O LADO B

é aquela expressão que designa muito bem o avesso de alguma coisa. O lado B, originalmente, é a segunda parte do disco de vinil, aquela que fica por baixo, escondida, até que se tenha terminado de ouvir as primeiras faixas de um disco. No caso dos singles, o lado B contém um extra, uma música a mais. Lado B era o nome daquele programa de música alternativa na Mtv, apresentado pelo Fabio Massari, todo cool — aí lado B ganha uma conotação excêntrica; é destacar-se da multidão que gosta de música pop, cultivando e apreciando aquilo que é diferente, estranho.

Fiquei pensando nessa expressão, por conta desse blog aqui, de uma mãe que conheço. E tentando buscar, na minha experiência de mãe, os lados B pelos quais passei. Usei sling, o que parece muito lado B. Mas depois adotei o carrinho, que me ajuda demais no cotidiano. As fraldas de pano foram nossa opção para o primeiro ano de vida do Francisco. Mas hoje em dia elas foram deixadas de lado, em nome da praticidade das descartáveis.

Mesmo as escolhas que se mantém constantes, como amamentar e dormir em cama compartilhada, apresentam seus lados B. Muitas vezes estou cansada, mas o Francisco precisa do peito para se acalmar ou adormecer. Falei sobre esse lado B de mamar, semanas atrás. Além disso, cama tornou-se pequena, faz alguns meses. Dormimos mal algumas noites, até decidirmos mudar radicalmente: juntar dois colchões no chão. Nada melhor! Cada um dorme no seu cantinho.

Mas sabe que cada lado B tem seu respectivo lado B. O avesso do avesso. E, longamente, poderia falar do oposto, do contrário, do lado escuro e escondido de cada ação, comportamento, opinião. Tem a ver com aquele papo da sombra que a Laura Gutman adapta para a vida materna — mas, é claro, não somente ela. Mas não quero alongar nem complicar demais este post, isso iria além das minhas capacidades agora.

Vou apenas terminar com uma expressão que aprendi a valorizar com o tempo: cuspir pra cima. A gente vai aprendendo com os erros, com nossa própria falta de flexibilidade, com nossos julgamentos apressados, com nossa intolerância revestida de argumentos. É isso, por ora.

XIXI E COCÔ

são os temas deste post — bom dizer assim, logo de cara; assim, quem sente nojo de ler sobre essas coisas pode já interromper a leitura.

Este post aqui me inspirou. Afinal, viver junto com um bebê leva a observar tudo sob novos pontos de vista.

No começo de tudo, não havia cocô, mas mecônio. Lembro bem da primeira troca de fralda: o corpo pequeno e magrinho daquele bebê que tinha cheiro de sangue. No bumbum, vi uma pasta escura, que a parteira ajudou a limpar.

Ao sair da casa de parto, estávamos felizes porque o cocô era amarelinho, como devia ser. O leite desceu, ele mamava bem e nossos corpos, agora dois, funcionavam direitinho.

image

Os primeiros dias eram tão corridos que eu não tinha tempo nem de fazer xixi — era o que eu dizia e também já ouvi de outras mães o mesmo comentário. Banhos? Somente a três: Francisco, Marco e eu embaixo do chuveiro.

Algumas vezes o cocô do Francisco esverdeava. Dizem que acontece quando a mãe come frutas demais. Ou que o leite é pouco gorduroso. Não soube apurar isso com precisão.

Eram frequentes os vazamentos; às vezes o piupiu não estava posicionado para baixo. Também já recebemos jatos de xixi durante as trocas de fralda.

Usando fraldas de pano, é normal que a gente tenha muito contato com as excreções — cheiro, consistência, pedacinhos… são todos detalhes interessantes de observar quando bebê começa a se alimentar. Tudo muda! Consigo identificar a comida que está ali digerida. E dá até mesmo para reconhecer quando o Francisco comeu alguma guloseima com açúcar: o cheiro é bem mais desagradável do que normalmente…

Por volta dos 10 meses, o Francisco começou a ter dificuldade para fazer cocô. Acredito que foi o momento em que ele se deu conta do fato. Ficou meio receoso e segurava as fezes. Alguns dias não evacuava. Com muita calma, segurava-o no colo, sentada na privada junto com ele. Chorava, deixando sair.

