do Francisco merece um relato. Nas anteriores, tudo correu bem; a pediatra tinha me felicitado por amamentar em livre demanda (o que ao meu ver deveria ser regra geral, mas enfim…). Por isso, voltamos lá aos 4 meses muito tranquilos. Procedimentos de rotina: pesar, medir. Francisco ainda bem nunca teve nada a assinalar, só uns dois resfriadinhos que passaram com o tempo.
Aí ela me mostra um gráfico: curvas de crescimento. A altura está na média, mas o peso, o pontinho, aparece mais abaixo. Ela pergunta se estou amamentando: sim. — Quantas vezes por dia? — Todas as vezes em que ele pede para mamar, inclusive de madrugada. A resposta desconcerta a médica: — Mas quantas vezes? Ah, ela quer um número. Não basta eu satisfazê-lo sempre… é preciso um número para preencher o prontuário. Arrisco: — Olha, mais que oito vezes ao dia.
Ela se vira do computador — claro, a maioria dos médicos hoje em dia olha mais para o computador, para os exames, gráficos, ultrassons do que para os pacientes e seus acompanhantes — e diz que preciso começar a medir a quantidade de leite que dou a ele. Devo pesá-lo antes e depois da mamada, para ver a diferença de peso. E — tchan tchan nanan — complementar com leite artificial. Mais uma vez, o mito de que o leite materno não é suficiente para atender ao que o bebê necessita.
A minha resposta, serena e firme: — Não, não farei essas coisas. Não concordo e pretendo seguir com amamentação exclusiva até os seis meses, ou mais, até ele começar a comer.
A médica arregala os olhos, enfurece: — Mas por quê?
Ao que eu argumento que a indústria de alimentos gera uma pressão enorme em torno de médicos, mães e pais a respeito da saúde e do peso do bebê. Que toda mãe, em ambiente tranquilo, tem a capacidade de amamentar e suprir as necessidades do bebê. Pesar, controlar, apenas atrapalhariam esse momento. O Francisco está absolutamente saudável, é simpático, ri, interage, se move. Não apresenta nenhuma razão para que eu mude o que quer que seja.
A consulta termina num clima estranho, a médica contrariada. Provavelmente não esperava minha reação. Saímos de lá perguntando para nós mesmos: — Quantas mães e pais contestam o que dizem os médicos? Quantas pessoas tem confiança naquilo que fazem?
Voltando para casa, fui pesquisar sobre curvas de crescimento. As que a médica possui em seu consultório são diferentes daquelas que estão disponíveis no site da OMS.
Mas o que me salvou foi um maravilhoso texto do pediatra espanhol Carlos González, publicado nas Delícias do Dudu — vale muito a pena ler qualquer coisa que ele escreve, aliás; muita gente compartilha trechos dos livros dele pela internet, é só ir atrás. Caiu como uma luva: bebês que mamam no peito tem um crescimento diferenciado; aos 4 meses, mamam com mais velocidade. Era tudo o que estava acontecendo conosco.
Aliviada por encontrar algum tipo de apoio, mesmo que pela internet, ainda mais confiante, o que me restava era somente manter a calma, um ambiente confortável para nós, estar sempre de olho na pega, dar de mamar sempre que o Francisco pedir (ou que eu achar necessário). Isso é livre demanda, assim como o mesmo Carlos González define em outro texto seu; gosto tanto que vou me dar a liberdade de citar o trecho final aqui:
a livre demanda não é uma escravidão, mas sim uma liberação para a mãe. A maioria das vezes pode fazer o que quer o seu filho, de modo que o bebê está feliz e não chora e portanto, a mãe também está feliz e não chora. E de vez em quando pode fazer o que ela quer. A escravidão é o relógio.
Temos aprendido muito com o Francisco o quanto somos apegados a controlar o tempo, medir, prever… — escrevi inclusive um post sobre isso. O importante, em meio a tanta informação ao nosso redor, é escutar nosso coração, entrar em sintonia com ele.
Ainda continuo sobre o tema. Comecei já no post anterior, sobre as dificuldades que rondam a amamentação, a partir de casos que conhecemos. A seguir, pretendo falar das minhas dificuldades em particular.