foram muito bons, principalmente pelo fato de que pude me concentrar no Francisco, dormir bastante e com toda a calma começar a amamentar, afastada dos afazeres de todo dia. Ao contrário de um hospital/maternidade, nós três, Francisco, Marco e eu, dormimos juntos, na mesma cama aliás.
Como o nome já indica, estávamos em uma casa, sob a gestão de parteiras. A comida era feita ali, alguns dos vegetais vinham da horta. Fazíamos as refeições juntos, todas as mulheres que tinham parido nos últimos dias, os maridos, alguns dos filhos inclusive. Do quarto era possível escutar os choros dos outros bebês, e mesmo os gritos das mulheres em trabalho de parto. Era, por isso, um lugar de convivência, sem a privacidade e impessoalidade que predomina em um hospital, mais amplos — com mais pacientes — e com mais trocas de turno de funcionários. Lembrava sempre de um trecho do relato de parto de Laura Gutman, em seu livro A maternidade e o encontro com a própria sombra; ela, ao presenciar o parto de outra mulher, conseguiu dar andamento ao seu próprio.
No primeiro dia, logo depois do parto nós dormimos e assim que o Francisco acordou uma das parteiras veio me instruir sobre como dar de mamar. Elas se preocupavam com o peso dele, temiam que ele perdesse ainda alguns gramas. Não só por isso, mas para manter o vínculo, deixava o Francisco quase o tempo todo no seio, dando uma pausa para comer ou dormir (esqueci de levar o sling dentro da mala…) . Ofereceram um tipo de vitamina que “reforçaria” o leite: eu deveria dar uma mamadeira a ele com essa vitamina depois do leite.
— O quê? Mamadeira? Não, eu não quero dar mamadeira pro meu filho. Ele vai confundir os bicos e deixar de mamar no meu peito.
— Isso não existe, confusão de bicos é psicológico.
Confusão de bicos não é psicológico — mamadeira desestimula a amamentação, de um jeito ou de outro. Outro problema grave é o mito de que o leite materno não é suficiente para o bebê. Eu, sem querer argumentar muito, recusei. Já não era a primeira vez que eu recusava algo (é só lembrar do remédio pra dormir no começo do trabalho de parto). Também recusei gentilmente o “presentinho” que dão a todo bebê: uma chupeta, amarrada num cordãozinho com o nome dele. Arrumei uma tesoura, deixei a chupeta e levei o cordão pra casa, porque era fofinho. Mas como podem presentear algo que comprovadamente causa problemas de todo tipo na criança? Numa tacada, fomos confrontados com vários dos fatores que afetam a amamentação…
O leite desceu entre o segundo e o terceiro dia. O cocô já não era mais o mecônio escuro, mas aquela clássica pastinha amarela, uhu! sinal de que estava correndo tudo bem. A pediatra examinou-o no segundo dia — foi o único contato com um médico naqueles dias lá. No terceiro, uma enfermeira me deu muitas dicas para cuidar dos seios, que já estavam super carregados: folhas de repolho branco geladas dentro do sutiã, chá de sálvia para limpar e desinfetar naturalmente os mamilos; além de massagem, repouso e seios ao ar livre sempre que possível.
Lá o Francisco tomou banho naquele maravilhoso balde, no terceiro dia. Fiquei maravilhada! Ele parecia flutuar lá dentro… — Quero dar banho nesse balde em casa também! Logo que voltamos para casa, o Marco foi correndo comprar um balde. Banho de balde é tudo de bom.
Balanço: dentre as opções que tínhamos, a cada de parto foi a melhor de todas. Gostamos muito de podermos ficar o tempo todo juntos, num quarto só, dormindo, escutando música, recebendo as visitas. E junto também de outras mães e bebês, vivendo experiências próximas. Mas isso não quer dizer que seja perfeita. Desagrada o fato de terem recomendado mamadeira e chupeta. Coube a mim, é claro, nos defender e recusar. Mas fico pensando em quantas mães aceitam, por falta de informação, e como isso pode interferir negativamente na amamentação e em todo o vínculo entre mãe e bebê.
A questão é, independente de como ou onde é possível parir, o importante é ter-se informado muito bem, previamente, sobre os procedimentos de rotina do lugar (havíamos feito duas visitas à casa antes do parto). E, mais do que isso, ter muito firmes seus princípios. Quer realmente um parto normal? Quer realmente amamentar em livre demanda? Então informe-se e mantenha-se firme, recuse o que vai contra o que pensa e defende. O pós-parto é um momento muito delicado, em que muitas escolhas e convicções importantes podem ser deixadas de lado mais facilmente do que se imagina…