A FACULDADE, EM 2007

estava em greve. Era julho, eu tinha a tarde livre antes de ir trabalhar. Resolvi tirar umas fotos do prédio da Letras, praticamente vazio. Hoje revejo as fotos, enquanto estava escrevendo um novo post sobre a rua Paim.

DSCN2900a

DSCN2904a

DSCN2905a

DSCN2918a

DSCN2924a

DSCN2929a

DSCN2913a

Alguma semelhança percorre a série de fotos das demolições da Paim e as instalações precárias da faculdade: são registros de um momento de transição, pouco antes de reformas, ampliações, construções. São parte de um cotidiano passado — o tempo em que passava todo dia pelas mesmas ruas, pelos mesmos corredores.

A MATERNIDADE E O ENCONTRO COM A PRÓPRIA SOMBRA, DE LAURA GUTMAN

é outro dos livros interessantes que descobri durante a gravidez. Estava lendo um relato de amamentação e lá encontrei a referência a ele. Fui atrás, encomendei, comecei logo a ler. Depois disso, em vários blogs, sites, relatos que eu acompanhava, via a mesma indicação de leitura.

Laura Gutman é uma best-seller. Tem um instituto em Buenos Aires, onde orienta famílias; muitos livros publicados; dá palestras, entrevistas. Em razão do sucesso de A martenidade…, ano passado, dois outros livros seus ganharam tradução para o português.

O livro parte de uma ideia muito elementar: a de que mãe e bebê vivem, nos primeiros momentos, uma relação fusional. O bebê vive no interior do corpo de sua mãe, durante a gestação. Mas, mesmo ao nascer, separado daquele corpo, a fusão ainda se mantém — falar de mãe ou de bebê é falar dos dois ao mesmo tempo.

Essa dimensão fusional é tratada em diversos escritos. Até mesmo em Shantala: a massagem conduz mãe e bebê a se descobrirem.

O bebê tem a capacidade de revelar à mãe sua sombra, ou seja, tudo aquilo que ela rejeita ou renega a respeito de si mesma. O pós-parto seria o momento-chave, durante o qual a mãe entra em contato com sentimentos contraditórios, inesperados.

Cabe à mãe colher a oportunidade de encontrar com sua própria sombra. Mas como a sombra dá medo — é obscura, misteriosa, pesada — muitas mães evitam esse processo de autodescoberta. Deixam a cargo da criança manifestar a sombra, das maneiras mais diversas: problemas na amamentação, doenças, desvios de comportamento, por aí vai… Em suma, qualquer interferência na relação fusional vai se manifestar, muito provavelmente, por meio do bebê.

Por esse ponto de vista, a autora comenta uma série de situações da maternidade: a gravidez, o parto, o papel do pai, a amamentação, a vida sexual, o sono, o nascimento de um segundo filho, a escola, o retorno à vida profissional…

ovonovo_-33

 

Outro ponto que me chamou muito a atenção durante a leitura: o bebê que temos nos braços se vincula ao bebê que também somos. Isso me encantou: acompanhar o Francisco me faz rever e renovar a criança que sou eu, que eu fui. Minha descoberta do papel de mãe envolve questionar como eu vivi minha infância, relembrar situações, buscar novos meios de me relacionar com o mundo.

Gutman também trata das doenças como manifestação da sombra — como uma mensagem que enviamos a nós mesmos. A mudança de alimentação pela qual estou passando faz parte desse meu esforço em entender melhor meu corpo e minhas necessidades (escrevi sobre isso aqui e aqui). Já me perguntei se a água que bebia em exagero não era algo que eu escondia de mim mesma.

Minha intenção neste post não é resumir o livro, até porque um post não dá conta disso, dada a variedade de temas que ela aborda. Escrevendo como fiz nos parágrafos acima, o livro pode parecer confuso, hermético. E não é. A escrita de Gutman é bem simples, sensível. Ela ilustra suas ideias com casos de mães, pais e filhos que ela atendeu em sua longa experiência como psicóloga.

O livro se dirige não somente a gestantes, mas a mães e pais de bebês, crianças pequenas, até mesmo adolescentes. Desde a gravidez, já o reli em vários momentos, discutindo sempre com o Marco.

