são os assuntos mais comentados quando se tem um recém-nascido por perto. É receber uma visita ou encontrar alguém na rua e ouvir: “E aí, ele dorme bem? Dorme de madrugada? A noite toda? Chora muito?”
Admito que eu mesma já recorri a perguntas como essa. A gente nem sabe por que entra nesse tipo de conversa com mães e pais; por simples costume, quem sabe. Imaginamos que os primeiros meses de um bebê são marcados por dificuldade, por noites em claro e choros inexplicáveis.
Grávida, ouvia muito outro tipo de conversa, aquela coisa meio ameaçadora: “Você vai ver o que é dormir pouquíssimo, com um bebê que não para de chorar”. Estranho isso, perceber x bebê como algo que vai incomodar. Eu já vivi muitas noites em claro, seja estudando, preparando aulas ou até no bar conversando com amigxs ou na balada. Seria tão ruim passar a madrugada acordada com um/a bebê? “O bebê faz manha, não faça todas as vontades dele, deixa chorar, não pega muito no colo senão acostuma…” Esse papo também me deixava desconfiada. Além do mais, me partia o coração ao ver alguém deixar seu/sua filhx chorar no berço ou no carrinho. Se está chorando é porque precisa de algo, não?
Fui então ler a respeito. Felizmente encontrei boas leituras, como a Laura Gutman e o Carlos González; eles deram o outro lado de toda essa história de choros, manhas e noites em claro. Também me deparei com algumas técnicas, métodos para acalmar ou fazer dormir x filhote. Até achei interessante a ideia do dr. Karp, dos cueiros, o ruído branco — de simular o ambiente uterino. Mesmo assim eu testei pouquíssimo essas ideias. Preferi a fusão emocional e a necessidade de contato físico de que falam Gutman e González.
“E aí, o Francisco dorme bem de noite?” Sim. Ele dorme junto conosco. Adormece quase sempre no peito ou embalado por alguma música. Dormir a noite toda é um mito. Bebês tem estômago pequeno e sentem fome de madrugada. Sempre dou peito quando ele precisa. O leite artificial é mais difícil de digerir, por isso alguns bebês dormem pesado por longas horas. Mas esse não é o nosso caso. É ruim criar essa expectativa do sono contínuo logo no primeiro ano de vida. É preciso aprender a dormir. E bebês podem aprender de várias maneiras….
“Mas o Francisco chora pouco, né?” Eu digo que ele chora quando precisa chorar. Em boa parte dos casos, e principalmente nos primeiros meses, o choro é um recurso extremo de comunicação. Se está chorando é porque antes tentou comunicar algo, por gestos, sons ou feições do rosto, que algo não está bom — mas não foi atendido. Pode ser fome, fralda suja, pessoa estranha, cansaço, tédio, tantas outras coisas.
E o que viria a ser a tal manha? Necessidade de contato, afeto, proteção?
Falando de choros que são interpretados como manha, um amigo contou uma história de sua infância — da qual ele não se lembra mas lhe contaram. Quando tinha uns dois anos de idade, e a irmã mais nova era bebezinha, ele começou a chorar muito. Pensaram logo que era manha, ciúmes. O choro continuou, levaram o menino ao médico. Saíram de lá com o mesmo diagnóstico. Dias depois, como o choro persistia, voltaram ao hospital: era apendicite o problema. Se tivessem esperado mais tempo, seria tarde demais. Por que se ignora o fato de que o choro sinaliza algum problema que deve ser levado a sério?
A gente buscou desde o início afinar a comunicação com o Francisco. Talvez por isso chore pouco — porque levamos qualquer resmungo, gesto agitado ou gritinho em consideração. Sei que há diversos tipos de temperamento, experiências as mais variadas. O tema é muito vasto. Vale ler o texto sobre choros no blog da cientista que virou mãe, um dos melhores a respeito. A síndrome dos pais sortudos, igualmente. E esse texto do Carlos sobre cólicas também.
Uptade: esses oito fatos são igualmente importantes!
Acima de tudo, fazer o esforço de observar o mundo pelos olhos dx bebê faz com que tudo mude de perspectiva.