Muitos bebês passam por essa fase de cocô duro e seco nos primeiros meses de introdução alimentar. É preciso oferecer água com frequência e atentar para alimentos que ajudem o trânsito intestinal. Algumas vezes deixo umas ameixas de molho, à noite, para de manhã beber a água e fazer um mix com as ameixas molinhas. De toda forma, não é recomendável recorrer sempre a essa receita, para que o intestino se regule com a alimentação normal.

Pouco tempo depois o Francisco aprendeu a sinalizar que tinha feito cocô, dando uns tapinhas na fralda. Fala “cocô” e “xixi”. É um passo para o desfralde, penso eu. Cada coisa ao seu tempo… futuramente volto ao assunto!

AS FRALDAS DE PANO, UM ANO E MEIO DEPOIS

continuam sendo utilizadas na grande maioria das vezes. Excepcionalmente, o Francisco usa fralda descartável — em dias que ficamos muito tempo longe de casa, dentro do carro, por exemplo. Era algo que a gente não fazia no começo, mas que fomos pouco a pouco cedendo: sim, as fraldas descartáveis são bem mais práticas e não exigem uma troca tão frequente. De toda forma, preferimos ainda as de pano.

Alguns pontos devo assinalar: as fraldas de pano têm uma durabilidade menor do que esperávamos. Por volta do primeiro aniversário do Francisco, sentimos a necessidade de renovar um pouco nosso kit de fraldas e capas de pano. Percebemos que elas já estavam gastas. Afinal, todo dia eu devia lavar uma máquina com fraldas e roupinhas. É natural que elas já estivessem velhinhas. Da quantidade de fraldas que compramos no início (post aqui), a metade foi renovada. As fraldas noturnas, sobretudo, tem uma vida útil mais curta do que as outras, provavelmente porque recebem uma quantidade maior de xixi…

Arquivo Escaneado 33

 

Um ano atrás praticamente, no primeiro post sobre o assunto, eu já me perguntava como seria lavar a fralda suja de cocô, depois da introdução alimentar. Isso porque cocô de bebê que mama exclusivamente leite materno é uma coisa simples, quase sem cheiro, bem líquida. Aos poucos, as fezes vão mudando e adquirindo consistência. Na maior parte das vezes, a limpeza é simples: o cocô se descola sozinho do tecido, jogo-o direto no vaso sanitário — o Francisco dá tchauzinho pro cocô e dá a descarga (eu o subo na tampa do vaso). Mas não é sempre uma maravilha. Há contato direto com as fezes e isso necessita uma boa limpeza posterior.

Eu também mencionava o desfralde. Com um ano e meio, por enquanto, o Francisco sinaliza, vez ou outra, que faz xixi ou cocô. Estamos bem no comecinho do processo. Quando temos oportunidade, deixo-o sem fralda, brincando pela casa. Também observa a mim e ao Marco indo ao banheiro, usando o vaso, dando descarga. Assim aos poucos ele vai percebendo como funciona. Mais importante de tudo é dar tempo ao tempo, passo a passo, aprender dia a dia. Possivelmente daqui um ano volto ao mesmo tema — ou até antes, vai saber!

UM EMAIL, DE UM ANO ATRÁS

me chamou a atenção, faz alguns dias. Estava relendo as mensagens que recebia e escrevia logo depois do nascimento do Francisco, para reavivar a memória — eu estava escrevendo sobre o pós-parto. Uma querida amiga, que me mandou vários emails durante aqueles meses, muito delicadamente colocava à prova algumas das decisões que tomamos: usar fraldas de pano, não dar chupeta, encarar as cólicas com muito peito. Ela se preocupava com meu estado e me perguntava que aquelas coisas valiam a pena.