Para finalizar, aponto dois aspectos que faltam ao livro. Primeiro: sinto falta de relatos autobiográficos. Gutman é mãe: como ela viveu sua autodescoberta? Ela se limita a descrever seus partos. Por que não fala mais sobre si? Segundo: em poucos momentos ela traz a referência às ideias que apresenta: Jung e Rüdiger Dahlke são alguns deles. Winicott parece ser um autor que a inspira mas ela não o cita. De qualquer maneira, o tema me interessa tanto que estou começando a ir atrás dessas leituras relacionadas. Assunto para outros posts…

A RUA PAIM, QUATRO ANOS ATRÁS

estava pintada com as cores da bandeira; afinal, faltava pouco para começar a Copa da África do Sul. A vizinhança se reuniu e pintou o asfalto, postes, fachadas, a beira da calçada.

Mas essa não era a única mudança pela qual a rua estava passando. Algumas das casas antigas começavam a ser demolidas. Nos terrenos vazios, cartazes de novos empreendimentos se levantavam.

Uma das fotos que mais gosto é essa: a pintura no chão, o carro velho estacionado, o muro preto que esconde o terreno já vazio. Mais uma linda e histórica casa de São Paulo demolida. A árvore também se foi, tempos depois. O carro também deve ter tido um destino semelhante.

A rua Paim é conhecida por sua má fama: seus treme-tremes, o tráfico de drogas, a população simples que vive em casas coletivas. É uma ligação importante, entre a Nove de Julho e a Frei Caneca, Augusta. A poucos quilômetros do centro e da Paulista, era de se esperar que ela fosse alvo do mercado imobiliário, cedo ou tarde. Esse processo de “revitalização” foi comentado na tevê, em revista — em tom otimista.

A RUA PAIM é um dos meus posts mais lidos e comentados do blog (e teve sequências, inclusive um sonho, em posts reunidos sob a tag “rua paim”). Escrevo em tom diverso das reportagens. Como (antiga) moradora da região, durante mais de dez anos, observo essas mudanças com uma certa tristeza.

Isso porque “os paulistanos querem morar” numa rua onde já moram paulistanos — de baixa renda… As casinhas, o comércio de todo tipo, deram lugar a altos prédios, com suas janelas e varandas minúsculas, suas portarias gradeadas, suas calçadas estreitas.

Várias das pessoas que comentaram, muitas vezes raivosas, nos posts que escrevi sobre a rua, comemoram a mudança. Pediam a “limpeza” da rua, a expulsão de seus moradores, como se pede a execução de um condenado…

O Google Street View, até a data em que escrevo este post, não mostra a rua Paim renovada. A data de sua última atualização é janeiro de 2011. Daqui uns meses escrevo um novo post sobre a rua.

OS ÚLTIMOS MESES DE GESTAÇÃO

foram tranquilos. A barriga foi aumentando de tamanho, pontuda. Por isso muitos dos palpites que circulavam entre nós era de que ali dentro tinha um menino. Além disso, as pessoas começaram a perguntar: — E aí, quando nasce? Reagia com muita calma. Há aquela pressão das 40 semanas, que não passam de uma estimativa para a duração da gravidez. Bebês saudáveis nascem antes ou mesmo depois dessa data, até em 42 semanas.

Desde junho, pelo ultrassom, vimos que x bebê já estava com a cabeça para baixo. Dava chutes fortes, principalmente quando eu estava deitada. Aliás, se no segundo trimestre me mexi pra caramba, esses meses finais voltou aquela vontade de deitar e dormir.

Mas e a dificuldade para dormir confortável com o barrigão? Deitar de costas, muito difícil. De lado era melhor. Mesmo assim, era preciso mudar de lado, esquerdo ou direito, frequentemente. De madrugada, vinha a fome e a vontade de fazer xixi. Em suma, o sono era picado, fragmentado. Entre 3 e 5 de manhã, muitas vezes estava lá eu acordada, pensando na vida. Pensando em todas as mudanças que a chegada dx bebê estava fazendo em nossas vidas.

ovonovo_-18

Sobre mudanças, foi só nesses meses finais que começamos realmente a nos equipar. Com o mínimo necessário: um berço, seminovo, que logo depois abandonamos (o Francisco dorme conosco na cama) e uma nova cômoda para as roupas. Já tinha alguns presentes e roupas usadas de amigos. Já tinha comprado também os slings. Organizei-me e fui comprar mais algumas roupinhas que faltavam para as primeiras semanas, aproveitando uma liquidação.

As aulas de ioga acabaram quando eu estava no fim do oitavo mês. Depois disso, fazia em casa, sozinha, alguns movimentos. Lia e relia Parto ativo. Assistia mil e um vídeos de parto. Acompanhava também relatos, de todos os tipos de experiência.

Concentrei-me bastante em informações sobre parto. Se pudesse mudar algo, teria ido atrás de mais conhecimento a respeito da amamentação. Pesquisei razoavelmente, mas muita coisa aprendi nas primeiras mamadas. Repensando hoje, até teria feito algum curso de amamentação antes de parir.

