DIZER NÃO

pode ser difícil, em alguns momentos. Escutar, compreender, filtrar o que se ouve é muito importante. Ainda assim, é preciso não ceder às próprias opiniões e princípios.

Estava relembrando situações em que disse não, quando li um texto de Eliane Brum que levanta essa discussão. Ela coloca o não como um elemento importante no caso da cesárea forçada a que foi submetida Adelir, no começo deste mês; um trecho:

Ao dizer “não”, Adelir tornou-se perigosa. Como uma mulher, usuária do SUS, moradora da zona rural, recusa-se a cumprir a ordem de uma doutora? Como ela ousa escolher o que considera melhor para ela e para seu bebê? Não como uma inconsequente, mas como alguém que se preparou para o parto, informou-se, contratou uma doula para ajudá-la? Nem mesmo quando botam um termo de responsabilidade diante dela, sempre assustador para todos e mais ainda para os pobres, Adelir recua. Ela assina. E vai para casa continuar a se preparar para dar à luz sua filha.
(…)
O que se torna claro no comportamento de Adelir é que ela tem a coragem de se responsabilizar. E se responsabilizar é ser mãe.
(…)
Quem já ousou enfrentar um diagnóstico médico, seja na rede pública ou na privada, sabe como essa é uma batalha penosa. Pode, inclusive, apalpar o tamanho da coragem de Adelir.

Adelir afrontou todo um sistema quando disse não às médicas que a atenderam. Infelizmente, sua vontade não foi respeitada — já tratei um pouco do assunto em outro post. E vale muito a pena ler o texto da Brum na íntegra.

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Aqui vai uma lista de nãos bem marcantes que dissemos ultimamente:

Não para o ginecologista. Numa consulta de rotina, já quase dois anos atrás, o doutor pergunta as datas em que menstruei. Ele se dá conta de que meu ciclo é irregular. Isso eu soube desde sempre, e vivo bem com essa irregularidade. Ele se preocupa e recomenda que eu faça um tratamento de fertilidade. Segundo ele, eu teria dificuldades para engravidar. Disse não repetidas vezes. Não via necessidade em controlar minha ovulação. Queria muito engravidar, mas não queria me preocupar com isso. Se não rolasse, tudo bem. Alguns meses depois, eu estava grávida. Falo disso também aqui e aqui.

Não para uma outra ginecologista. Ela estava cobrindo as férias da médica com quem eu estava fazendo o pré-natal. Durante o ultrassom, ela diz que o bebê é pequeno. E me propõe uma consulta adicional, em uma semana. Recuso. Ela insiste. Recuso novamente. E, como já disse, teria feito o pré-natal de outra maneira, sem tantos controles e exames, cuja necessidade é discutível. Pouca gente fala a respeito das imprecisões e riscos do ultrassom. Dias depois desse controle, a bolsa rompeu, entrei em trabalho de parto e o Francisco nasceu, sem nenhuma intervenção.

Não para a parteira. No relato de parto essa história já foi contada. Recusei o medicamento para dormir, que a parteira me recomendava. Ela pensava que melhor seria se eu poupasse minhas forças dormindo, sob efeito de medicamento. Eu queria um parto sem qualquer intervenção.Felizmente, foi o que vivemos. Prefiro nem imaginar como teria sido se eu tivesse tomado o remédio.

Não para o dermatologista. Tenho um problema de pele. Para tratar pela via tradicional, não poderia amamentar. O Francisco tinha 3 meses quando fui ao dermatologista e ele disse: “pare de amamentar. Dar de mamar é coisa do passado”. Sim, ele disse isso, contrariando todas as evidências e benefícios da amamentação. O que eu respondi: não! Eu quero amamentar! Hoje estou fazendo um tratamento alternativo, com base na minha alimentação. Está me fazendo super bem e o problema está melhorando aos poucos, naturalmente. O assunto é vasto, falo mais em outro post.

Não para a pediatra. Já contei sobre a consulta dos quatro meses. É impressionante como médicos estimulam que as mães desmamem! Por que será?

