eu tinha horário para chegar e para sair; não podia chegar depois, nem sair antes; mas muitas vezes chegava antes e saía depois, muito depois. Ia de sábado por escrúpulo: muito trabalho acumulado. Contava horas extras no fim do mês. Cultivava a rotina: ir ao mesmo supermercado, comprar o mesmo pacote de bolachas integrais; fazer as mesmas piadas com os colegas; rir e se exasperar com as mesmas mensagens do chefe; levar para ele a mesma caneca de café; ir à mesma livraria na hora do almoço. Algumas variações: às vezes um restaurante, almoço de negócios, eu, a assistente, mocinha estranha que se veste com a calça do pai. Um diretor de outra empresa, no telefone, me cantava ‘ô Anna Julia!…’. Toda sexta baião de dois e suco de limão na casa do norte, antes de escolher uma pilha de filmes para assistir em casa.
e como as coisas que não existem mais, as bolachas integrais não são mais fabricadas.
se não for vida besta (eta, vida besta!), se chamará rotina mesmo.