Estrias bem fortes apareceram. Desde o começo da gravidez passava óleo na barriga, mesmo assim ela cresceu tanto no final que a pele não resistiu. Isso varia de mulher pra mulher; eu tenho propensão a estrias, já esperava por elas… aos poucos estão apagando. De qualquer maneira, é interessante ver as estrias como uma recordação daquele momento da minha vida.

Os pés incharam pouco, mais nos dias de calor. Acredito que tomar suplemento de magnésio tenha ajudado. Além dele, também tomava outro multivitaminas específico para gestação e pós-parto.

Por volta das 32 semanas começamos a massagem perineal, quase diariamente. Valeu muito a pena, não tive nenhuma laceração na passagem do Francisco. Recomendo a toda gestante fazer a massagem, sozinha ou com ajuda dx parceirx.

Gostava de passear. Andava a passos curtos, por causa da barriga, que ia chamando cada vez mais atenção. É um tempo para curtir, porque passa rápido e já me dá saudades: sentir as mexidas lá dentro, o corpo diferente e bonito. Ah, sim, eu me sentia bonita demais!

barrigaoArrematei os quadradinhos da colcha de crochê bem no finalzinho. E o diário, trabalhei nele até o último dia de gestante! Por coincidência, também tirei fotos da barrigona menos de 24 horas antes do nascimento do Francisco.

As parteiras já tinham avisado para colocar um plástico cobrindo o colchão, para o caso de a bolsa estourar de madrugada. Dito e feito! Era por volta de 3h da manhã quando senti um ploc! e a água escorrendo. Sobre isso, já escrevi no relato de parto

BLW: BABY-LED WEANING

é uma expressão em inglês que muitas vezes traduzem como “desmame guiado pelo bebê”. Eu prefiro dizer que se trata de um método de introdução alimentar guiado pelo bebê — visto que o termo “desamame” pode dar a impressão que o leite materno está sendo suprimido da alimentação do bebê. Há pessoas também que interpretam o desmame como um longo processo, a partir do qual o leite materno deixa de ser a única fonte de alimento do bebê, até o momento em que ocorre o desmame total. Questão de ponto de vista…

Independente de como se pode traduzir, o BLW tem se tornado mais popular, nos últimos tempos. O termo foi cunhado por Gill Rapley, agente de saúde britânica. Ela percebeu, durante seu trabalho já uns 30 anos atrás, que muitos bebês tinham dificuldade para começar a comer com colher. Rejeitavam as papinhas que lhes eram oferecidas.

Pelo BLW, o próprio bebê conduz sua refeição. Ele pega os alimentos com suas mãozinhas e os leva à boca. Mais simples e elementar do que isso, impossível. De maneira intuitiva, descobre os primeiros alimentos, saboreia, rejeita, se lambuza… tudo de acordo com sua própria vontade e interesse.

Muitos bebês vão ficando curiosos com a alimentação dos pais e da família, quando se sentam à mesa, já por volta dos 4 meses. De toda forma, o que se recomenda é manter os seis meses de amamentação exclusiva. Mesmo depois disso, o leite materno se mantém como a principal fonte de alimento até um ano.

Quando o Francisco completou os seis meses, compramos uma cadeirinha, mas montamos sem aquela bandeja que vem na maior parte dos modelos. Assim, o Francisco come à mesa, como nós, sem distância. Até agora, ele provou frutas e legumes. Tudo cozido em casa, nada de papinha industrializada nem comida pronta de supermercado. Tempero pouco, orégano, manjeiricão, alecrim, azeite. Colocamos em pratinhos de plástico. Come-se junto conosco, no café da manhã, nos lanches, no almoço, na janta. Não me preocupo se ele está dormindo e perde alguma dessas refeições.

image

É natural que haja, sobretudo, bagunça. Muitos pedaços de comida pela cozinha toda. Preciso sempre dar uma limpada no chão quando terminamos de comer. Roupas manchadas de comida, idem. O Francisco já tem várias camisetas e bodies com marcas de banana, manga, beterraba, coisas do tipo. Às vezes usa babador, mas tem momentos que ele mesmo o tira! Quando não quer comer mais, brinca com pratos e colheres.

Nesses primeiros meses, tenho visto que o Francisco tem tido cada vez mais interesse pelo que comemos. Gostou praticamente de tudo o que lhe foi oferecido. Frutas ácidas ainda evitamos, por conta das assaduras. De resto, ainda preciso aprender muito a me planejar e cozinhar, poder variar o cardápio, incrementar de maneira saudável sem apelar para industrializados, molhos com muito sal ou açúcar, etc. etc.