Algo muito rico nesse tipo de amizade é poder confrontar ideias sem que ninguém se sinta ofendidx. Responder para ela a mensagem que copio abaixo me ajudou a consolidar minha posição. Relendo hoje, percebo que mantive muito daquilo que defendo. Ainda assim, é bom evitar qualquer rigidez absurda. Busco me manter aberta e vigilante, questionando-me a respeito das nossas escolhas. Sobre as fraldas, por exemplo, recorremos às descartáveis quando fazemos passeios mais longos ou durante uma viagem. Nós nos perguntamos também a respeito do sling: até quando será confortável carregá-lo sem o auxílio de um carrinho? De maneira semelhante, reflito a respeito de sua alimentação. Por mais que tenha iniciado a comer por blw, vejo que o método tem seus limites e algumas vezes dar uma papinha é mais compensador do que apenas pedaços de comida (falarei mais sobre isso em outro post).

Arquivo Escaneado 24

Quando alguém me pergunta: “você ainda amamenta? por que você usa sling? as fraldas de pano não dão muito trabalho? por que você não compra papinha pronta?” eu procuro, primeiramente, não encarar como uma provocação. Em alguns momentos, fico em silêncio ou faço cara da alface. Mas, da mesma forma, me sinto bem se perceber uma oportunidade para trocar experiências e pontos de vista.

Para finalizar, o email:

Marco e eu optamos por uma série de coisas que fogem ao padrão, a gente se confronta com essas escolhas e tentamos ver criticamente. A fralda de pano foi uma delas, quando compramos estávamos mais olhando as vantagens, meio idealistas e ingênuos, sem olhar as desvantagens. Talvez elas convenham mais a quem tem mais tempo livre (o Marco trabalha período integral), quem tem máquina de lavar em casa, quem tem empregada, quem tem dias de sol pra colocar no varal… ainda não sabemos até quando vamos mantê-las, até porque mesmo as pampers tem as suas desvantagens. Na verdade, qualquer coisa que escolhemos terá seus pontos fracos e fortes.

Se posso dizer que algo atrapalha, são os comentários que vão contra o que pensamos (colo deixa o menino mal-acostumado, dar o peito sempre não adianta, dá chupeta pra ele, etc.). Respeitamos a opinião de todo mundo
mas também de certo modo é preciso respeitar a nossa maneira de criar o Francisco. Às vezes me pergunto se é melhor deixar quieto ou discutir.

Gosto muito do contato de dar o peito, seja pra comer ou pra que ele se sinta bem (e ele se sente realmente bem, é lindo ver isso) — até porque comer e prazer estão muito relacionados! Eu mesma e o Marco acreditamos que nossos problemas com o maxilar e aparelho ortodôntico tiveram origem no uso da chupeta. E como você disse, é sempre uma luta querer tirar anos depois a chupeta da criança. Parteiras e enfermeiras me recomendaram que ele tentasse chupar o dedo (o meu ou o dele), mas ele percebe a diferença. Raramente chupa meu dedo e fica bem.

Tento julgar cada vez menos a maneira de criar os filhos que observo em outros casais. Até porque a criação é um processo sem fim, um aprendizado a todo momento, não sei ainda tanta coisa! Não sei se daqui uns meses o quanto teremos mudado em relação às nossas escolhas. Estamos sempre tentando, buscando, ficando de olhos abertos.

AS FRALDAS DE PANO

ovonovo_-5

[este não é um post patrocinado, por mais que esteja falando de produtos e mencionando lojas]

foram uma escolha feita já nos primeiros meses da gestação; pouco antes, estava pesquisando sobre coletores menstruais, para fugir aos habituais absorventes, que dão alergia na pele (entre outros pontos negativos). A mesma loja oferecia fraldas de pano. Pesquisei um tantinho e logo nos interessamos pela ideia de também fugir às fraldas descartáveis. As razões são várias: economizamos dinheiro, consumimos menos recursos do meio ambiente; menos lixo, menos assaduras, mais consciência corporal para o bebê — aqui, de maneira mais detalhada, alguns dos argumentos a favor das fraldas de pano. Pesquisando na internet (jogue “fraldas de pano” no google para ver os resultados), é possível encontrar muita gente fabricando e vendendo; há diversas opções de modelos, tamanhos, tecidos e cores.