Certamente, essa lista poderia se estender…

Como tanta coisa na vida, dizer não é um exercício constante. Percebo que com o tempo tenho melhorado nessa prática de recusar, discordar, refutar — mas ainda há tanto o que aprender! Acima de tudo, é preciso saber que o quero para mim. Eis aí outro tema para desenvolver, em outro momento: “eu sei o que quero para mim?” Rende bastante assunto.

SHANTALA, DE FRÉDÉRICK LEBOYER

é um dos livros que mais me fizeram chorar. Lembro que li na cama, deitada, numa tarde de sol. Talvez fosse sábado. Devia estar no quinto mês de gestação. Emocionei-me além do que esperava.

Isso porque Leboyer — renomado obstetra francês, que mudou a percepção do parto, junto a Michel Odent e outros — não está somente explicando os passos da massagem para bebês que leva o nome de Shantala, moça indiana que ele encontra em Calcutá. O livro fala sobre a passagem dos bebês do meio uterino ao nosso mundo. Fala também da relação que podemos construir com os bebês: toques, abraços, afagos e carinhos conduzem mãe e bebê numa trajetória de mútuo autoconhecimento.

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O corpo do bebê, massageado, recebe conforto, tranquilidade e segurança. As mãos que massageiam aprendem a delicadeza e a força de que se constituem os bebês. Ambos dão e ambos recebem.

Como já adiantei em outro post, comecei a fazer massagens no Francisco desde as primeiras semanas. Mas nunca segui os passos da shantala rigorosamente; quando tentava, não funcionava. Interrompia porque o Francisco queria dormir ou mamar. No fim das contas, fazemos uma massagem nossa, seguindo nosso próprio ritmo.

O mais importante para nós foi seguir o princípio daquilo que a shantala transmite: contato pele a pele, reverência pelo bebê…

Leboyer fez um filme com Shantala e seu filho. Pela internet afora, é possível encontrar quem explique os movimentos da massagem. Pessoas oferecem cursos e oficinas também. Ainda assim, nada se compara à leitura da escrita muito rica e poética que Leboyer nos dá.

ESSA É A HOLGA

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modelo CFN120, fabricada na China, a princípio destinada aos próprios chineses, a um baixíssimo custo. É médio formato, ou seja, destinada a filmes 120 (e não 35mm, como é o caso das câmeras mais populares).

Hoje em dia ela é propriedade da Lomography, grupo austríaco que popularizou a câmera Lomo, fabricada na antiga URSS. Com o tempo, eles refabricaram e reinventaram várias câmeras analógicas. Mesmo a Holga possui vários modelos, cores e acessórios. São um dos principais responsáveis pelo retorno da fotografia analógica, mesmo que se faça muitas críticas a respeito. Eu inclusive concordo com todas elas: ao mesmo tempo que eles difundem uma estética e uma forma artesanal de se fazer fotos, pretendem controlar tudo sob sua empresa, vender e manter a clientela. É uma boa discussão.

Voltando ao tema do post: ganhei a Holga três anos atrás, quando estávamos no comecinho do namoro. Alegrou-me de cara: a caixa é alegre, a câmera parece mais um brinquedo de criança. É quase toda de plástico, inclusive a lente. Trata-se de uma câmera muito rudimentar, frágil até. Sua absoluta simplicidade me cativou.

Fui tirando fotos aos poucos. Fotografar com filme demanda mais cautela, paciência. Precisa pensar duas vezes antes do clique. Lembrar o ISO do filme, ajustar a exposição, o foco, o tipo de abertura. Caso contrário, perde-se muitas fotos. Na verdade, perder boas fotos faz parte da experiência…

Com o tempo, abri uma página no site da lomography, para hospedar minhas fotos, ver álbuns de outras pessoas, acompanhar notícias, compartilhar dicas. Mas não participo tanto das atividades de lá.

Coloquei algumas fotos no flickr também, misturadas com algumas digitais. Tudo muito esporádico, em ritmo lento.