Tenho me informado muito pela internet, em sites, blogs e grupos de discussão. Gosto muito desse texto aqui: ressalta que comer é uma atividade sensorial e um momento em família. O blog todo, aliás, é muito inspirador.

Visito também a página oficial do BLW, que traz inclusive algumas receitas. Comprei também o livro de receitas delas, mas sinceramente não me agrada que tantas delas contenham farinha de trigo… Estou pesquisando alternativas, como farinha de arroz, por exemplo.

Além disso, acho legal recomendar esse blog de uma mãe falando sobre BLW e seus dois textos “teóricos”: 1 e 2. Essa outra blogueira também traduziu algumas diretrizes para o BLW, muito boas.

Para finalizar, um texto que não fala diretamente sobre BLW, mas tem muito a ver com o assunto: existe alimento infantil? A resposta é bem simples: salvo o leite materno, não existe “alimento para criança”! Infelizmente somos levados a acreditar que o melhor para os bebês são as comidinhas pré-fabricadas, com seus rótulos gentis e que escondem tanta porcaria. Continuo num próximo post…

O SEGUNDO TRIMESTRE DE GESTAÇÃO

é conhecido como a “lua-de-mel”. No meu caso, foi assim. Depois de passado o período inicial de muito cansaço e enjoo, tudo se renovou! Tinha energia para pesquisar, ler muito, caminhar. A barriga demorou pra crescer, foi aparecendo aos poucos. Precisei novamente comprar sutiãs e umas poucas peças de roupa.

A seção de gestantes das lojas tem quase sempre umas roupas que eu não via muita graça. Adaptei: comprei umas saias e camisetas de tamanho maior, do vestuário normal. De gestante mesmo só duas leggings e uma calça. Nada mais. Foi o suficiente. Boa parte das minhas camisetas e vestidos me serviam, mesmo que mais curtas por conta da barriga.

image

Algumas das atividades desse trimestre:

– comecei a colcha de crochê; fazia ouvindo música, acompanhando o noticiário, conversando

– o diário de gravidez

– as aulas de ioga para gestantes, super importantes pra relaxar e descobrir posturas para o parto

– leituras como aquelas que eu indico nesse post

– escrevi uma resenha e enviei dois artigos pra revistas acadêmicas

– viagens, sozinha, com os amigos e com a família; a última eu fiz no limiar dos sete meses, de avião; correu tudo bem, valeu a pena!

Cada gestante vive essa experiência a seu modo. No meu caso, sentia-me feliz em derrubar o clichê de mulher grávida como frágil, doente. Gostei muito de viver esse momento de transição fazendo tantas coisas variadas. Mas passado esse trimestre, voltei à tranquilidade, nos meses finais da gestação. Sobre isso, falo em breve!

PARTO ATIVO, DE JANET BALASKAS

foi uma leitura muito importante durante a minha gestação. Ajudou a entender o mecanismo do parto, a estrutura do corpo feminino e os movimentos que eu poderia praticar como preparação para a passagem do bebê.

Balaskas parte de uma premissa muito simples: a mulher, durante o trabalho de parto, deve sentir-se livre, movimentar o corpo como sentir melhor.

image

A imagem padrão de um parto é a mulher deitada, sofrendo e rodeada de pessoas ajudando. Pois justamente essa é a postura menos adequada para a saída do bebê. Pensei numa comparação: tente beber um copo de água deitado de lado. É mais fácil beber quando se levanta, ao menos com a cabeça mais elevada, não? Isso porque a água precisa descer pela garganta…

Por experiência própria, os momentos mais difíceis do parto foram as contrações que senti deitada. Pensava que deveria dormir, mas o intervalo entre as contrações era bem curto; impossível dormir nesse caso. Quando me levantei, me mexi, caminhei pela casa, abracei e beijei o Marco, gritei, me coloquei de cócoras — enfim, quando estava ativa — tudo foi diferente; mais solto e, quem sabe até por isso mesmo, mais rápido.

Devo essa liberdade às leituras que fiz, aos vídeos de parto e às aulas de ioga. Caso contrário talvez estivesse presa à imagem da mulher deitada que espera o filho nascer.

O livro traz inúmeras fotos e imagens, tudo muito explicado, de maneira bem simples. Lembro que folheava-o junto com o Marco, no fim da gravidez, imaginando feliz como seria o parto.

Tenho boas recordações dessa leitura e só posso sentir-me muito grata que ele tenha feito parte da minha experiência. Resta, por isso, recomendá-lo sempre que posso!

