compreendi que eu mesma sou minha terapeuta: eu me observo, me controlo, me cuido. Cabe primeiramente a mim essa tarefa.

Já perdi unhas, elas doem e crescem tortas. Agora estão melhorando, lentamente. Paciência é um ingrediente de suma importância.

Há muito ainda o que descobrir. Fico feliz por tantas pequenas coisas, principalmente pela possibilidade de aprender e de me transformar.