Compro filmes e revelo em lugares bem baratinhos mas competentes. Encontrar laboratórios bons também rende aventuras pela cidade. Consegui um scanner que digitaliza negativos. Assim, dá para manter esse hobby sem gastar muito.

Essa é a minha foto preferida, que já publiquei aqui em outro post, “passeando com a holga”. Foi feita com um recurso muito simples: a dupla exposição. É possível dar múltiplos cliques numa mesma posição do filme, controlando luz e sombra, diferentes níveis de iluminação e cores. Eu tirei uma primeira vez a foto, depois virei a câmera de ponta-cabeça e fiz a mesma foto — muito elementar e simétrico.

Além disso, essa foto foi tirada com um filme para slides — mas revelado como filme de foto normal, no que se chama de processo cruzado (ou x-pro). Pois é, a Holga me introduziu num outro mundo! Na verdade, ainda não domino muito da linguagem fotográfica; aos poucos vou aprendendo mais e mais.

O legal é justamente poder se lançar em experiências e gambiarras que nem sempre dão certo. Para fotografar com filme, é preciso ter muita luz, ou algumas fotos saem bastante escuras

Uma gambiarra interessante da Holga é colocar um filme de 35mm. Nesse caso aí em cima, usei o 35mm ao contrário, ou seja, fotografei redscale. Uma dica é fazer uma pesquisa de imagens no google com a palavra redscale: os resultados são fotos lindas, em tons de vermelho, laranja e marrom!

Para quem se interessar, esse vídeo é engraçado: uma resenha meio zoada a respeito da Holga, que não precisa ser levada a sério. O queimando filme é uma comunidade muito legal sobre fotografia analógica.

Um post é pouco para falar das possibilidades que a Holga pode oferecer. A incerteza e o inesperado do processo me agradam muito. Sempre que posso, aproveito um dia de sol para sair com ela e ficar experimentando, sem me preocupar com o que vai sair na revelação…

APRENDER UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA É

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— não saber dizer coisas elementares quando mais se precisa.

— fazer uma criança perder a paciência tentando explicar algo de que você não tem a mínima ideia. ela fica emburrada e desiste de falar com você.

— lembrar-se de uma palavra ou frase muito tempo depois do momento em que ela era fundamental. e aí já é tarde demais.
— desligar o telefone no meio de uma conversa por não saber como continuar o diálogo, sem nem ter se despedido. morrer de vergonha de ter feito isso.
— responder de maneira lacônica — “não”, “ok” ou “sim, eu sei”, por exemplo — a uma longa e detalhada instrução que alguém te dá. e esse alguém fica na dúvida se você realmente entendeu tudo o que ele disse. pra tentar esclarecer, repete o que já disse e você novamente responde com um “ok”. você entendeu perfeitamente mas não sabe como dar uma resposta mais longa.
— as pessoas evitarem falar com você por receio de que você não entenda e não saiba responder.
— saber pronunciar e dizer algo perfeitamente, no momento certo. e mesmo assim a outra pessoa não presta atenção no que você está dizendo ou simplesmente não te leva a sério. minutos depois volta a perguntar a mesma coisa a você.
— surpreender a si e as outras pessoas, comunicando-se muito bem, mesmo que de maneira rudimentar, quando menos se espera.

O COMECINHO DA GRAVIDEZ

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é aquele momento incerto: estou grávida? sim, não? é agora? será mesmo? Não tivemos pressa em fazer um teste. Sempre tive ciclo irregular. Meses antes, um ginecologista havia dito que, por conta disso, eu teria dificuldades em engravidar. Decidi não me preocupar com isso e deixei a natureza agir. Se fosse o caso, se não engravidasse, não teria filhos — simples assim.

Desde o começo do mês, quando a menstruação deveria chegar, sentia-me bem cansada. Preguiçosa, até. Parei com a atividade física, que fazia todas as manhãs durante o último ano (consistia em dançar “just dance” no video game, hihi). Perdi a vontade de tomar café — uma xicrinha sempre depois do almoço, não mais do que isso. Sobretudo, o que indicou algo diferente dentro de mim foi o crescimento dos seios. Antes de ir procurar um teste na farmácia, fui a uma loja comprar sutiãs novos.

