que da poesia, e o que me atraiu ao livro de Nathalie Quintane, Começo (Début), publicado em 2004 pela 7letras e Cosac&Naify, foi o sub-título entre colchetes:
[autobiografia]
Je m’appelle encore Nathalie Quintane. Je n’ai pas changé de date de naissance. J’habite toujours au même endroit.
Je suis peu nombreuse mais je suis décidée.Eu ainda me chamo Nathalie Quintane. Não mudei de data de nascimento. Ainda moro no mesmo lugar. Sou pouco numerosa mas sou decidida.
Assim ela se apresenta no site do seu editor, onde ela mantém uma produção considerável, regular e constante. Além das publicações, Nathalie faz leituras públicas e vídeos de seus poemas.
Autobiografias em poemas como Começo, que se assumem como tal, são menos comuns, mas existem. Nesse caso, Nathalie página a página, com poemas em prosa e com a dicção da prosa, recupera momentos e objetos da infância, adolescência, até um fecho pouco positivo, “a entrada no mercado de trabalho”.
Acho que se pode ver os poemas de Começo como um todo, ou pelas seções que dividem o livro e ficam cada vez menos marcantes, ou separadamente.
Prefiro considerá-los pelas seções, deixar algumas dessas seções de lado, e dizer que as que mais apreciei foram as iniciais. Talvez as menos autobiográficas, uma vez que elas discorrem sobre fatos corporais, as sensações destacadas da inércia rotineira. Me lembrou Amélie Nothomb e sua vida de bebê-cano, que ela narra em Metafísica dos tubos.
Um trecho:
Começo 4Porque não nasci com uma colher na boca, é preciso a cada vez que ela chegue de fora.
(…)Porque o meu nariz não cresceu para dentro, é o fora que eu respiro.
(…)Porque os meus ossos estão ligados por nervos e por músculos, sou feita de uma só peça.
(…)Só de botar o dedo na água, sente-se bem que não é assim tão natural que ele esteja normalmente no ar.
Desnecessário dizer o seu nome corretamente para saber que é este aí.
A constante descoberta do corpo como movimentos e possibilidades me pareceu um traço da poesia de Nathalie. Falo isso também por conta do vídeo a seguir:
O blog da revista Modo de usar fala melhor que eu sobre a autora e apresenta outro trabalho em áudio. Tudo devidamente traduzido para o português. Legal saber que eles são da livraria Beringela, um lugar muito bacana que visitei lá no Rio.