A gente comprou todo o kit: 20 fraldas tamanho recém-nascido até 3 meses; 20 fraldas para 3 meses até 3 anos. Levamos em conta que um bebê pode precisar trocar de fraldas até 10 vezes ao dia. 20 fraldas são suficientes para dois dias. As fraldas do primeiro dia estão secas no terceiro dia, e assim por diante. O tamanho pequeno serviu para o Francisco até os 4 meses, quando aos poucos começamos a usar os modelos maiores.

Nem pensamos em usar uma parte de fraldas descartáveis — tem gente que opta por isso, usar um pouco dos dois tipos. Para nós, o investimento inicial foi enorme, pesou no bolso comprar todas as fraldas de uma vez só. Tem gente que pede aos amigos de presente, num chá de fralda. De qualquer maneira, compensa muito, levando em conta a economia que se faz a médio e longo prazo. Pensando agora, tivemos aquele impulso idealista. Tão idealista que a gente tinha esquecido um detalhe: em casa, nós não tínhamos máquina de lavar roupa. Então, no primeiro mês, nós lavamos as fraldas sujas de xixi e cocô na mão, até nos mobilizarmos para adquirir a máquina de lavar. Algumas vezes a sogra ou a cunhada lavaram na casa delas; ajudou bastante.

Deu trabalho? Ora, deu muito trabalho! Assim que uma fralda era trocada, deixávamos de molho, depois a gente lavava com sabão de coco e ficava um tempo de molho em água quente. Em seguida, varal. As fraldas normalmente estão secas depois de um dia, mesmo com frio. Dia úmido é mais complicado. Sempre que possível deixamos secar ao sol.

Depois da máquina de lavar, tudo mudou :) mas a rotina é fixa; todo dia tem uma máquina para lavar, seja com as fraldas, seja com as roupas sujas do Francisco. Antes de colocar na máquina, tiramos o excesso de cocô com uma escova de dentes velha, passamos sabão de coco, enxaguamos — uma espécie de pré-lavagem. Na máquina, usamos sabão líquido para roupas delicadas, uma só lavagem, de preferência quente (40 ou 60 graus), sem amaciante.

Mesmo lavando na máquina, é necessário lavar primeiramente à mão. Sim, é contato com o cocô e o xixi do bebê (para quem se incomoda com isso, é um ponto negativo; não é o nosso caso!). Organizando bem toda a lógica de lavagem, nunca faltou fralda.

Outro ponto a se pensar: fralda de pano exige uma troca intensa, 2 em 2 horas, 3 em 3 horas. Não existe essa coisa de deixar 6 horas uma fralda no bebê, como prometem as descartáveis. Isso significa que, mesmo de madrugada, nos primeiros meses, é necessário trocar. Caso contrário, o bebê fica encharcado. Com o Francisco, depois dos 5 meses, começamos a usar um modelo noturno, de pano. É uma fralda com mais tecido absorvente. Dura todo o período de sono. Algumas madrugadas eu ainda troco, de qualquer forma.

No começo, por conta da inexperiência e do tecido ainda novo, aconteciam muitos vazamentos. Às vezes o piupiu ficava viradinho de lado, às vezes um botão meio aberto. Levando em conta o cansaço do pós-parto, eu pensava: “gente, por que escolhemos essas fraldas!?”

Mesmo assim, não nos arrependemos de nossa escolha. Vejo minha vizinha, com dois filhos pequenos, entrando em casa com caixas e mais caixas de fralda descartável e me sinto aliviada.

Ainda voltarei a escrever sobre o assunto. Até o instante o Francisco toma somente leite materno. Ao introduzir alimentos, as fezes mudam e provavelmente toda a experiência com as fraldas! E, depois disso, como será o desfralde? to be continued…