Sentia também uma dor de cólica, como aquelas antes da menstruação. Elas se assemelham às dores que tive no final da gestação. Tem gente que diz, em tom de piada, que cólica é uma pré-dor de parto. Vejam só, isso é muito verdade; os acontecimentos do corpo feminino tem uma sutil conexão. Que coisa mais linda.

Umas três semanas depois do começo desses sintomas, resolvemos comprar aqueles testes que identificam o hormônio da gravidez pela urina. E não é que deu positivo?! No mesmo dia, já marcamos consulta na ginecologista.

Bateu aquela sensação: “mas já?! será que estou pronta? meu corpo vai dar conta de todas as mudanças que vem por aí?” Não imaginávamos que isso tudo aconteceria tão rápido. É a natureza, com seus tempos, momentos e ritmos.

Tem algo que eu faria diferente? Sim: se pudesse voltar atrás, eu teria procurado logo de início uma parteira, para fazer o acompanhamento com ela. O enfoque é todo diferente, os exames, as informações dadas. Quem sabe até uma doula.

Ao cansaço seguiu-se enjoo… coisa que eu conto em outro post!

10 DE ABRIL: SEIS SEMANAS

sem comer alguns alimentos que até então eram bem presentes no meu cotidiano: açúcar refinado, mel, farinha de trigo (o que inclui massas, pães, biscoitos, até mesmo integrais, gérmen de trigo), aveia, leite de vaca e derivados. Se a lista já parece bem grande, acrescento: atum, camarão, lagosta e frutos do mar. Faz uns anos deixei de comer carne (vaca, frango, porco) mas continuo a comer peixe (quem sabe um dia viro vegetariana de verdade…). Nada de álcool ou bebidas com cafeína (isso também por conta da amamentação).

Sem todas essas coisas, o que estou comendo? Frutas frescas e secas, verduras, legumes, iogurte e queijo feta (exceções dos laticínios), oleaginosas. Além disso, batata, quinoa, inhame, ervilha, lentilha, grão de bico, linhaça, polenta, semente de girassol, gergelim. Até pipoca eu posso comer.

Parece um tanto difícil. Mas é bem possível. Faz uma baita diferença no cotidiano. Deixar de lado alguns costumes, que mais pareciam rituais: pão com manteiga e mel, a facilidade de se abrir uma lata de atum ou comer um cereal com leite, a pizza no fim de semana, os doces que sempre fizeram parte do dia.

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Mudar de alimentação também muda o relacionamento com o mundo: é dizer não quando alguém te oferece carinhosamente um chocolate, um pedaço de bolo para acompanhar o chá. É ter que ignorar 80% das prateleiras do supermercado, visto que quase tudo é feito de açúcar, farinha de trigo ou algum derivado de leite de vaca. É ter que comprar alguma coisinha quase todo dia, porque frutas e legumes precisam ser frescos. Deixamos de lado aquela compra grande quinzenal, encher a geladeira, para fazer comprinhas pequenas.

Gasta-se mais dinheiro? Depende. Come-se menos e melhor em qualidade. Minha mãe diz muito: melhor gastar no supermercado e na feira do que na farmácia!

Aí aparece a razão para essa mudança alimentar: a saúde. Estou fazendo um tratamento alternativo, para recuperar o sistema imunológico. O metabolismo também estava baixíssimo: numa escala em que 100 é o normal, o meu estava em 27 (!) um mês atrás! Falarei mais em outro post. Por ora, estou me sentindo muito bem com a nova rotina: aprendendo coisas diferentes na cozinha, a digestão está bem mais rápida, estou me sentindo mais disposta e menos estressada, sem aquelas eventuais dores de cabeça sem explicação. Isso porque, acima de tudo, eu quero mudar.

