O QUE É OVONOVO?

ovonovo

O ovo é seu próprio ninho

ele próprio morador e casa

pilotis e teto de si mesmo

habitante e arquiteto.

Eucanaã Ferraz.

A imagem do ovo acompanha minha imaginação, desenhos e escritos faz algum tempo. O texto abaixo, escrito entre 2003 e 2006, trouxe com força essa imagem. Foi a partir dele que me surgiu a palavra ovonovo.

Algo lá dentro já se mexeu. Casca quebra. É todo um ovo, um círculo subversivo. Voltas e voltas, mudanças de percurso. Vamos mexer as coisas por aqui. Fazer omelete um pouquinho. Ovo. Ame-o ou deixe-o. Ovo é uma longa história. Tem muita coisa dentro do ovo, por mais que seja bem apertadinho lá dentro. E como todo ovo, ele ficou chocando por um tempinho. A verdade do todo está no ovo porque não precisa ser verdadeiro.

Não gosto de ovos cozidos, fritos, mexidos, só na torta, na salada, no pastel. O ovo pra mim é ingrediente de bolo e prazer estético.

***

Quero.

Quero algo novo. Um ovo. Um começo de novo, já pronto.

Mesmo que seja o velho novo, o novo já conhecido, de novo. O novo que já espero há um tempo. Uma vontade de novo vindo, ou mesmo bem-vindo. Novo como um presente, como um futuro bem passado. Bolo recém-assado. Vaso úmido de barro. Musgo verdadeiro, verde.

Um bonito algo novo, de rir e chorar, de não controlar, agir, de simplesmente ir sem pensar. De não saber mas se fechar os olhos e se deixar, de se levar para onde for, porque é novo e já se sabe como é mesmo antes de acontecer.

Um novo, uma nova. Lua cheia. Janela aberta. Tirar foto para ver depois de anos, colar no álbum da memória. Postal por baixo da porta. Livro, desenho, tirar o plástico, escutar vinil, morder o dedo, pentear cabelo, cantar baixinho.

Uma surpresa, um de repente, um rápido e instantâneo como chocolate gelado. Algo que esteja na pele, na boca, crescente na ponta da orelha. Interessante como sorvete que acaba rápido. Para correr atrás do elefante. Como vento bom, sob doses generosas de sol gentil, mãos dadas, fundo céu anil. Castanhas, tâmaras, nozes e gergelim. Só isso, e bem assim.

Noite fechada. Uma escapada, um quase-quase nada, mas que seja suficiente. Que encha de vazio, satisfaça, refaça os nós. Nós.

Para deixar de ser novo, então? Talvez não.

Quando for novo, apareça.