OS PRIMEIROS TRÊS MESES GRÁVIDA

eu passei cansada, dormindo e com enjoo — pouco além disso!

O cansaço era tanto que não conseguia caminhar até a esquina. Algo muito forte! Larguei um freela, deixei de lado uma aulas que estava fazendo, ficava em casa o tempo todo. Vi alguns filmes, mas a atividade principal era dormir.
image

Tinha uns sonhos bem diferentes — pesadelos inclusive… Lembro de um sonho fofo: bebê vestidx de vermelho que falava tudo no diminutivo: engraçadinho, bonitinho, espertinho…

Acordada, o que tomava conta era o enjoo. Todos os odores me rodeavam. Era uma aventura sensorial! Sentia o cheiro das coisas mais distantes. Enjoei do sabonete que eu estava usando. As comidas também tinham outro gosto. A sensação estranha me fez até perder uns quilos…

Diziam que gengibre ajudava; tomava no chá. Mas no fim das contas não segui muitas receitas; fui levando.

Durante mais ou menos um mês, essa situação era bem intensa. Foi se dissipando na passagem pro quarto mês, quando voltou a energia… sobre esse momento, faço outro post.

EU NÃO SEI COMER

acho que nunca soube; quando me dei conta disso, anos atrás, veio logo um pensamento: e se não precisássemos nos alimentar para viver? seria mais fácil?

Parecia que tudo o que eu comia não era bom; que escolher e entender sobre alimentação eram coisas bastante difíceis. Eu entendia que comer bem era fundamental para uma boa saúde. Revendo minha história, buscava um caminho que valesse a pena seguir.

Fui aquela criança que não comia “nada”. Magrinha e muitas vezes doente, lembro que gostava de arroz, gema mole com pão, banana e doces. Até colheradas de açúcar puro eu comia. No pré, uma “tia” me enfiava goela abaixo ovo cozido e feijão na hora do almoço. Talvez nunca me esqueça do quão desagradável era ser pressionada a engolir duas coisas que até hoje eu não gosto de comer.

Minha mãe se preocupava, tentou várias coisas: comprou uma centrífuga para fazer suco de cenoura. O bagaço engrossava o molho de tomate. Também colocava água de beterraba na gelatina.

Massas, pão, bolacha, gemada, esfiha, sorvete… era pra isso que eu dava atenção. Era bem gordinha entre 8 e 14 anos. Depois fui emagrecendo naturalmente: tomei gosto por caminhar, quando comecei a trabalhar aos 15 perdi mais uns quilos.

Por conta própria, nessa época, deixei de lado refrigerantes e embutidos. Percebia que faziam mal.

image

Passei por oscilações de peso, mesmo que sutis. Atividade física? A partir dos 20 anos, fiz de tudo um pouco: hidroginástica, ioga, tênis, boxe, academia, dança, curves, kung fu… mas nada além de seis meses. A prioridade foi sempre trabalhar e estudar. O corpo e a saúde ficavam em segundo plano.

Engordava e emagrecia sem muito controle. Os doces, como sempre, eram muito presentes, mesmo que eu tentasse incluir alimentos saudáveis. Cereais, biscoitos integrais, ovomaltine, yakult e leites de soja me ludibriavam: ué, não fazem bem à saúde? — pois é, como essas comidinhas cheias de açúcar nos enganam…

Um outro elemento entra com força: cafeína. Expresso, capuccino ou chá mate — com algum doce por perto — faziam a dor de cabeça ir embora e davam energia pra enfrentar as aulas.

Doentinha quando criança, tinha rinite, amídalas inflamadas, pneumonia, sinusite… tudo tratado com antibiótico, xarope, rinosoro. Resultado: sistema imunológico bem fraco. Depois dos 20, vieram enxaqueca, gastrite, alergias de pele, acne, varizes, micose, bruxismo… Foi quando me enchi dos consultórios tradicionais e procurei acupuntura, iridologia, homeopatia. Parei com carne, salvo peixe. Mas ainda tinha tanto a melhorar. Eu procurava, procurava…

A história é longa. Por ora, com a gravidez e a vida com o Francisco, a minha afinidade com as terapias alternativas só aumenta — porque buscam ver o indivíduo por completo, dão mais valor ao processo do que ao resultado, promovem mudanças de atitude.

Além disso, não quero que o Francisco viva o que eu vivi. Que a minha experiência sirva de aprendizado para mim mesma como mãe, ao menos para guiá-lo em seus primeiros passos.

Por fim, ainda não sei comer; mas que eu possa sempre aprender a comer melhor.