Hoje é o dia de retorno à consulta, para verificar os efeitos dessa mudança e saber quais os próximos passos a seguir.

Importante: esse post não é nenhum guia alimentar, mas o relato de uma experiência pessoal. Estou seguindo um tratamento, acompanhada por uma especialista. Cada pessoa tem seu perfil, necessidades e características que devem ser levadas em conta quando se trata de alimentação. A quem lê, caso interesse, aconselho que procure orientação para mudar a dieta.

UMA COLCHA LISTRADA

foi meu segundo grande projeto de crochê. Tem uma estrutura parecida com a colcha de quadradinhos, os granny squares.

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Juntei lãs verde, amarelo e marrom (três novelos cada) e cinco novelos brancos. O branco, como na outra colcha, serviu como borda e arremate. Segui esse diagrama aqui. Mas fiz uma combinação de cores minha — na foto, de cima para baixo:

  • 5 linhas brancas
  • 3 verdes, 3 amarelas, 3 marrom
  • 5 brancas
  • 3x (2 verde, 2 amarelo, 2 marrom)
  • 10 brancas
  • 3x (2 verde, 2 amarelo, 2 marrom)
  • 10 brancas
  • 3x (2 verde, 2 amarelo, 2 marrom)
  • 5 brancas
  • 3 verdes, 3 amarelas, 3 marrom
  • 5 linhas brancas

 

 

Levei uns dois meses, mas num ritmo bem tranquilo. Foi presenteada para um/a bebê que chegará em maio <3

Agora vou partir para outra colcha! Futuramente ela entra aqui no blog também.

VOCÊ QUER UM PARTO NORMAL?

deparei-me com essa pergunta logo no começo da gravidez. Minha resposta: quero. Já no relato de parto, falei de um texto da Ana Cristina Duarte, que colocava a maior dificuldade: a cultura da cesárea, predominante no sistema privado de saúde. Para quem se interessa pelo tema, recomendo ler todas as suas notas, publicadas no facebook. É um enorme apanhado de informação correta, embasada, bem escrita.

Muito importante: por mais que sejamos capazes de parir, a gravidez não é uma experiência obrigatória para toda e qualquer mulher. Há mulheres que não querem ser mães. Há mulheres que tentam e não conseguem. Há mulheres que engravidam de surpresa e não querem ter o bebê. Há mulheres que no imprevisto recebem o bebê com toda a felicidade do mundo. Há gente que se realiza como pai e mãe adotando uma criança. Da mesma forma, parir não é uma experiência absoluta e necessária para toda mulher.

Dentro de mim, eu sentia o desejo de parir. Eu quero viver isso! Não quero ser impedida de viver esse momento, de presenciar o nascimento de uma pessoa, meu/minha filhx.

ovonovo_-38O que eu fiz então? Li muito, vários livros, sites, blogs, pesquisei de todo jeito. Todo dia aprendia algo novo. Entrei em contato com pessoas que poderiam me ajudar, tirar dúvidas. Descobri que era possível meditar sobre a gravidez. Que sentir-me vulnerável poderia me dar uma força enorme. Que o parto é uma experiência da vida sexual feminina.

Mas, sobretudo, aprendi que há muitos mitos que cercam as indicações de cesárea: cordão enrolado no pescoço, falta de dilatação, bebê grande demais, bebê sentado, cesárea prévia, gravidez de gêmeos… Acompanhei e ouvi relatos de muitas mulheres que foram submetidas a cesárea por inúmeras razões, poucas delas realmente legítimas. Cesáreas salvam vidas? Sim, quando existe real indicação para isso.

Eu tive um bom pré-natal. A ginecologista compreendeu minhas escolhas. Inscrevi-me na casa de parto. O Francisco nasceu com 39 semanas, isto é, não precisei enfrentar o argumento de uma gravidez que estava “durando demais” (há gestações que duram 43 semanas, mas muitas mulheres não resistem ao apelo dos ginecologistas para dar um termo à gravidez antes disso, sob a alegação de sofrimento fetal). Comentava-se que o Francisco era pequeno demais. Nasceu com 2,5kg, super saudável. Consegui driblar o cerco de uma ginecologista de plantão (a minha estava de férias nas últimas semanas de gravidez), que quis me submeter a controles desnecessários (cardiotoco e ultrassom além do que a ginecologista havia prescrito, sem qualquer necessidade). Felizmente, vivi a experiência que quis para mim e para o Francisco. Até por isso, sinto-me como que num dever de compartilhar o que vivo, já que aprendi tanto com as experiências de outras pessoas.

Algumas mulheres, depois de uma primeira cesárea, fazem questão de viver um parto normal nas gestações seguintes. Como já falei acima, não é o caso de todas as mulheres. Mas cabe a qualquer uma delas a autonomia sobre seu próprio corpo e seus direitos reprodutivos. Relembremos que a violência obstétrica é uma dura realidade, que pode acontecer de tantas formas.

Poucos dias atrás, 1° de abril, Adelir Carmen Lemos de Goés, grávida e em trabalho de parto, foi levada à força para ser submetida a uma cesárea, contra a sua vontade. O caso está em repercussão: há posts no femmaterna, no cientista que virou mãe, em páginas no facebook como não me obrigue a fazer cesárea.

Por que o caso é tão importante? Porque privaram a mulher o direito de decidir sobre a via de parto. Impediram que o marido pudesse acompanhá-la. Argumentaram com informações sem fundamento (bebê sentado, gravidez de 42 semanas). Como veiculado pelo grupo Artemis, condicionar o direito da gestante de escolher o local de parto à eventual determinação do poder público, na prática, impede o exercício desses direitos da mulher e abrem caminho para uma interpretação equivocada de que qualquer nascimento dependeria da aprovação do Estado. A imposição da cirurgia cesariana se configura ainda VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA, a violência praticada contra a mulher no momento do parto.

Adelir, assim como eu, queria um parto normal. Ela tinha condições de parir; chegou aos 9 cm de dilatação, inclusive. Mas lhe foi tirado esse direito.

Entristeci-me muito com a experiência de Adelir, em sua terceira cesárea, indesejada. Acompanhando as notícias, os posts e a movimentação de ativistas em torno do caso, sinto alguma força: de que lutar, mesmo em pequena escala, pode valer a pena, pode mudar a nossa própria vida e de quem está ao nosso redor. De que sentir esperança é uma maneira de viver melhor cada dia.

UMA COLCHA DE QUADRADINHOS

foi um dos meus projetos no ano passado. Tinha retomado o tricô e o crochê logo que terminei o mestrado. Aproveitava qualquer tempinho livre. Procurei ajuda com uma amiga para relembrar coisas simples, alguns pontos. Pesquisando na internet, deparei-me com o nome em inglês dos quadradinhos que tanto aprecio: granny square. A partir daí foi fácil encontrar instruções de como tecer a colcha que queria. No lanas y ovillos há vídeos e diagramas explicando.

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Na 25 de março compramos lãs coloridas, seis cores e branco. Vários novelos da mesma cor, pelo menos uns 5, do mesmo lote, para não dar diferença de tons no trabalho final. Sobraram uns novelos, que usarei em outra colcha.

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Com seis cores, fiz 120 quadradinhos diferentes, cada um com uma combinação única. O branco foi usado no contorno, nas bordas e para unir os quadrados.

Devagarinho, em paralelo a outros trabalhos (fiz vários cachecóis e golas, tema de outros posts), levei de março a agosto para terminar. Testei, errei, desmanchei, refiz. Pensava muito no bebê que estava dentro de mim — para quem fiz a colcha. Hoje, ela fica perto dos brinquedos do Francisco.

Junto com o diário, a colcha ocupou o tempo da gestação e é hoje um tipo de lembrança daqueles meses. Como um presente para o futuro — ambos feitos à mão, com paciência, um pouquinho a cada dia.

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Meses atrás, fiz outra colcha, listrada, sobre a qual falarei em breve.